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Crítica

A Força da Natureza falha com sucessão de absurdos

Filme com Mel Gibson e Emile Hirsch não consegue ir além dos exageros nonsense

05.04.2021, às 16H53.
Atualizada em 05.04.2021, ÀS 17H59

Depois de uma hora e quarenta de assalto a banco, policiais traumatizados, briga no mercado, aposentados rabugentos, uma fera domesticada e roubos de obras de arte no contexto de uma calamidade pública em Porto Rico, é difícil entender sobre o que exatamente é A Força da Natureza. O longa de 2020 de Michael Polish, que chega ao Brasil pela Netflix, é um longo exercício de aleatoriedade, permeado por decisões questionáveis, que parece existir apenas para dar a Mel Gibson e Emile Hirsch - dois atores com históricos de violência na vida real - papéis controversos nas telas.

É curioso que A Força da Natureza tenha consciência cultural o suficiente apenas para estereotipar os personagens que insere em sua trama. Digo curioso porque a escalação de Hirsch e Gibson como policiais bonzinhos, em 2020, já seria absurda por si só. Mas o longa desmorona tão drasticamente que a questão chega a ser deixada para trás assim que o filme se desenvolve. Aqui, além da gangue porto-riquenha contra os heróis caucasianos, temos também a latina novata, a mocinha médica, o alemão assombrado pelo passado nazista e por aí vai. 

Hirsch vive o tipo traumatizado, ex-tira em Nova York, que se alia a uma policial novata para ajudar a evacuar a cidade caribenha com a aproximação de um furacão. Ao mesmo tempo, uma gangue local descobre a localização de certas obras de arte valiosas, e precisa encontrá-las e roubá-las independentemente da ameaça climática (o motivo pelo qual a gangue não simplesmente espera a ameaça passar para seguir com o plano é incerto). 

Claro que os dois núcleos se encontram em um único prédio, onde Castillo (Hirsch) e Pena (Stephanie Cayo) tentam convencer o ex-policial doente Ray (Gibson) e sua filha Troy (Kate Bosworth) a procurar abrigo. Mas calma, A Força da Natureza não para por aí - no mesmo prédio também temos Griffin (William Catlett), o responsável pela briga no mercado citada acima, porque ele queria comprar 40 quilos de carne para alimentar uma fera que ele guarda em seu armário. 

O que tudo isso significa não poderia ser descrito de outro modo além de, apenas, A Força da Natureza. A incoerência da trama e a superficialidade dos personagens do longa de Polish é tão óbvia que nem as cenas de ação se salvam. A perspectiva de rever Gibson no papel de tira durão se esvazia rapidamente, assim que o filme demonstra estar mais interessado em lucrar na reputação do ator do que em oferecer-lhe um papel realmente interessante. Em todo esse cenário, é a pobre Stephanie Cayo que se salva, e suas interações com o personagem de Gibson são a única remota esperança de recompensa que o filme oferece. 

No fim das contas, A Força da Natureza conclui com uma cena que parece ter saído de uma aventura dos anos 1990 e faz o espectador questionar a própria sanidade. Tanta coisa já tinha se passado que me vi questionando minha mente: “será que este filme não é um retrato brilhante da completa aleatoriedade da vida e sua falta de sentido?”. O questionamento se foi tão rápido quanto qualquer lembrança de A Força da Natureza. Pelo menos temos isso - ele é facilmente esquecível.

Nota do Crítico
Ruim