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60 anos de Asterix: o império dos trocadilhos contra o imperialismo

Conheça mais da história dos personagens que já venderam mais de 380 milhões de exemplares vendidos em 111 idiomas

29.10.2019, às 13H30.

Tanto quanto são irredutíveis, eles são divertidos. E divertem irredutivelmente há 60 anos. No dia 29 de outubro comemora-se seis décadas desde que Asterix e sua aldeia de gauleses irredutíveis apareceram nas bancas de jornal da França, na primeira edição da revista Pilote.

Hoje, a criação de René Goscinny e Albert Uderzo é um império: 380 milhões de exemplares vendidos em 111 idiomas, 14 filmes, um parque temático e lançamentos com números milionários a cada álbum. Para comparação, o Império Romano que eles tanto combateram chegou no máximo a 100 milhões de habitantes. Os gauleses venceram com sobra.

Duas horix

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Goscinny contava que ele e Uderzo criaram Asterix e toda sua aldeia em duas horas. A dupla tinha que criar uma atração para o novo semanário Pilote, que ia ser lançado em sessenta dias. Goscinny, o roteirista e editor, queria alguma coisa do folclore ou da história francesa. Uderzo, o desenhista, começou a dar ideias desde o paleolítico. Eles pararam no período da Gália, região que hoje seria França, Bélgica e Itália, habitada por um povo celta que ficou ali quase um milênio até ser subjugado pelo império romano. Quem teriam sido os últimos gauleses? A dupla de criadores tinha chegado na sua história.

Nanix

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Uderzo queria um personagem grande e forte, como a imagem que se tinha dos gauleses. Goscinny queria um nanico, para causar graça à primeira vista. Chegaram num acordo: Asterix seria nanico, mas teria um parceiro grandão chamado Obelix. Os dois seriam a linha de frente da última aldeia gaulesa que resiste ao império romano. A arma secreta gaulesa é a poção mágica do druida Panoramix, que dá força sobre-humana a quem bebe. Obelix é o único que não precisa beber, porque caiu dentro de um caldeirão de poção quando era criança; nele, os efeitos ficaram permanentes. Os romanos, sob comando de Júlio César, sempre voltam estropiados ao se deparar com os gauleses superfortes.

Jogos de palavrix

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Abracourcix é o chefe da aldeia. Chatotorix é o bardo que quer cantar as glórias dos heróis gauleses, mas ninguém aguenta sua harpa nem sua voz. Ordenalfabetix é o peixeiro que sempre compra briga com o ferreiro Cetautotomatix. Os nomes são tanto brincadeiras com figuras históricas da Gália – como Vercingetórix (80-46 a.C.), o chefe gaulês que resistiu aos romanos – quanto jogos de palavras. Os leitores entraram na brincadeira quando a Pilote fez um concurso para batizar o cachorro de Asterix, o hoje famoso Ideiafix.

Anti-imperialix

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A aldeia gaulesa é a França e os romanos são o resto do mundo tentando se meter na vidinha francesa. O país europeu é famoso por torcer o nariz ao imperialismo estrangeiro – não só aos romanos de dois mil anos atrás, mas ainda hoje. Goscinny e Uderzo enchiam as histórias de referências à França contemporânea, personalidades da política e da cultura. Quando Asterix e Obelix viajavam, sacaneavam a visão que os franceses têm dos britânicos (bretões), dos alemães (godos), dos suíços (helvéticos) e assim por diante. Um dos trunfos da série foi criar um herói nacional que orgulha e sabe rir da própria nacionalidade.

Arrasa-Quarteirãox

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A primeira adaptação de Asterix foi para o rádio, um programa da Radio Luxembourg em 1960. Em 1967, Asterix, o Gaulês virou o primeiro longa-metragem animado – ao qual se seguiram mais nove, incluindo Asterix e o Segredo da Poção Mágica no ano passado. Os quatro filmes live-action começaram com Asterix e Obelix contra César, de 1999, e estrelaram atores de peso no cinema europeu: Roberto Benigni, Alain Delon, Laetitia Casta, Monica Bellucci, Catherine Deneuve e Gérard Depardieu como Obelix. Os filmes, tal como os álbuns, fazem sucesso principalmente na Europa.

