Um ator que fica de fora da lista de indicações dos maiores precursores da temporada de prêmios (Globos de Ouro, Critics Choice, BAFTA e SAG) tem como conquistar uma indicação ao Oscar? A resposta mais óbvia é "não". Mas hoje (24), Andrea Riseborough provou o contrário e foi lembrada pelos votantes da Academia pelo indie To Leslie ao ser indicada como melhor atriz do ano. Mas como um filme produzido praticamente sem orçamento e sem verbas para marketing conseguiu emplacar o nome de uma atriz – tida por muitos – como obscura ao maior prêmio do cinema? Uma canção dos Beatles ajuda a explicar.
Riseborough, agora indicada ao Oscar, é conhecida por atuações em filmes pequenos (como Simplesmente Feliz e A Guerra do Sexos) ou por títulos com certo destaque – mas com pouco tempo de tela para fazê-la um rosto marcante – como Birdman ou a série da Netflix Bloodine. Nada grande o bastante para colocá-la no patamar de celebridade do "Escalão A" (pense nela mais como aquela típica "acho que conheço de algum lugar, mas não lembro de onde"). Também não pense que é incomum um ator ser indicado ao prêmio da Academia passando praticamente sem menções em outros prêmios grandes, como Javier Bardem por Biutiful em 2011 e até Brian Tyree Henry em Passagem este ano. Tem até gente que ganha passando apenas no Oscar (Marcia Gay Harden por Pollock, em 2001, é um dos mais famosos).
O que, no entanto, vem a ser "inédito" ou digno de atenção foi a forma com que Riseborough chegou à lista de indicados. Nas últimas semanas, seu nome começou a aparecer em tweets, posts no Instagram e até vídeos de celebridades como Gwyneth Paltrow, Jennifer Aniston, Courteney Cox, Charlize Theron, Amy Adams, Jane Fonda, Kate Winslet, Sarah Paulson, Sharon Stone, Edward Norton, Greg Kinnear, Sally Field, Liam Neeson, Laura Dern, Geena Davis, entre outros – a lista é quase infinita – com a aparente missão de fazê-la indicada ao prêmio da Academia. E não é que deu certo?
Dois fatores podem ajudar a explicar essa indicação: a atriz é gerenciada pela CAA, tida como a principal agência de atores de Hollywood, e por ter atuado em filmes como Oblivion, Possessor, W.E, Black Mirror, Mandy, Não Me Abandone Jamais, ela trabalhou – e fez contatos – com muita gente. E o segundo é que To Leslie é o tipo de projeto que facilmente chama a atenção durante a temporada de prêmios: drama independente com uma história triste – e baseado em fatos – que cai nas graças da crítica e, aos poucos, conquista a indústria e o público. Mas a produção sobre uma mãe alcoólatra que após perder tudo decide ir atrás do perdão do seu filho conquistou apenas U$ 27 mil nas bilheterias americanas, ficou de fora das listas dos melhores do ano e tampouco foi lembrado nos prêmios prévios.
Embora sua atuação tenha sido descrita como "formidável", "impressionante" e "uma das melhores que já vi na vida" (esse elogio ficou por conta de Wislet), parecia nítido que a atriz não teria a menor chance de competir com alguém como, por exemplo, Viola Davis: querida pela indústria, em um filme que fez sucesso, premiada e conhecida pelos membros da Academia, mas que mesmo assim ficou de fora. Seja pela boa vontade, favores ou ambos, as postagens nas redes sociais que dominaram a campanha por Andrea na última semana deram certo, conseguindo gerar o que a falta de um orçamento para distribuir o filme não conseguiu: colocar o nome da atriz nas rodas de conversa a tempo da votação ao prêmio ser iniciada.
Apesar do sucesso da campanha nas redes sociais e entre os famosos, é muito provável que Riseborough não vença. É um daqueles velhos casos de "a indicação já vale o prêmio", principalmente somado ao fato de que o pequeno filme terá que disputar a atenção dos membros da Academia, os mesmos que deram 11 indicações a Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo e outras seis para Tár, incluindo menções na categoria melhor atriz para Michelle Yeoh e Cate Blanchett, respectivamente. As chances de vitória da atriz britânica são praticamente nulas; o que serve de lição aqui é que muita coisa pode ser possível em Hollywood, especialmente quando se tem bons amigos – e coincidentemente 1/3 do elenco de Friends – ao seu lado.
A 95ª cerimônia do Oscar está marcada para 12 de março de 2023 e terá apresentação de Jimmy Kimmel, que assume o papel pela terceira vez.
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