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Crítica

Outer Banks - 1ª Temporada

Série sobre caça ao tesouro não oferece nada de novo, mas também não comete erros

25.04.2020, às 19H13.
Atualizada em 27.04.2020, ÀS 11H51

Quando qualquer dramaturgia focada em caça ao tesouro é anunciada, a primeira coisa que passa pela cabeça da maioria dos nerds e fãs de cinema do mundo é Os Gonnies, de 1985. O filme de Steven Spielberg se tornou a referência maior não só dessa premissa (que Indiana Jones também explorou tão bem), mas da estrutura infanto-juvenil que renasceu na última década por causa de Stranger Things: jovens excluídos, desajustados, que saem por aí em bicicletas resolvendo mistérios e se deparando com perigos e aventuras fantásticas.

Outer Banks, a série criada por Josh Pane, Jonas Pate e Shannon Burke, também mostra jovens correndo atrás de um tesouro, mas é como se a mesma ideia fosse transportada de um ambiente infanto-juvenil para um apenas juvenil. Vendida como um “drama teen” por conta de todo o grande apelo que o gênero tem alcançando na Netflix, a série tem muito mais a atmosfera de um filme de aventura, do que de uma produção focada em problemáticas adolescentes. E isso não se deve só ao fato de termos em mãos um elenco que em nada transmite a ideia da adolescência, mas também ao fato de que as estruturas narrativas adotadas promovem o protagonista a uma posição que não pode ser alcançada por mais ninguém na produção. E sabemos que Os Gonnies e Stranger Things, por exemplo, eram sobre coletividade.

Na trama, o jovem John B (Chase Stokes) vive uma vida desajustada numa bela cidade litorânea dos EUA. Seu pai desapareceu sem deixar rastros e ele está sempre a um passo de ir para lares adotivos. Além de trabalhar no que pode, ele divide essa existência sem amarras com um grupo de amigos que se denominan Os Pogues e também são cheios de problemas familiares ou pessoais. Quando um furacão alcança a costa da cidade e deixa tudo revirado, John B encontra pistas sobre o paradeiro de seu pai, que desapareceu por conta de um mistério envolvendo um tesouro perdido. John B estaria tranquilo para ir atrás não só do pai como do ouro, se não fosse interferência de uma poderosa família local que tem muitos interesses escusos movendo as peças do jogo.

Ouro dos Tolos

Embora a identidade artística da série seja muito distante das obras que trabalham com a mesma premissa, Outer Banks se joga inteira na boa e velha “caça ao tesouro”, com direito a mapa, pistas desvendadas com insights repentinos e aventuras clássicas dentro de residências “assombradas”. A série segue os códigos do gênero, mas se esquece de um fator importante dessa carpintaria: o humor. Em alguns momentos chega a ser discrepante a ideia de termos uma dramaturgia que se leva tão a sério e ao mesmo tempo coloca seus personagens dizendo palavras como “lenda” e “tesouro”. O enredo da série leva tudo ao extremo e não oferece ao espectador absolutamente nenhum alívio cômico. Nem mesmo o investimento no romance entre John e Sarah (Madelyn Cline) consegue aliviar a tensão constante.

Isso não chega a ser exatamente um problema. Além de valorizar corretamente as belas paisagens da cidade e de dar a elas uma fotografia que parece estar num pôr do sol constante, a direção dos episódios é nervosa, urgente. Os roteiros usam os clichês de forma honesta e mesmo que absolutamente nada de surpreendente aconteça, tudo é feito com competência e de maneira correta. Outer Banks não reinventa a roda, ela nem mesmo tenta, mas isso não significa que o espectador não possa ser entretido com uma história coerente, ainda que ele saiba exatamente para onde ela vai. Esse é o resumo da produção: você tem plena consciência de tudo que vai acontecer, já viu essa história milhões de vezes, mas não custa nada continuar seguindo só para ver se o tal do ouro vai mesmo ser encontrado.

Quando chegamos na reta final, a série apresenta uma consistência admirável na ação a que se dedica e deixa bons ganchos para a próxima e vindoura temporada (que deve se passar em duas locações diferentes). Talvez no próximo ano os criadores sejam capazes de oferecer mais consistência na abordagem dos personagens secundários e mais profundidade em seus dramas pessoais. O grande problema é que “Os Pogues precisam de um mapa para encontrar um pouco de carisma. Outer Banks é mediana, mas não comete pecados e conseguiu apresentar uma primeira temporada digna e direta. O “tesouro” para aumentar seu potencial está por aí, ela só precisa descobrir onde está.  

Nota do Crítico
Bom