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Crítica

Black Canary: Kicking and Screaming | Crítica

Annie Wu brilha sozinha no primeiro arco da Canário Negro roqueira

3 min de leitura
MH
08.03.2016, às 17H21.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H55

Um elemento comum a muitas das HQs mais arriscadas da linha de super-heróis da DC Comics nos últimos dois anos é tirar os personagens da sua zona de conforto. Em poucas séries isso ficou mais latente do que em Black Canary, a HQ que transforma a Canário Negro numa vocalista de banda de rock, e cujo primeiro arco acaba de ser reunido em encadernado, intitulado Kicking and Screaming.

Depois de ajudar a transformar a Batgirl num fenômeno pop, o roteirista Brenden Fletcher recebeu aval da DC para tentar o mesmo com a heroína da voz supersônica. Não é preciso conhecer as histórias anteriores de Dinah Lance para acompanhar as sete edições desse encadernado, mas o passado da Canário Negro nunca deixa de estar presente, como desafio de superação. Aprendemos que Dinah sofreu um revés e aceitou ser vocalista de uma banda durante uma turnê pelos EUA, para conseguir dinheiro e refazer sua vida.

Fletcher tem a ajuda preciosa da desenhista Annie Wu, que assina as três primeiras e as duas últimas edições. Quando ficou como estepe na premiada HQ do Gavião Arqueiro na Marvel (leia a crítica), Annie Wu mostrou-se uma substituta à altura de David Aja nas histórias descompromissadas de Kate Bishop, e provavelmente era aquele espírito de aventuras de rebeldia que a DC procurava quando chamou Wu para desenhar Black Canary.

O resultado é muito promissor de início. Com traço expansivo, Wu complementa a pegada indie de Fletcher e impregna a HQ com uma sujeira visual típica do rock, ao mesmo tempo em que resolve com soluções sofisticadas de design (em parceria com o colorista Lee Loughridge) a manifestação material do som. É uma pena que a noção de um campo de força sonoro (os vilões da HQ usam uma outra frequência da realidade para se esconder a olhos vistos) seja abandonada depois desse começo.

Não é a única boa ideia que fica pelo caminho. Fletcher apresenta Dinah como uma veterana com traços de pós-trauma de guerra, e o fato de os vilões serem aliens humanoides disformes - como um inimigo sem rosto, ou um conceito de inimigo - reforça a sugestão de uma paranoia, que adicionaria dramas interessantes ao trauma da heroína. Já na primeira edição, fica com o leitor a imagem do entourage musical da Canário atônito por vê-la obcecada com a segurança de todos, com seus olhos estalados de quem parece chapada.

Mas a série não segue apostando nessa premissa (cujo potencial de absurdo combinaria muito com o traço de Annie Wu), e depois de três ou quatro edições fica evidente que o arco de Dinah se resumirá a aprender a ser uma líder de banda, a fazer as pazes com o passado, a salvar o dia. Não ajuda muito o fato de Kurt Lance aparecer no meio da história para conduzir a trama, para ditar o que é melhor à segurança de todos - para diminuir a figura da heroína, em outras palavras.

O que sobressai neste encadernado, então, são os momentos de virtuose de outra superstar ascendente, não Dinah Lance, mas Annie Wu, com suas páginas que prescindem de balões para nos pegar (como na cena de ação e perseguição da edição 3) ou no desfecho da história, que não poderia ser diferente em termos de cenário e situação (o estádio, auge da jornada musical). Infelizmente, o arco termina com a sensação de que a desenhista, desta vez, carregou o piano sozinha.

Nota do Crítico