HQ/Livros

Artigo

Aqui Dentro e Lá Fora (03/02/2010)

Tocaia e Lobo

03.02.2010, às 20H00.
Atualizada em 22.01.2017, ÀS 03H05

Agora, as colunas AQUI DENTRO e LÁ FORA se fundem e ganham uma periodicidade semanal. Era um projeto antigo e que vai servir pra gente dar mais vazão para as coisas que saem no Brasil e manter você também atualizado sobre o que está acontecendo longe das nossas bancas.

Lobo Highway to Hell

Tocaia

Vamos lá?

AQUI DENTRO: TOCAIA E OUTROS QUADRINHOS

O QUÊ e QUEM: Coleção de HQs do brasileiro Gilberto Maringoni de 1989 a 2002, reunindo trabalhos para várias publicações. A editora é a Devir.

POR QUÊ: Confesso que o nome Gilberto Maringoni não me dizia nada na primeira vez que vi Tocaia. Abrindo o álbum, descobri que já tinha lido uma ou outra das histórias, mas nenhuma que me tivesse feito guardar o nome.

Maringoni é da geração paulista de Laerte e Angeli, embora tenha uma obra bastante reduzida perto das desses dois. Optou por seguir a carreira acadêmica, como professor universitário, pesquisador e escritor de livros sobre história política, deixando os quadrinhos em paralelo.

Quando volta para as HQs, porém, o resultado é quase sempre recompensador. São justamente estes bons resultados que Tocaia reúne.

Com anos de diferença entre cada história, percebe-se logo que Maringoni faz grandes variações de estilo, tanto de gênero quanto de arte, entre cada uma. A história título é um conto de detetive no estilo noir. Há crítica social e pequenas histórias de personagens de rua.

As que mais chamam atenção são as em que o autor se apropria da imaginação alegórica de Laerte e cria contos como o do homem cujo apartamento é atravessado pelo Minhocão, em São Paulo, ou outro onde um cara começa a ver cabeças de animais em qualquer pessoa. Até o estilo de desenho lembra Laerte.

As poucas histórias mostram que o que falta é Maringoni publicar mais.

ONDE E QUANTO: O álbum está nas livrarias e comic shops, com preço sugerido de R$ 45. Compre aqui com desconto.

LÁ FORA: LOBO: HIGHWAY TO HELL

O QUÊ: Minissérie em dois capítulos na qual Lobo retorna ao inferno (já passou por lá quando morreu, uma vez) em missão de vingança.

QUEM: O chamariz da minissérie é o roteiro de Ian Scott, letrista e guitarrista da banda Anthrax. Sam Kieth (Sandman, The Maxx) é o responsável pela arte.

POR QUÊ: Lobo está tranquilo na sua casa bebendo e vendo TV quando cadáveres de golfinhos caem pela sua janela. Todo mundo sabe que golfinhos são a única coisa no universo que Lobo ama. Preso aos cadáveres, uma folha com a assinatura do assassino: o Diabo. Lobo então parte para o inferno em busca de vingança.

Isso são as quatro primeiras páginas. A premissa da HQ já é jogada sem rodeios. Trabalhar com Lobo parece ser desculpa para os autores fazerem histórias descerebradas e a proposta aqui não é nada além disso. Lobo passa um inferno para chegar ao inferno, briga com Caronte, encontra o diabão, briga com o diabão... tudo que você já espera.

Há algumas sacadas para sair um pouco da previsibilidade, como as formas de Caronte e do Diabo. A criação aqui parece ser tanto de Scott quando de Kieth (os dois assinam o roteiro) - sendo o último conhecido pela arte lisérgica, imaginativa, ao mesmo tempo que dark.

O ritmo é estranho, de início. Há inúmeras páginas só com uma ilustração, muitas das quais nem servem para fazer a trama aindar. Fica parecendo que faltou história para ocupar as 64 páginas de cada edição (não que se tenha MUITA história para contar).

Mas, enfim, é uma aventura do Lobo. Por uma lado é interessante: nas histórias dele, um personagem raso, nunca se tenta fazer algo nem um pouco profundo - a DC que ele só serve para HQs em que você não precisa de mais de dois neurônios e só o trata assim. Por outro lado, mesmo para HQs de dois neurônios, você pode ser um pouco mais criativo (exemplo de material dois neurônios criativo: os filmes da série Adrenalina). O público sabe o que está comprando, mas também merece um pouco mais de surpresa.

ONDE E QUANTO: Cada edição de Lobo: Highway to Hell sai por US$ 6,99 (R$ 13). Ainda não há previsão de coletânea reunindo as duas edições (aliás, estranho esse material não ter saído direto como uma graphic novel).