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Crítica

O Declínio

Na tentativa de antecipar uma crise global, o ser humano descobre que o maior perigo é ele mesmo no violento drama da Netflix

03.04.2020, às 21H07.

Grande parte dos filmes de tragédias globais já começa com o mundo em pleno caos. Produções como Contágio, Extermínio e até The Walking Dead se aproveitam da premissa do fim do mundo prestes a acontecer ou já em andamento, não utilizando explicações muito elaboradas de como tudo começou ou como a humanidade chegou a esse ponto. A escassez de narrativas sobre como seria a preparação das pessoas para uma calamidade prestes a acontecer é o que torna O Declínio, novo filme original canadense da Netflix, interessante à primeira vista, fugindo de apresentações didáticas (e pouco críveis) que alguns filmes de catástrofe sempre entregam antes da ação começar.

A trama do longa não entrega muitos detalhes do que está acontecendo no mundo. Não sabemos exatamente em que ano estamos e nem qual o nível de perigo que a humanidade está correndo, mas as pessoas estão apreensivas em todo o planeta com o caos social e econômico que surgirá após uma crise assentar a todos. Dentro desse contexto, existem algumas pessoas que estão tentando se antecipar e garantir a sobrevivência, com é o caso de Antoine (Guillaume Laurin), que treina a sua família para fugir noite adentro se algum perigo se aproximar. Determinado em melhorar suas habilidades, ele se inscreve para passar um período em uma Base Autônoma Durável de sobrevivência. Uma vez no local, ele conhece o proprietário, Alain (Réal Bossé), e os outros integrantes do grupo. Todos sabem do perigo inevitável e esperam aprender o máximo possível para sobreviver, cada um com seus medos e conceitos próprios.

É esse instinto de sobrevivência que causa a grande virada do filme. Pensando apenas em como continuar com a vida após uma calamidade, a sacada no roteiro do trio Charles Dionne, Nicolas Krief e Patrice Laliberté é mostrar que a ameaça faz parte da nossa natureza quando nos encontramos em situações de conflito. Mesmo que Alain tenha construído uma fortaleza pessoal para viver, o ser humano ainda encontra motivos para brigar – estando ele certo ou errado.

A direção do estreante Patrice Laliberté é competente em criar o suspense em torno do combate que se inicia, mas são as peças desse confronto que deixam a desejar. Além de Antoine e Alain, apenas Rachel (Marie-Evelyne Lessard) tem uma história mais trabalhada, transformando os outros do grupo em meros coadjuvantes para contar piadas e espirrar sangue. Suas apresentações são tão rasas que é fácil perceber quem será descartável e quem será problemático.

Por se tratar de uma história sobre humanidade – e a falta dela – há pouquíssimo desenvolvimento além das cenas de ação que sustente toda a curiosidade criada de início. Pelas lentes do diretor, aceitamos que na busca por sobrevivência o ser humano tende a sucumbir a si mesmo, mas não apresenta nenhum discurso elaborado além disso.

 

Flertando com questões políticas urgentes sem realmente se posicionar sobre elas, O Declínio é um thriller violento que pode ser um pouco neutro demais em várias maneiras de se analisar. Para os mais exigentes, pode tornar quase noventa minutos descartáveis.

Nota do Crítico
Regular