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Entrevista

Omelete entrevista: Caco Galhardo

Omelete entrevista: Caco Galhardo

07.11.2001, às 01H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 03H09

Adão e Eva são expulsos do Paraíso e começam a fazer planos sobre como gastar o fundo de garantia. Yoda diz “sinto um grande axé em você, Luke” na versão brasileira de Guerra nas estrelas. Sidney, o estagiário eficiente, diz que nunca usou a Internet da empresa para entrar em sites eróticos. E Galvão Bueno é metamorfoseado em Robert Crumb.

Caco Galhardo tem aquela percepção de quem sabe captar as pequenas incongruências e ironias do cotidiano e transformá-las em uma crítica social cheia de sarcasmo e bom humor. Essa habilidade foi o que gerou Os pescoçudos, tira publicada há quatro anos na Folha de São Paulo que serve de espaço para o autor colocar suas dúvidas sobre nosso dia-a-dia surreal. E que agora vira livro na coletânea Diga-me com que carro andas que te direi quem és, editado pela Via Lettera.

O paulistano Caco nasceu Antonio Carlos Galhardo há 33 anos. Formou-se em Comunicação pela FAAP na década de 80, mesma época em que começou a publicar quadrinhos em fanzines. De 1993 a 1997, foi o redator das memoráveis campanhas de cidadania, prevenção à AIDS e anti-violência enquanto trabalhava na MTV. Hoje, é membro do Sindicato, um grupo de artistas gráficos e videomakers que dividem uma casa no Sumaré (São Paulo) a fim de desenvolverem seus trabalhos individuais.

Na entrevista, o autor fala um pouco de seus vários projetos (que vão bem além dos quadrinhos), de Diga-me com que carro andas que te direi quem és, e dos planos para o futuro.

Os Pescoçudos, muitas vezes, chega ao surrealismo para representar e criticar o cotidiano. Geralmente, a tira busca uma forma irônica de observar a vida contemporânea. Dá pra definir o que é Os pescoçudos, e o que a coletânea vai trazer desse universo&qt;&

Por ter o pescoço virado, o pescoçudo não enxerga direito quem está à sua frente. Daí, nasce um universo em que ninguém se enxerga, ninguém se entende, só que todos querem ser felizes juntos. Eu costumo olhar pra minha vida, e pras coisas à minha volta e sempre acho que tudo está ficando cada vez mais ridículo e surreal. Então, Os pescoçudos viraram minha válvula de escape para expressar esta sensação. A coletânea serve tanto para quem acompanha as tiras pelo jornal e gostaria de tê-las guardadas na estante quanto, para apresentá-las a um novo público.

Onde mais você publica seus trabalhos hoje, além da Folha&qt;&

A tira é publicada pela Folha desde 1997 e, há uns dois anos, no jornal O Dia, no Rio de Janeiro. Faço o cartum da última página da revista Bravo! desde abril deste ano; uma coluna na Simples, há 2 anos; ilustrações para a Folha e revistas Elle, Criativa, Marie Claire, Viagem e Turismo etc. E meu site pessoal acabou de estrear pelo UOL.

E fora dos quadrinhos&qt;& Você tem trabalhos de animação, certo&qt;&

Ilustração, animação e roteiros para vídeos/documentários. Já fiz animação para Unicef, Nickelodeon e Festival Videobrasil. Também já escrevi para o Casseta e Planeta Urgente, na Globo.

Estou escrevendo o roteiro de um curta com um amigo e um livro intitulado Eu te amo mas não me enche com outro amigo. Ambos devem estar prontos no ano que vem. Esse último, feito com o Ronaldo Miranda, é um livro de humor sobre o casamento, que vai misturar prosa e ilustrações.

Como é ser cartunista no Brasil quando você encara gente consagrada como Angeli, Glauco, Laerte&qt;& Dá pra dizer que você, Fábio Zimbres e Allan Sieber formam uma nova geração&qt;&

Acho que tem uma nova geração surgindo, da qual faço parte, que trata o humor de uma forma mais sutil. De qualquer forma, esta nova geração ainda está muito dispersa. Vamos ver o que acontece...

E como você vê o cenário dos quadrinhos brasileiros hoje&qt;&

Se a gente comparar com a atual produção norte americana, com gente como Daniel Clowes, Kaz, Pete Bagge, Chris Ware, a sensação é a de que paramos no tempo. Mas sempre tem uma tentativa aqui, outra ali. De vez em quando aparece alguma coisa boa.

Quem são os colegas do Sindicato&qt;& O que eles publicam&qt;&

Alex Gabassi, Rafael Lain, Angela Detanico, Ronaldo Miranda, Monique Schenquels, Dag Rizzolo. Os trabalhos variam de documentários, sites de internet, trabalhos em design gráfico. Se você quiser dar uma olhada melhor, o endereço é www.sindicato.etc.br

Fale um pouco de suas influências. Você sempre leu HQs&qt;& O que lê hoje em dia&qt;&

HQ, eu sempre li, de Cebolinha até Moebius. As maiores influencias são Jaguar, Matt Groening e Angeli. Hoje em dia, leio pouco; estou relendo uma HQ do Adrian Tomine sensacional, chamado 32 Stories.