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Crítica

Black Widow #1 | Crítica

Apesar da leitura ligeira, Chris Samnee faz valer a espera pela nova HQ da Viúva Negra

03.03.2016, às 18H35.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Quando entrevistei Mark Waid na CCXP, perguntei o que ele achava dos quadrinistas que recorriam com frequência cada vez maior à splash page - as páginas de HQs com um único quadro - como efeito de impacto. O roteirista deu uma resposta muito simples: "É um recurso como qualquer outro, mas deve ser usado com equilíbrio, porque como a diminuição de quadros acelera a leitura às vezes eu fico com a impressão de que a HQ termina rápido demais e não tem muito lá".

Black Widow #1, a primeira edição da esperada série da Viúva Negra sob o comando de Waid com o desenhista Chris Samnee, é uma leitura que passa rápido, mas sem essa sensação de vazio de que o roteirista fala. São 20 páginas de ação desenfreada e poucos balões, que valorizam o lado Jason Bourne de Natasha Romanoff, perseguida do começo ao fim pela SHIELD por ter furtado um misterioso objeto. A comparação com Bourne parece apropriada porque Waid nos disse, também na CCXP, que neste primeiro arco a Viúva será despida de suas armas e seus recursos, e terá que se defender sozinha.

A primeira edição é feita dessa única perseguição, mas a variação dentro dela é exemplar. Começa situando Natasha numa multidão (os engravatados da SHIELD), a heroína surgindo aos poucos de relance, até explodir de corpo inteiro pela janela do aeroporta-aviões (página dupla gloriosa que faz valer o gasto de splash page). Continua numa sequência pensada para nos demonstrar o talento de bailarina da russa e sua malícia - desde sempre suas características principais. E termina apoteoticamente num duelo que substitui o lado lúdico da perseguição por uma briga suja e sangrenta, capaz de dar à HQ uma dramaticidade que lhe confira o peso necessário para terminar de prencher aquele vazio.

Se Waid estrutura a perseguição de uma forma inteligente para nos reapresentar Natasha, suas habilidades e seu ofício, é o desenhista Chris Samnee que brilha traduzindo isso em quadros cheios de movimento. Quem aguardava a nova empreitada da dupla depois da bem sucedida fase dos dois em Daredevil, encerrada em setembro passado (leia a nossa crítica), tem em Black Widow um prato cheio, porque a ação de Samnee continua a mesma: ótimo senso espacial, traço limpo e dinâmico e quadros organizados com frequentes bordas diagonais nas cenas mais velozes, como se um quadro escorregasse urgentemente para o próximo.

Quem precisa de motion comic quando temos uma HQ como essa, que se folheia tão prazerosamente como se fosse o melhor desenho animado?

Nota do Crítico
Ótimo