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Crítica

Outer Banks empolga mais em segunda temporada

Apesar de irregular e folhetinesco, novo ano da série diverte

30.07.2021, às 12H21.
Atualizada em 30.07.2021, ÀS 12H57

Uma das propriedades mais fortes do folhetim enquanto gênero é sua responsabilidade de sempre trazer ao espectador uma promessa de novas reviravoltas, que garantam a compra da edição seguinte (no passado) ou a espera pelo capítulo seguinte (no presente). O folhetim é caracterizado como um produto destinado ao popular e em se tratando de narrativas teledramatúrgicas, esse “popular” acaba encontrando suas raízes na desvalorização de uma história enquanto conteúdo e com mais atenção nela enquanto estrutura. Não é sempre assim, mas com a desculpa de ser mais “acessível”, autores se escudam no folhetim para justificar péssimas decisões criativas.

Para deixar isso mais claro, podemos relembrar a série Revenge (2011), que chegou à TV com uma premissa de vingança que faz parte do DNA do folhetim e das novelas há muito tempo. A protagonista voltava para vingar a morte do pai, punindo ou eliminando os envolvidos. A história dependia disso para ter sentido, motivação. Mas, algumas temporadas depois, o desespero dos roteiristas para manter o interesse do público era tanto, que eles preferiram esvaziar toda a base dramática em que tinham apoiado sua trama e “ressuscitaram” o pai da moça. Foi um choque. E foi uma surpresa, que não necessariamente fez bem para a série.

Outer Banks, a alaranjada produção da Netflix, foi apresentada ao público como uma série de aventura, uma caça ao tesouro. Seus “adolescentes” que nunca estudavam ou obedeciam aos pais, partiam em jornadas de descobrimento pessoal, feitas através da busca pela verdade e pelo ouro que a representava. Havia em sua primeira temporada uma tentativa de manter todo o enredo apoiado nessa engrenagem quase cinematográfica. Conforme os episódios passavam, o romance entre John B (Chase Stokes) e Sarah (Madelyn Cline) ia tomando a frente e “novelizando” o resultado final. Outer Banks terminou seu primeiro ano com vilanias, assassinatos, fugas mirabolantes, tudo misturado sem muito critério, sem controle, mas muito bem produzido.

Como costuma acontecer com séries que flertam com essa obrigação de surpreenderem a todo custo, logo a premissa original vai ficando para trás. Com Outer Banks não foi diferente. Quando a segunda temporada começa, a busca pelo tesouro fica em segundo plano e a rivalidade entre John B e o pai de Sara, Ward (Charles Esten), toma a liderança. John B e Sarah foram dados como mortos no final da primeira temporada, enquanto Ward precisou lidar com as consequências do assassinato da xerife da cidade, executada pelo filho dele, Rafe (Drew Starkey). Nada disso privilegiava a caça exatamente, mas ao reconhecer os dois pilares da temporada, o trio de criadores da série conseguiu um feito: tornar esse segundo ano mais organizado e mais interessante.

Ping Pogues

Já é uma realidade que os produtores executivos do mundo seriado dividam suas temporadas em duas partes. É natural, inclusive, chamá-las de A e B. Em Outer Banks, temos a temporada 2A e 2B, com arcos bem definidos, que começam no episódio 1 e mudam no episódio 6. Desse jeito, a sensação de organização é bem-vinda, sobretudo porque os episódios passaram a se desenvolver em no máximo dois arcos cada. Assim, enquanto John B e Sarah tentam resgatar o ouro, os Pogues estão tentando limpar seu nome com a polícia. Ward, então, tem que se movimentar para proteger seus segredos.

Essa primeira metade, inclusive, é a que te traz de volta para o ritmo da série e te empolga de verdade, com boas viradas e surpresas. A torcida pela convergências dos dois arcos vai crescendo, funcionando, dando à série uma identidade que vai além da fotografia exagerada que persegue absolutamente todas as cenas. Nessa primeira metade tudo parece tão fluído que é possível se importar com os personagens, um feito que a temporada 1 tentou e não conseguiu realizar. O maior problema de Outer Banks sempre foi esse: tornar seus personagens queridos, fortes, essenciais.

O bom chute inicial, contudo, perde força quando chegamos até a metade 2B, que resolve as tensões dos primeiros episódios com recursos narrativos previsíveis e abatidos. A caça ao tesouro se potencializa, Pope (Jonathan Daviss) ganha a frente da trama quando ela é correlacionada com questões sociais e John B desaparece. Elizabeth Mitchell aparece como convidada no melhor estilo vilã maniqueísta, manca e com um capanga a tiracolo. Saem as barras de ouro e entra em cena uma cruz gigante cravejada de brilhantes. O “rocambole” vai sendo enrolado e a coerência se espreme entre as camadas do imbróglio.

Brincando de “dar e tomar de volta”, os roteiristas fazem os pogues alcançarem seus objetivos, mas providenciam coisas idiotas para anular o avanço. Um exemplo cabal disso foi a crise alérgica de Pope no meio de um grande passo do roteiro. O personagem toma uma anti-alérgico que o transforma num estúpido completo e é dessa maneira que os roteiristas atrasam aquele grande passo que eles só fingiram que deram. Isso sem falar na obsessão da série pela falsa morte. Depois do competente episódio final (todo centrado num navio), somos obrigados a engolir a mesma “artimanha” pela terceira vez. Toda a boa evolução da parte 2A é destruída pelos devaneios da parte 2B.

Contudo, Outer Banks tem todos os elementos para seguir tranquila no catálogo da Netflix. Elenco jovem, muita ação, reviravoltas loucas e apesar de questionável no texto, muito bem produzida e ambientada. Como “nem tudo que reluz é ouro”, é prudente manter a cautela. O mundo alaranjado (ou seria dourado?) da série pode te fisgar também no melhor estilo folhetim: de repente, sem aviso, você segue assistindo temporada após temporada e nem sabe por que. Nem tão boa e nem tão ruim, Outer Banks te atrai pelo “brilho”.

Nota do Crítico
Bom