Milionarix

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Asterix fez sucesso entre os leitores desde o primeiro número do jornalzinho Pilote, onde saíam uma ou duas páginas de cada aventura por semana. A primeira história completa virou o álbum Asterix, o Gaulês, com tiragem de 6000 exemplares. Cinco anos depois, Asterix e os Normandos saiu com tiragem de 1,2 milhões, que se esgotaram em dois dias. O álbum que sai este ano, A Filha de Vercingétorix, sairá com tiragem de 5 milhões, simultaneamente em vinte idiomas. É o maior lançamento do mercado editorial europeu no ano.

Goscinnix

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René Goscinny, infelizmente, viu menos de um terço destas seis décadas. Num sábado de manhã, 5 de novembro de 1977, ele foi ao cardiologista fazer um teste de esforço físico. Subiu numa bicicleta ergométrica, começou a pedalar, reclamou de dores no peito e desabou. Morreu aos 51 anos. Judeu que perdeu três tios em campos de concentração, criado na Argentina, formado profissionalmente pelos quadrinistas da Nova York dos anos 1940, Goscinny criou não só Asterix, mas também Umpa-Pá, Iznogud, O Pequeno Nicolau, colaborou por anos nos roteiros de Lucky Luke e teve atuação importantíssima como editor e produtor.

Uderzix

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Filho de imigrantes italianos na França, Albert(o) Uderzo teve o primeiro trabalho publicado em jornal aos 14 anos. Passou pela animação e diversos jornais antes de conhecer Goscinny, com quem criou o pele-vermelha Umpa-Pá e, depois, os gauleses irredutíveis. Quando Goscinny faleceu, ele diz que passou um ou dois dias em choque, travado. Levou três anos para produzir sozinho um novo álbum de Asterix, O Grande Fosso, mas a partir deste fez mais oito trabalhando sozinho no roteiro e no desenho. Aposentou-se aos 86 anos e supervisiona os álbuns de Asterix criados por outros. Diz que a série vai se encerrar após sua morte.

Ferrix e Conradix

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Depois de longa procura por alguém que topasse assumir essa milionária responsabilidade, os franceses Jean-Yves Ferri (roteiro) e Didier Conrad (desenho) tornaram-se os novos autores de Asterix em 2013. Começando por Asterix entre os Pictos, eles já produziram quatro álbuns e respeitam fidelissmamente a fórmula dos gauleses contra o império romano, as piadas recorrentes, as tiradas com a sociedade francesa e praticamente o mesmo traço de Uderzo.

Sexagenarix

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O primeiro satélite que a França colocou em órbita chamou-se Asterix. Está perdido no espaço e pode ser que algum acaso mágico faça ele trombar com os asteroides 29401 Asterix ou 29402 Obelix, assim batizados por astrônomos tchecos. Duas milhões de pessoas visitam anualmente o Parque Asterix, em Plailly, norte da França. O perfil de Asterix estampa uma moeda comemorativa de 2 euros lançada este ano na União Europeia. Générations Asterix, álbum que saiu há pouco na França, reuniu mais de 60 autores do mundo prestando homenagem à série. E o 38º álbum oficial, A Filha de Vercingétorix, sai exatamente no dia dos 60 anos, 29 de outubro.

Brazuquix

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Asterix já vendeu mais de três milhões de álbuns no Brasil. Os gauleses aportaram aqui em 1967 através da editora espanhola Bruguera (depois Cedibra). A editora Record relançou e lançou todos os álbuns oficiais e vários derivados (como as quadrinizações dos filmes), inclusive em versões remasterizadas, até O Papiro de César. A editora Panini anunciou recentemente que vai retomar os gauleses por aqui, provavelmente com o inédito Asterix e a Transitálica, de 2017, e a aventura mais recente. Asterix com certeza merece uma coleção completa e sempre à disposição de quem quiser conhecer a turma irredutível.