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Superior Spider-Man | Crítica

Longe de ser só um evento caça-níquel, fase da HQ do Homem-Aranha sabe ser moderna

23.04.2014, às 18H25.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

Quem consome histórias de super-heróis já está acostumado a ver seus personagens preferidos tratados como produtos. Quando a Marvel Comics decide, no final de 2012, encerrar a revista Amazing Spider-Man e iniciar Superior Spider-Man - com o Dr. Octopus assumindo o lugar do Homem-Aranha - já o faz pensando no retorno triunfante do verdadeiro herói às vésperas de seu novo longa-metragem. Isso trará, na expectativa da editora, novos espectadores-leitores-consumidores para a revista Amazing Spider-Man, que, agora com o fim da fase Superior, volta com numeração zerada neste mês, nos EUA.

O principal diferencial de Superior Spider-Man em relação aos sazonais eventos caça-níqueis de Marvel e DC Comics é que justamente essa ideia de franquia está no centro da história desenvolvida pelo roteirista Dan Slott ao longo de 30 edições. Quando Otto Octavius - aqui tão inventor quanto industrialista - toma para si o corpo de Peter Parker, é num cenário mercadológico de heróis e vilões que ele assume não só a identidade do Homem-Aranha mas principalmente a marca Homem-Aranha.

Para o fã pode ser atraente ver, no traço anguloso, cuidadoso do desenhista Humberto Ramos, situações clássicas como a impregnação do simbionte se moldar visualmente ao Dr. Octopus. O que torna essa fase interessante de fato, porém, é o tratamento moderno dado a outros vilões - sejam de terceira categoria, que, por um senso de oportunidade, encontram um nicho de mercado para atuar (como Polichinelo e Croma, que jogam para a geração YouTube), sejam de vilões de primeiríssima categoria, como o Rei do Crime, que representam o "dinheiro velho" e são derrotados por acreditar num ultrapassado senso físico e territorial do capitalismo.

O que passa a valer nas histórias do Homem-Aranha Superior são elementos relacionados ao marketing, como a abertura de franquias que pode fortalecer marcas (na participação interessante do "empresário" Duende Macabro), o gerenciamento publicitário de crises (na chachina planejada por Massacre) e a manipulação da opinião pública (na forma midiática como Otto lida com a população). Para lidar com essas situações, o Aranha se mostra superior não naquilo que o torna um herói, e sim naquilo que faz dele um excelente produto: certificado científico (a busca pelo doutorado), alcance e presença de mercado (os bots-aranha e o exército-aranha) e apoio institucional (a chantagem com J. Jonah Jameson, a Ilha-Aranha II e as Indústrias Parker).

Não deixa de ser irônico que, no clímax dessa fase, a partir da edição 27, quem assume papel de protagonismo e desarma a eficiência de Octopus seja justamente um ex-magnata industrial: Norman Osborn, o Duende Verde, numa versão "marketing de guerrilha" - com direito a pixações anárquicas espalhadas por Nova York. Se o desfecho com a edição 31 soa anticlimático - com aquelas resoluções apressadas tipo final de novela - ao menos Slott conseguiu criar, ao longo das edições anteriores, esses antagonismos todos para dar substância à fase Superior.

E nenhum antagonismo é maior, evidentemente, do que Peter Parker versus Otto Octavius. Sempre se discutiu, dentro e fora das histórias, o que torna o Homem-Aranha um super-herói singular, e aqui isso fica claro: o senso de sacrifício pessoal e de improviso que sempre foram centrais à personalidade de Parker são o avesso da imagem de frieza, eficiência e estratégia que o Aranha de Octopus criou para si.

Chega a ser irritante como a HQ martela durante meses essa oposição, na figura do "fantasminha" de Peter que assombra Otto - em suas séries blockbusters a Marvel às vezes se rende excessivamente a essa exposição óbvia nos roteiros - mas Superior Spider-Man mostrou ser, apesar dos didatismos, um evento digno de acompanhar.

Nota do Crítico
Bom