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Artigo

HQ: <i>O Fantasma - Graphic Novel</i>

HQ: <i>O Fantasma - Graphic Novel</i>

03.11.2003, às 00H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 20H04
O Fantasma - Graphic Novel

Criado pelo norte-americano Lee Falk em 1936, o Fantasma foi o primeiro aventureiro mascarado dos quadrinhos, trazendo em si vários dos elementos que depois consagrariam os super-heróis dos comic books.

O sucesso de sua fórmula singela - um homem que assume a caça aos criminosos como missão de vida após, a morte de seu pai nas mãos de pirata, cujo trabalho é, mais tarde, continuado por seus descendentes -, é comprovado por quase setenta anos de publicação ininterrupta. Nesse período, os leitores puderam ver o protagonista adotar um jovem órfão (Rex), casar-se com seu primeiro amor (a estonteante Diana Palmer), ter com ela filhos gêmeos (Kit e Heloise), tornar-se amigo do presidente de Bangala, país africano fictício no qual tem sua morada e frustrar dezenas de planos criminosos; ao mesmo tempo, pelas Crônicas do Fantasma, tomaram conhecimento da vida e aventuras dos antepassados do atual ocupante do cargo, numa variedade de histórias sempre interessantes e peculiares (quase como se fossem 21 heróis, em vez de apenas um...).

No Brasil, o Espírito que Anda foi, durante longo tempo, publicado pela Rio Gráfica e Editora, depois Globo, que o abandonou nos anos 1990. A partir daí, foi retomado pela Editora Saber em pouco mais de 40 números, na série Fantasma: edição histórica, encerrada em 1999, título que reempacotava uma edição anterior da mesma editora, trazendo as tramas clássicas da personagem em jornais.

No novo século, o aventureiro, até o momento, foi basicamente disponibilizado no país pela Editora Opera Graphica em uma gama de publicações irregulares, tanto em termos de formato como em periodicidade, abrangendo os títulos O Fantasma crônicas, 5 números; O Fantasma pocket, 2 números; O Fantasma coleção, um número e O Fantasma gold, todos em preto e branco, formato pequeno, e O Fantasma magazine, com dois números publicados em formato revista. De uma forma geral, no entanto, deve-se reconhecer que esses gibis, ainda que trazendo material importante à cronologia do herói, inclusive histórias não publicadas anteriormente no país, não fazem justiça ao papel que essa personagem mascarada ocupa no universo quadrinhístico mundial.

Uma pouco da limitação acima começa a ser parcialmente resgatada na última publicação nacional dedicada a trazer a criação de Lee Falk aos leitores brasileiros, O Fantasma graphic novel.

Em formato americano e em cores, esse título, ainda que em papel jornal, oferece um produto de qualidade bastante superior às recentes publicações brasileiras. Disponibilizada neste mês de outubro, a revista traz a história Assassina de espíritos (The ghost killer), originalmente publicada em março de 2002, no primeiro número do gibi The Phantom, da editora norte-americana Moonstone Press.

O roteiro é de Ben(jamin) Raab, um escritor de experiência que tem em seu currículo a elaboração de aventuras para Batman, Excalibur, Vampirela e X-Men, entre outros; os desenhos ficaram a cargo de Fernando Blanco (cujo nome está grafado incorretamente na revista) e as cores são de Paul Mounts.

A história envolve o contrabando de armas por uma organização internacional e uma assassina especialmente contratada para matar o protagonista, trazendo também várias dos principais coadjuvantes da lenda do Fantasma (a esposa, os filhos, o lobo Capeto, o cavalo Herói, a Patrulha da Selva, etc), assim como pequenas modernizações em sua forma de atuação (como, por exemplo, a utilização de uma motocicleta para perseguir os malfeitores).

A arte utilizada nesse episódio, no qual predominam os tons escuros e cenas ocorridas à noite, com enquadramentos do herói normalmente em plongé (de baixo para cima), por um lado, enfatizam o ambiente de pressão em que estão envolvidas as personagens, e, por outro, destacam a imponência do protagonista. Especialmente fascinante na trama é a vilã/assassina que o persegue, colocando-se praticamente em pé de igualdade com ele e com características distintivas em relação a seus opositores usuais.

A nova publicação surge por intermédio da Editoractiva, de São Paulo, em parceria com a Opera Graphica, que aparece, no expediente, como responsável por sua realização. O número 1 constante da capa leva a crer que se trata do primeiro aparecimento de um título periódico e não de uma edição isolada (que, provavelmente, deverá acompanhar a revista norte-americana), mas nada existe que corrobore isso no expediente constante da primeira página. Por outro lado, nada há, também, que possa contradizer tal interpretação.

Resta torcer, então, para que esta iniciativa pretensiosa em relação ao Espírito que Anda tenha continuidade. Os seus muitos fãs, certamente, apreciariam que tal ocorresse.

O Fantasma graphic novel tem 48 páginas e custa R$ 4.50.