ELENCO CATIVANTE
Alguns amigos da mesma faixa etária fazem contraponto com o traquinas protagonista, destacando-se a fidelidade de Joey, a convicção de Margaret e a serenidade de Gina. Grandpa Johnson, pai de Alice, aparece apenas ocasionalmente. Completa o grupo o cachorro Ruff, companheiro quase inseparável de aventuras e piadas.
AMEAÇA BEM INTENCIONADA
A boa índole de Dennis é no fundo compreendida até mesmo por aqueles que mais se irritam com suas traquinagens principalmente a sua eterna e preferida vítima, Mr. Wilson , que, mesmo ao perderem a paciência com o garoto terrível, jamais deixam de ter por ele um carinho muito especial. O mesmo carinho que sentiram todos os leitores durante os seus cinqüenta anos de publicação.
UM ILUSTRADOR VERSÁTIL
Desde o começo, também a arte utilizada nas tiras e páginas dominicais de Dennis The Menace foi um elemento de destaque. Aparentemente, como menciona o estudioso Robert C. Harvey, os desenhos de Hank Ketcham distinguem-se por uma profusão de detalhes significativos, pequenos fragmentos que parecem jogados de forma casual na composição mas que são de fato cuidadosamente selecionados e estrategicamente colocados a fim de acrescentar o sentido de tempo e local e atualidade que Ketcham busca em todos os seus cartuns.
Nascido em 1920, em Seattle, Washington, Hank Ketcham não teve propriamente uma educação formal no campo artístico, tendo se formado muito mais na atividade prática. Ainda jovem, abandonou a Universidade de Washington e mudou-se para Hollywood, visando dedicar-se à área de animação. Em pouco tempo, conseguiu colocação nesse campo, trabalhando primeiramente para a Lantz Production e posteriormente realizando seu grande sonho de trabalhar para os estúdios Disney.
Ingressou como animador assistente temporário na Walt Disney Productions em 1939, para trabalhar na confecção de Pinocchio. Foi, posteriormente, incorporado como efetivo à equipe de animadores, que contava, então, com grandes nomes da área, como Walt Kelly (criador, da personagem Pogo), Fred Moore e Ward Kimball.
Ketcham permaneceu na Disney até 1941, quando foi servir à marinha americana, em Washington, D.C. Durante a guerra, criou a personagem do diminuto marinheiro Half-Hitch (no Brasil, Meio Quilo), que publicou no Saturday Evening Post. Após o fim do conflito mundial, mudou-se para Carmel, na Califórnia, e trabalhou como freelancer durante alguns anos, até conceber Dennis The Menace, modelado à figura de seu próprio filho, então com quatro anos de idade. No ano seguinte ao lançamento da personagem, seu autor obteve o cobiçado prêmio Reuben (então ainda denominado Billy De Beck award), conferido pela National Cartoonist Society. Tinha, então, apenas 22 anos de idade.
O sucesso estrondoso obtido por Dennis The Menace permitiu que Ketcham, a partir de então, a ele se dedicasse durante a maior parte de sua vida profissional. Às tiras e páginas dominicais, seguiram-se logo histórias para comic books, publicados pela Standard/Pines Comics, de 1953 a 1958, e pela Fawcett, de 1959 a 1979. No Brasil, as revistas de Pimentinha foram publicadas pelas editoras O Cruzeiro, Vecchi, Saber e Rio Gráfica, do final dos anos 50 a início da década de 80. Uma série televisiva produzida pela CBS, estrelada por Jay North, foi a coqueluche da televisão americana entre os anos de 1959 e 1963. Desenhos animados foram produzidos pela General Mills, sendo exibidos inicialmente de 1988 a 1989, mas ainda em exibição até os dias de hoje (no Brasil, o SBT mantém o desenho em sua programação matinal há anos). E, em 1993, uma grande produção cinematográfica da Warner Bros., produzida por John Hughes e estrelada por Walther Matthaw como o pobre Mr. Wilson, chegou às telas do mundo inteiro, fazendo justiça às peripécias do adorável pestinha dos quadrinhos.
OS COLABORADORES
Desde o início, Ketcham utilizou artistas assistentes em seu trabalho criativo. Assim, já em 1950, para a confecção das histórias destinadas às revistas em quadrinhos, contou com a ajuda de Al Wiseman. Para as páginas dominicais, utilizou-se da colaboração de Bob Bugg e posteriormente de Ron Ferdinand, este último responsável por elas até os dias de hoje. Já as tiras diárias contaram com a mão invisível de Marcus Hamilton desde o início dos anos 80. Isso permitiu que Ketcham pudesse se aposentar oficiosamente como o desenhista da personagem, passando a exercer apenas a função de supervisor geral dos trabalhos, de forma a garantir que não se perdesse o espírito da série.
O FASCÍNIO DA INOCÊNCIA
De uma certa forma, a trajetória de sucesso de Hank Ketcham apenas destaca as façanhas admiráveis de sua obra máxima: atualmente, Dennis The Menace é distribuído pelo King Features Syndicate e publicado, em formato de painéis, em mais de 1000 jornais, em 48 países e em mais de 19 idiomas. E o seu contínuo sucesso é ainda mais surpreendente quando se pensa que ele, como observou a crítica Judith Weinraub, no jornal Washington Post de maio de 1990, vive em um mundo que já não existe mais, um mundo onde as pessoas não se digladiam ou falam obscenidades, as mães estão sempre em casa para cuidar dos filhos e o máximo que se pode chegar da realidade é a comemoração do Natal ou da Páscoa.
O fascínio da personagem, no entanto, talvez esteja ligado mais à característica de inocência ilimitada, elemento indissociável do menino, que tanto agrada aos leitores. Mais que a história de um menino travesso, pode-se dizer, parafraseando Ziraldo ao final de seu principal livro infantil, O menino maluquinho, que Dennis The Menace conta apenas a história de um menino feliz...
Imagens © 1950 - 2001 Hank Ketcham Enterprises, Inc.
Leituras recomendadas
THE HANK KETCHAM STUDIO. http://www.hankketcham.com/
KETCHAM, Hank. The merchant of Dennis The Menace. New York : Abbeville Press, 1990.