Love, Death + Robots/Netflix/Divulgação

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Crítica

Crítica: Love, Death + Robots continua impressionando mesmo com 2º ano morno

Antologia da Netflix conquista pelo visual, mas poucas tramas se destacam na nova temporada

26.05.2021, às 18H02.

Quando saiu em 2018, Love, Death + Robots se tornou uma das gratas surpresas da Netflix. O projeto de Tim Miller (Deadpool), produzido ao lado de David Fincher (Mindhunter, Mank), impressionou por reunir variadas tramas de ficção científica, com ousados estilos visuais diferentes, em um pacote frenético e memorável. No segundo ano, a antologia perde um pouco de fôlego nas narrativas, mas continua impressionando pela técnica.

A temporada inédita é consideravelmente menor que a anterior, com apenas oito episódios contra os 18 da leva original. Com menos oportunidades, e consequentemente menos variedade de tramas, são poucas as que realmente acertam. Nenhum capítulo é ruim, mas a impressão geral é morna, com histórias pouco inventivas como “Atendimento Automático ao Cliente”, em que uma senhora (e seu cachorro) batalham contra um aspirador de pó assassino; ou então em “Gelo”, com um grupo de adolescentes poderosos explorando uma colônia extraterrestre. O mesmo vale para “Pela Casa”, onde duas crianças descobrem que o Papai Noel é, na verdade, um monstrão grotesco saído direto de Enigma de Outro Mundo. Nem mesmo “Gaiola de Sobrevivência”, baseado num conto de Harlan Ellison (I Have No Mouth and I Must Scream) e estrelado por Michael B. Jordan, consegue impressionar (além do visual super realista, claro).

Em todos os casos, as histórias divertem e seguram a atenção, mas passam sem marcar ou deixar qualquer tipo de impacto no espectador. É comum que antologias tenham capítulos mais fracos - encontrar as preciosidades em meio ao resto é parte do apelo. No caso da segunda temporada, elas se apresentam na forma dos episódios “Esquadrão de Extermínio” e “Snow no Deserto”. O primeiro, ambientado em um futuro à la Blade Runner, mostra um mundo em que crianças são proibidas, e tem como protagonista o responsável por eliminar as infratoras. Já o segundo, que se passa em um deserto pós-apocalíptico, acompanha um homem capaz de se regenerar como alvo de diversos caçadores de recompensas. Ambos impressionam ao mostrar universos distópicos e personagens em crise, que lutam para resgatar sua humanidade em meio ao caos. É nessa mistura de conceitos ousados, ação e sensibilidade que Love, Death + Robots se consagra.

Há também histórias que conquistam mesmo jogando seguro. “A Grama Alta”, por exemplo, dá pinceladas de um encontro Lovecraftiano quando um passageiro de trem (que, por sinal, se parece muito com H.P. Lovecraft) decide investigar um matagal durante uma parada de emergência. O mesmo vale para “O Gigante Afogado”, que fecha a temporada em um episódio mais calmo e introspectivo, em que a percepção de realidade de um pesquisador muda quando o cadáver de um homem gigante aparece encalhado em uma praia. Esses capítulos agradam e deixam uma boa impressão, mas parecem ter algo faltando para realmente elevá-los.

A força da trama pode oscilar bastante, mas a qualidade visual continua altíssima, e brinca com diferentes traços e técnicas de animação, do 3D com cell shading até stop motion. Os episódios feitos com computação gráfica fotorrealista também não decepcionam, com “Esquadrão do Extermínio” tendo uma das melhores direções de arte de toda a série, especialmente em seus ambientes melancólicos. Novamente, a quantidade reduzida de capítulos significa menos variedade estética, algo bastante chamativo da primeira temporada, mas o seriado é ótimo para aumentar e demonstrar o portfólio de estúdios de efeitos visuais. Nomes como Blur Studio (Halo, Call of Duty: Modern Warfare) e Unit Image (Ghost Recon Breakpoint, Far Cry 6) podem ser focados em criar cutscenes e filmes para games, mas aqui mostram que conseguem facilmente segurar as pontas em outras mídias.

Love, Death + Robots continua um dos projetos mais interessantes e inusitados da Netflix, e a segunda temporada acerta na estética e numa melhor representação das suas personagens femininas (que era um dos maiores problemas do ano um), mas ainda soa como um passo para trás quando se trata de variedade e qualidade narrativa. Há bons episódios, mas a sensação geral é de uma leva mais morna e de pouco impacto. É certo que muito dessa redução veio após as produtoras serem afetadas pela pandemia da Covid-19, mas o produto final ajuda a lembrar que um dos pontos fortes de qualquer antologia de contos e curtas é justamente a união de diferentes vozes e abordagens sob um único tema. Algo se perde quando isso é cortado pela metade.

Nota do Crítico
Bom