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Crítica

Cara x Cara - 1ª temporada

Nem dois Paul Rudds são capazes de salvar série da sua trama desinteressante

25.11.2019, às 15H28.

A figura do doppelgänger abre variadas possibilidades narrativas. Não à toa, o medo do duplo já deu origem a obras tão ricas e interessantes, como o conto “William Wilson”, de Edgar Allan Poe, e o recente Nós, do diretor Jordan Peele. Por isso, é surpreendente que Cara x Cara não tenha sido capaz de criar uma trama minimamente interessante a partir dos dilemas da dualidade. Dividida entre uma comédia acanhada e momentos de tensão pouco proveitosos, a série da Netflix se prova, em última instância, uma perda de tempo.

Na série, Paul Rudd interpreta Miles Elliot, um homem obviamente infeliz com sua vida. O trabalho não o empolga há anos, seu casamento está ruindo e seus únicos momentos de alegria são na companhia de uma cerveja. Cansado de se sentir mal, o publicitário descobre um spa que promete transformá-lo em uma pessoa feliz com um só procedimento. Mas o que parecia ser uma solução milagrosa se mostra um pesadelo. Miles descobre do pior jeito que a inovadora clínica, na realidade, clonava seus clientes e ele teria morrido em um cemitério improvisado não fosse um erro na cirurgia.

Tendo que conviver com um Miles “melhorado” - ou seja, um marido dedicado, um funcionário criativo e com um bom corte de cabelo -, o primeiro Miles se vê encarando seus problemas de frente, literalmente. Enquanto isso, sua cópia vive dilemas próprios. Afinal, apesar da sua recente existência, ela se sente presa às memórias e experiências do original. Infelizmente, a apatia de um e a irritante perfeição de outro minam qualquer chance desses dramas engrenarem ou, mesmo, darem sustentação para as questões existenciais que a série se propõe.

A verdade é que, embora sugira conflitos interessantes a partir da figura do doppelgänger, Cara x Cara não mergulha realmente nestas tensões. A série prefere explorar os eventos mostrando-os ora a partir da perspectiva de um protagonista, ora do outro, sem de fato desenvolvê-los. Em vez de adicionar camadas, esse intercalar de narrativas só torna tudo mais repetitivo e revela como a produção, no fundo, não tem fôlego para oito episódios.

A comédia, que teoricamente se apresentaria como um respiro neste lenga-lenga todo, entedia tanto quanto o drama. São poucas as piadas que de fato funcionam - no geral, elas não arrancam mais do que um riso tímido. Chega a ser triste ver o Paul Rudd, um ator divertido que se destaca na comédia física, preso a uma história tão sem graça.

Talvez, o criador Timothy Greenberg devesse ter desenvolvido este projeto como um longa-metragem - ou, talvez, simplesmente deixado quieto. Em uma era tão rica de séries na TV e no streaming, não é de se surpreender que essa série tenha caído no esquecimento assim que chegou à Netflix.

Nota do Crítico
Ruim