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Crítica

Quase uma Rockstar

Auli’i Cravalho redime filme da Netflix que mistura conto de fadas com novela mexicana

28.08.2020, às 15H13.
Atualizada em 28.08.2020, ÀS 15H32

Em Quase uma Rockstar, Auli’i Cravalho interpreta Amber Appleton, uma jovem talentosa musicista que é boa aluna, cuida de velhinhos em uma casa de repouso, dá aula de inglês para imigrantes coreanas de graça, trabalha em uma loja de donuts e faz sanduíches para seus amigos. Ela também perdeu o pai, é filha de uma mãe alcoólatra que tem um namorado violento, e guarda dinheiro para alugar um apartamento, porque está atualmente sem-teto. Se tudo isso pareceu demais, é porque é. O novo filme dramático de jovens adultos da Netflix, dirigido por Brett Haley (Por Lugares Incríveis), é tão doce e absurdo que se encaixa em um universo imaginário, algo entre produções originais da Disney Channel e um episódio de Casos de Família. 

Existem certos filmes que conseguem lidar com casos excepcionais como estes, mas eles são raros. O drama que a jovem Amber passa durante Quase uma Rockstar é tanto, e tão triste, que no meio do filme é quase impossível não se lembrar de À Procura da Felicidade, longa que rendeu a indicação ao Oscar de Will Smith. Mas o fato do filme de 2006 ser baseado em uma história real é um de seus maiores triunfos. Aqui, a trama pesa tanto nas durezas da vida, quanto no açúcar, nunca realmente conseguindo achar um equilíbrio real. Quase uma Rockstar pretende mostrar a realidade do mundo jogando a protagonista em desastre atrás de desastre, recompensando com um final feliz que, em contraste com o filme inteiro, soa só desproposital. 

Mas o filme tem sim seus elementos redentores, e o maior deles está em sua protagonista. Amber parece uma fada colocada no mundo real para sofrer, mas a interpretação surpreendente de Auli’i Cravalho - e eu digo surpreendente porque até hoje a atriz é popularmente conhecida pelo trabalho de voz em Moana: Um Mar de Aventuras - é realmente cativante. Sem Cravalho, Amber soaria absurda, mas a atriz entrega uma performance tão sincera e serena que não apenas carrega o filme, como redime seus coadjuvantes. Jogados ao escanteio estão Carol Burnett, Fred Armisen, Justina Machado e Judy Reyes, uma equipe que sem a liderança de Cravalho pareceria perdida em um drama sem recompensa. 

Quase Uma Rockstar tem uma trama inesperada. Apesar de parecer que estamos acompanhando a jornada de Amber para a sua sonhada faculdade de música, o mundo dá certos tapas na cara da protagonista que ela se vê envolta em problemas que parecem incontornáveis e entra em depressão. Mas claro que existe uma luz no fim do túnel para lembrar que o filme é baseado no livro de Matthew Quick, conhecido pelo Lado Bom da Vida. Subitamente, somos transportados para um universo onde pessoas boas podem fazer um virada de 180º na vida de quem precisa. 

Há um certo charme em Quase uma Rockstar, que se sustenta em sua açucarada mensagem otimista, mas que certamente não teria acertado o alvo não fosse por Cravalho. Enquanto o filme nunca realmente acha o seu universo certo, ele é bem-sucedido no fator comovente, nem que seja porque ele te encheu de socos para fazer chorar. Não há tanta pretensão, pelo menos, o que faz com que ele consiga existir modestamente neste universo singelo, uma bolha onde a vida é uma pedra dura de doce de leite.

Nota do Crítico
Regular