...Narciso
acha feio o que não é espelho
Caetano
Veloso - Sampa
Na noite do 26 de outubro, fui ao cinema assistir a Como cães e gatos (por sinal, um ótimo filme; sinceramente, não esperava me divertir tanto) com minha digníssima e meu irmão caçula.
Chegando lá, compramos os ingressos (de quinta-feira, é mais barato ), a pipoca e os refris básicos e fomos para a sala de projeção.
Meu irmão tem onze anos e, há um, luta contra a leucemia. Submete-se à quimioterapia e, devido a este tratamento, perdeu todos os seus cabelos. Está carequinha, tipo Fester Adams.
Ao fim do filme, notei que TODOS reparavam na calvície do menino. Condescendente, pensei: É de se esperar. Eu também olharia.... No entanto, por todo o shopping, havia gente reparando e isso começou a me incomodar. Meu irmão é apenas uma criança!
Na mesma hora, eu me vi como Ciclope ou o Fera dos X-Men. Senti na pele a discriminação por não ser igual às outras pessoas. Era gente sem a mínima discrição. Só faltavam cair em cima do garoto. Os adultos, que deveriam dar o exemplo, eram os que mais encaravam.
Percebi, então, que meu irmãozinho também notava aqueles olhares. Ele disfarçava, fingia que não era com ele. Tenho certeza de que fazia isso por mim, para eu não sentisse vergonha do meu irmão.
No dia 26, eu me senti um mutante. E digo uma coisa, se tivesse poderes, não sei para que lado eu os usaria: para o bem ou para o mal. No entanto, ao deixar o cinema, sob olhares de incompreensão, o caminho seguido por Magnus foi muito tentador
Se cremos no sonhos de Charles Xavier, em um futuro de paz entre Homo sapiens e superior, entre semelhantes e diferentes, devemos começar agora, mudando a nós mesmo e a maneira como enxergamos os nossos semelhantes... e os dessemelhantes.