Os hunos invadiram o império galáctico (o Orbis romano), destruindo tudo em seu caminho, inclusive o imperador. Para se salvar, o enfraquecido Orbis cede aos hunos um planeta e uma dúzia de jovens para sacrifícios humanos. O chefe huno Rua está contente com isso, mas o ambicioso príncipe Átila deseja mais e, com a ajuda involuntária de uma das jovens mandadas para o sacrifício, Flávia Aetia, prepara um complexo plano para derrubar tanto Rua quanto a poderosa casta sacerdotal e assumir o comando supremo de seu povo.
Este é um trabalho bem mais maduro do que Lanfeust, não apenas por conter mais sexo e violência, mas também pela temática mais sofisticada. A história é basicamente uma grande intriga política, para decepção daqueles que esperam ver naves especiais ou hordas bárbaras fazendo pilhagem e destruição (OK, isso também aparece, mas em menor escala). Porém é executada com grande habilidade e deixa o leitor ansioso para ver o restante da série (que ainda não terminou na França, está atualmente no terceiro volume). A escritora Valérie Mangin, uma das raras mulheres em atividade no quadrinho franco-belga, escreve personagens fortes (em particular a heroína Flávia) e uma trama cativante, embora um tanto desprovida de ação, ao menos neste primeiro volume.
Estudiosos de História também vão perceber rapidamente que esta não é uma transposição totalmente fiel dos eventos reais para a ambientação de FC. Por exemplo, Rua era tio de Átila na vida real. E há discrepâncias bem maiores. Mas é preciso compreender que o rigor unca foi a intenção dos autores. Se fosse, poderiam simplesmente ter posto o episódio real em quadrinhos (sim, na França um gibi assim teria boas chances de vender!).
O artista Gajic merece um estudo à parte. Ele mostra bastante talento, especialmente no uso de cores, para um ilustrador relativamente inexperiente e é um capista de primeira categoria. Todavia, está tentando demasiadamente ser Juan Gimenez (sua óbvia inspiração) e ainda precisa melhorar muito para chegar à altura do mestre argentino. Sua narrativa e leiaute ainda são meio confusos e falta um pouco mais de expressividade às personagens. Sua arte também é algo estática demais para trabalho em HQs. São defeitos menores e ele pode vir a superá-los, talvez até no decorrer da saga (e, francamente, ele é superior à grande maioria dos ilustradores de HQs que vemos nas bancas).
Em resumo, um trabalho interessante e extremamente promissor que é o mais notável desta “primeira leva” de álbuns da Devir. Como os outros, fica na dependência da publicação de mais volumes para confirmar ou não seu potencial.