Ken Parker, um faroeste diferente

Ken Parker foi responsável por mudanças profundas que sofreram os fumetti - quadrinhos na itália - de vocação popular. Seus roteiros densos e temas universais - violência, racismo, e a busca do próprio eu - entraram definitivamente em cena no faroeste. Inspirado na personagem Jeremiah Johnson interpretada, em 1972, por Robert Redford no filme de mesmo nome e que, no Brasil, recebeu o título de Mais forte que a vingança, o herói, por pouco, não se chamou Jedediah Baker.

Giancarlo Berardi foi o autor do roteiro dos 59 episódios da série original. Algumas vezes, no entanto, contou com a colaboração de Mantero, Castelli e Sclavi. Os primeiros cinco episódios foram desenhados por Ivo Milazzo, que, posteriormente, também teve colaboradores. Os mais freqüentes Alessandrini, Marrafa e Trevisan. Este último desenhou Hamlet no episódio Um Príncipe Para Norma. No entanto, apesar do talento de seus colaboradores, nenhum jamais conseguiu transmitir o realismo dos desenhos de Milazzo, que também foi o autor de todas as capas da série, verdadeiras obras de arte em aquarela.

Em 1989, Berardi e Milazzo criaram sua própria editora, a Parker Editore, e republicaram os 59 episódios originais da saga de Ken Parker. Essa coleção foi batizada de Serie Oro, na qual foram acrescentadas mais três edições, com as histórias que saíram na série Collana West, totalizando assim 62 álbuns. As aventuras acrescentadas foram Un principe per Norma, Dove muoiono i titani e Il respiro e il sogno. As duas primeiras foram recentemente lançadas, no Brasil, pelo CLUQ - Clube de Quadrinhos - enquanto parte da terceira veio anos atrás ao nosso país trazida pela Editora Ensaio.

O título Ken Parker Magazine chegou às bancas italianas em 1992, com histórias inéditas e formato maior - 19,5 x 26 cm. A nova revista, além das aventuras de Ken Parker, publicava artigos, reportagens e trabalhos de outros ilustradores, entre os quais Alex Toth, o quadrinhista preferido de Berardi. Depois da edição dupla, número 19/20 em 1994, a publicação passou a ser editada pela Sergio Bonelli Editore, até o número 36 de 1996. Esta editora também lançou quatro edições semestrais de Ken Parker Speciale, entre 1996 e 1998, em álbuns de 180 páginas.

UM CAUBÓI DE HOJE

Segundo o próprio Giancarlo Berardi, "Ken Parker é um homem de hoje, com os problemas de hoje. Não tem nenhuma certeza, nenhuma segurança, vive dia após dia com seus próprios ideais, buscando ardente, desesperada, corajosa e dolorosamente ser coerente."

Rifle Comprido - seu apelido, devido ao inseparável e arcaico fuzil Kentucky que carrega - é um trapper (caçador de peles), um batedor do exército, um xerife, um detetive, um escritor. Em suma, Ken Parker faz mil trabalhos no mundo violento e selvagem do velho oeste, sem perder de vista a própria identidade de homem prático mas idealista, positivo, capaz de amar e se doar com generosidade. A altíssima qualidade dos episódios e a singularidade do personagem, bem distante dos heróis clássicos como Tex e Zagor conquistaram, além da crítica, um pequeno mas aficionado público.

OS COADJUVANTES

As circunstâncias e a sua vontade de não ficar muito tempo num mesmo lugar obrigaram Ken Parker a de deslocar constantemente pelos Estados Unidos deste sua primeira aventura em 29 de dezembro de 1868. Essa errância nunca lhe permitiu partilhar suas aventuras com um companheiro fixo. Assim, vez por outra, foi acompanhado de Dashiell, da geniosa garotinha Pat OShane, do gorducho esquimó Nanuk, da cadelinha Lily. Por um tempo, Parker foi membro da tribo indígena Hunkpapa, quando se casou com Tecumseh, posteriormente morta em um ataque do exército americano. Theba, filho de Tecumseh (fruto de um casamento anterior) vive atualmente em Boston, com o nome de Teddy, e considera Rifle Comprido seu verdadeiro pai.

Nos primeiros episódios, Ken Parker defrontou-se com um impiedoso assassino, Donald Welsh, chamado de "O sortudo". Morto Welsh, na oitava edição, Colpo grosso a San Francisco - no Brasil Encontro em San Francisco -, o herói não teve mais adversários regulares. A cada episódio, porém, vê-se obrigado a combater quem professa a violência sem sentido, a lutar contra a intolerância, a ignorância, a avidez.

KEN PARKER NO BRASIL

Ken Parker estreou no Brasil em novembro de 1978 pela Editora Vecchi. Em agosto de 1983, após 53 edições mensais, sua publicação foi cancelada.

Em janeiro de 1990, a Editora Best News retomou a personagem, mas publicou apenas duas edições, correspondentes aos números 54 e 55 da série original. Assim, os leitores brasileiros ficaram sem as quatro últimas aventuras da coleção, A proposito di gioielli e d’imbrogli, Il sicario, Sciopero e I ragazzi di Donovan.

Em 1994, a Editora Ensaio publicou um especial de formato grande, com as histórias Os cervos e Um hálito de gelo. Esta última foi extraída da série Collana West enquanto a primeira é uma aventura colorida e sem texto que abre o ciclo Il respiro e il sogno.

Em outubro de 1999, o CLUQ (Clube dos Quadrinhos) lançou uma mini-série em duas edições, com a história Onde Morrem os Titãs. A publicação teve tiragem limitada de 1.000 exemplares e recebeu o prêmio HQ Mix de Melhor Mini-série Estrangeira. Em maio deste ano, a editora lançou o álbum Um príncipe para Norma, com 128 páginas.