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Crítica

O Processo - 1ª temporada

Série italiana da Netflix mistura Law & Order com novelas para entregar bom drama criminal

17.04.2020, às 20H10.
Atualizada em 17.04.2020, ÀS 21H37

Em pleno 2020, utilizar a fórmula do “quem matou” em qualquer produção, seja ela da TV ou do cinema, não sustenta a qualidade de uma narrativa. Desde os primórdios da ficção, se você não tem uma boa história (e não sabe contá-la), não importa quem seja o assassino: sua série/filme não vai vingar. O Processo, nova série italiana original da Netflix, parece ter sido produzida pensando exatamente nesse contexto.

Mesmo dentro do catálogo da plataforma, há inúmeras séries, originais ou não, que utilizam a fórmula citada para colocar um tempero a mais em suas tramas. O grande diferencial de O Processo é utilizar outros elementos de sucesso para formar o bom drama que nos é apresentado durante os oito episódios. A história começa com o corpo da jovem Angelica Petroni (Margherita Caviezel) sendo encontrado boiando em um rio da cidade de Mântua, na Itália. A promotora pública da região, Elena Guerra (Vittória Puccini), se torna a encarregada do caso que, após investigações iniciais, acaba envolvendo uma das famílias mais poderosas do país.

As diferenças da série para outras narrativas similares se mostram logo no início. Ao pesquisar sobre a vida de Angelica, uma jovem que começou a se tornar rebelde após a revelação de que era adotada, Elena descobre ser ela a mãe verdadeira da garota. Seu envolvimento emocional com o caso fica claro, e ela passa a ser implacável com a principal suspeita do assassinato, a rica e poderosa Linda Monaco (Camilla Filippi). O responsável por defender Linda é o advogado Ruggero Barone (Francesco Scianna), amigo do marido da acusada – e também envolvido emocionalmente com o caso.

A partir daí o que observamos parece um spin-off italiano de Law & Order. A série original criada por Dick Wolf no início dos anos 90 fez sucesso por colocar advogados, promotores e detetives lado a lado para investigar e julgar os mais variados casos em Nova York. Grande parte das cenas de O Processo se passa dentro do tribunal e retrata as várias audiências que compõe o processo de acusação de Linda. O interessante é ver como os depoimentos das testemunhas tomam visões diferentes quando questionados por Elena e Ruggero. A câmera os coloca dentro dos acontecimentos e ambos nos descrevem como se passou cada cena de acordo com sua interpretação – algo parecido com o que vemos no drama The Affair, onde os protagonistas têm relatos diferentes sobre uma mesma situação.

Embora sua narrativa principal permaneça bastante linear e gire em torno dos advogados construindo seus respectivos casos, a dinâmica relacional e as memórias pessoais do lado da história de Elena tornam a ação no tribunal muito mais importante e séria. Há certo exagero na dramaticidade dos diálogos na corte e alguns momentos se tornam risíveis com a petulância de Elena e Ruggero ao questionarem as testemunhas e se provocarem entre si, mas a boa construção do mistério se sobressai.

Como espectador, você pode assistir a série como uma novela das nove cheio de dramas familiares que explora as profundezas dos procedimentos criminais. Nesse sentido, a narrativa acaba se tornando um pouco arrastada, principalmente quando focada nas relações de Elena com seus dois pretendentes. Obviamente, a origem italiana da produção também agrada no percurso, seja pelo idioma cantado ou por seus belos cenários e arquitetura. A série foi filmada em locais históricos de Mântua como Palazzo Te, Piazza Sordello, Palazzo D'Arco, Palazzo Beccaguti, Palazzo Cavriani, Palazzo Andreani e nos lagos da região.

Mesmo em seus momentos finais, em vez de se limitar a uma conclusão firme, O Processo fornece uma visão mais realista da solução do crime – o que pode desagradar alguns. A produção pode não ser o suprassumo do entretenimento, mas está longe de ser uma jogada errada da Netflix.

Nota do Crítico
Bom