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Crítica

Bob Esponja: O Incrível Resgate

Filme da Netflix traz nova direção à franquia sem abandonar o DNA divertido

06.11.2020, às 18H44.

Com uma fórmula que fez um estrondoso sucesso na TV desde sua estreia, Bob Esponja se tornou um dos mais populares e queridos desenhos animados de todos os tempos. Para ampliar o alcance da esponja falante e seus amigos marinhos, a franquia passou a se expandir também nos cinemas, chegando ao seu terceiro filme em 2020 com Bob Esponja: O Incrível Resgate. Com lançamento planejado para os cinemas cancelado por conta da pandemia do novo coronavírus, o longa chegou ao catálogo da Netflix trazendo nova direção para um dos mais amados universos da cultura pop.

O Incrível Resgate acompanha a jornada de Bob Esponja, que, acompanhado de seu fiel amigo Patrick Estrela, parte em busca de seu caracol Gary, sequestrado como parte de mais um dos planos malignos de Plankton. Simples, a trama serve como ponto de partida para uma guinada na franquia Bob Esponja, que deixa o humor caótico de lado em favor da fofura.

É curioso que cada filme traga sua própria cota de novidades à Fenda do Biquini. Em 2004 Bob Esponja - O Filme elevou a anarquia do desenho em uma aventura recheada de números musicais, e Bob Esponja: Um Herói Fora D'Água, de 2015, trouxe a turma para a superfície em uma espécie de super-equipe à la Vingadores. A primeira grande novidade de O Incrível Resgate é sem dúvidas seu visual inteiramente em computação gráfica, abandonando a tradicional animação 2D. O que poderia ser uma forma de “adequar” Bob Esponja a uma estética que domina as animações atuais se mostra uma decisão acertada que dá uma identidade única e destoa do que está sendo produzido atualmente por estúdios mais tradicionais como DreamWorks e Warner Animation.

Não é exagero dizer que o visual é, por si só, um dos grandes atrativos do filme. Não que a animação 3D seja exclusividade do terceiro filme, já que a sequência final de Um Herói Fora D'Água mostrava os protagonistas em terra firme em computação gráfica. Porém, enquanto há cinco anos o visual dos personagens tinha pouca atenção aos detalhes, a direção de arte do novo filme é impecável. Com uma animação que lembra stop-motions, o novo filme enche os olhos ao se aproveitar de cenários clássicos e também apresentar novas locações como Atlantic City ou o Acampamento de Verão.

Mais do que nas paisagens, o novo visual se destaca também na caracterização dos personagens, criando situações que justificam o uso da tecnologia. Não que perceber a aspereza do Bob Esponja ou a pelugem da Sandy ajudem a contar a história, já que a própria série animada já mesclava texturas e visuais literalmente realistas nos hipercloses e momentos fora d’água, mas certamente acrescentam à proposta de repaginar a franquia. De todas as mudanças propostas pelo filme escrito e dirigido por Tim Hill, o visual é sem dúvidas o que se sai melhor. O mesmo não pode ser dito sobre sua história.

Não demora muito para que O Incrível Resgate revele suas diferenças com o tradicional tom da franquia. Ainda que o humor físico e as cores berrantes estejam presentes, o roteiro do filme está mais preocupado em cativar por momentos emocionantes. Essa escolha certamente vai agradar os pequenos - que afinal são o público alvo da produção -, mas pode desapontar fãs antigos que cresceram com a loucura enraizada no fundo do mar.

Apesar desse novo foco, é justo dizer que o DNA de Bob Esponja ainda se faz muito presente no terceiro filme da série. Mesmo que os flashbacks lembrem constantemente que um derivado focado na infância dos personagens está em produção, esses momentos não chegam a ser nocivos como em Scooby!, que sacrificou boa parte de seu enredo em nome do fan service. E olha que o novo Bob Esponja tem várias referências para os fãs mais atentos.

Os pontos realmente baixos do filme aparecem quando o roteiro segue uma espécie de cartilha estabelecida pelos longas anteriores. Alguns de seus momentos menos inspirados - cameos de personalidades do mundo real como Keanu Reeves, até um desfecho que envolve redenção - parecem encaixados quase que por obrigação. Considerando que o próprio texto faz piada com clichês do cinema, essas sequências diluem a empolgação e criam barrigas em uma história que estava indo bem por conta própria.

Com uma animação de encher os olhos e uma história voltada à fofura, Bob Esponja: O Incrível Resgate inaugura uma nova era em uma das mais queridas franquias da cultura pop. Ainda não se sabe se a turma vai abandonar de vez o caos que tomou conta do fundo do mar em todos esses anos, mas caso aconteça pelo menos as novas gerações vão acompanhar a reinvenção de um clássico que não parou no tempo.

Nota do Crítico
Bom