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I Am a Hero | Primeiras Impressões

Mangá chega ao Brasil apostando no carisma de seu protagonista e em arte aterrorizante

17.05.2018, às 20H00.
Atualizada em 17.05.2018, ÀS 21H05

Um dos gêneros mais celebrados nos mangás é o terror. Pela ampla liberdade em abordar temas de forma adulta e retratar cenas impactantes, é comum que grandes autores dediquem suas carreiras ao estilo, e na última década zumbis têm se tornado um tema popular. Se no ocidente quadrinhos como The Walking Dead quebram recordes de vendas, é de se esperar que nos mangás haja um título a altura, e I Am a Hero é um ótimo candidato.

Divulgação/Panini

Hideo Suzuki é assistente em um estúdio de mangás, tem uma namorada e é membro de um clube de tiro. Apesar de comum, o rapaz leva a vida de forma melancólica: paranóico, angustiado por ser apenas assistente aos 35 anos e sempre à sombra do ex de sua amada, só se sente seguro dentro de portas trancadas e rituais malucos para se distrair do medo. Enquanto Hideo segue sua vida medíocre, uma misteriosa epidemia começa a tomar conta de sua cidade, e pessoas mortas passam a aparecer não tão mortas assim.

O primeiro volume de I Am a Hero se dedica a apresentar seu protagonista nos mínimos detalhes. Mirando de forma certeira em seu público-alvo, o autor Kengo Hanazawa canaliza os sonhos e frustrações de sua sociedade em um personagem que antes de mais nada é humano. Não há frases de efeito e grandes provas de coragem, são os medos, desejos e até manias de Suzuki que fazem com que sua personalidade soe natural, tornando o rapaz carismático e criando empatia. Não há como torcer pela sobrevivência de alguém com quem não se importe, e ao investir em seu herói a história garante o envolvimento por parte do leitor.

Justamente por focar tanto em seu personagem principal, o horror ainda não teve o devido espaço. Essa ausência não chega a ser frustrante, pois a tensão cresce conforme sinais da epidemia vão aparecendo. Como a trama se passa pela perspectiva de um rapaz desleixado, que está muito ocupado tentando salvar a própria carreira, os perigos vão aparecendo gradualmente: primeiro em reportagens na TV, passando por um número cada vez maior de pessoas doentes até que por fim finalmente aparece um cadáver ambulante na história.

O ponto negativo fica por conta da confusão narrativa ao abordar tramas paralelas. A trama tem um ritmo caótico justamente por apresentar o cotidiano de um cara comum, e funciona enquanto a história anda de forma linear, pois apesar do bombardeio de informações, elas levam ao mesmo caminho. Porém,quando flashbacks são intercalados à trama, esse sentido se perde, ficando uma bagunça de linhas do tempo emaranhadas.

A arte de Hanazawa também segue o objetivo de trazer a história o mais próximo possível da realidade. Cenários como a populosa cidade onde Hideo mora ou seu apartamento bagunçado são composições que não só criam um senso de familiaridade, como também saltam os olhos pela riqueza de detalhes. Os personagens não ficam para trás, ainda que as fisionomias sejam estilizadas, e os poucos mortos-vivos que apareceram já mostram que essa riqueza de detalhes também servirá para criar cenas chocantes.

Com um protagonista cativante e uma arte excepcional, I am a Hero cria uma atmosfera realista para acompanhar a sobrevivência de um cara comum a um apocalipse zumbi. Até 2015, o mangá já havia vendido 4 milhões de cópias só no Japão, conseguindo enorme sucesso também mundo afora. Além de premiada, a obra conta com uma adaptação live-action, um spin-off escrito por ninguém menos do que Junji Ito. Agora chega ao Brasil em 22 volumes, que serão publicados bimestralmente pela Editora Panini.