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Yes! Nós temos <i>Bananas</i>

Yes! Nós temos <i>Bananas</i>

MS
27.08.2003, às 00H00.
Atualizada em 20.12.2016, ÀS 17H05
Bananas - Deep Purple
[ análise faixa a faixa ]
5 ovos!

Os seis cavaleiros do apocalipse púrpura

Steve Morse gravando com o violão no estúdio (provavelmente Never a Word ou Contact Lost)

Roger Glover checando seus emails no estúdio

A banda trocando idéias no estúdio

Silêncio! Gênio escrevendo letras

Após cinco anos longe do estúdio, o Deep Purple lançou, na segunda-feira, o disco Bananas, um dos mais esperados de sua carreira. A turnê de lançamento começa pelo Brasil - o país da Carmen Miranda, onde mais? -, em 10 de setembro, passando por sete Estados. Confira aqui as datas.

Bananas é um libelo contra o senso comum politicamente correto. Do título inusitado à capa a la Pearl Jam, tudo tem esse propósito. Ian Gillan gosta de fustigar o que chama de idiocracia: Eles já ordenaram que os shows de rock devem ser quietos, que as bananas devem ser retas, e quando a invasão dos transgênicos acontecer, elas também (as bananas) serão todas idênticas, escreveu em seu website. Contra o senso comum de que velhos roqueiros devem ser bananões vivendo do passado, o novo lançamento é um dos mais singulares da carreira dos veteranos bretões. Em Bananas, nenhuma das doze músicas escorrega na casca, e o disco desce tão redondo que dá pra deixar no repeat o dia inteiro.

O disco é o primeiro em 35 anos a ser gravado sem o tecladista Jon Lord, que fundou o Purple em 1968 e saiu para compor concertos. Mas o teclado Hammond continua ronronando nas músicas, sob o comando do experiente Don Airey. Ele já havia coberto uma licença-saúde do Lord em 2001, e no ano passado foi empossado. Bananas também é o primeiro disco que lista sete nomes diferentes de compositores. Ive got your number vinha se desenvolvendo ao vivo desde o ano passado, com o título Up the wall. Foi composta com Lord e gravada com Airey, e nas sessões de gravação teve pitacos do produtor.

Para compor e gravar, o grupo trancou-se em um estúdio de Los Angeles por duas vezes: uma em dezembro, durante três semanas, e outra entre janeiro e fevereiro. O produtor, Michael Bradford, acabou ajudando na composição de três faixas: além de melhorar Ive got your number, compôs House of pain e Walk on com o Gillan. Por seu envolvimento na criação do disco, Bradford acabou virando um sexto Purple. Isso, somado às influências naturais que cada membro do Purple traz de casa, levou à introdução de vários ingredientes novos, como uma colher de heavy salsa, uma pitada de rap e bom-humor a gosto. Mas os riffs poderosos continuam lá, na velha química que funde teclado, guitarra e baixo - marca registrada do Purple.

Pela primeira vez em sua história, o grupo ficou antenadíssimo para algumas características que tornariam as músicas mais palatáveis para não-fãs sem descaracterizar o som do Purple. Nisso, Bradford teve muita influência. Está aí a faixa Haunted, que será o primeiro single, para provar. Da forma como ficou, pode virar trilha sonora em Hollywood (ou até na novela das oito) sem nenhum demérito para a banda. Com o potencial do disco, a EMI alemã encampou o trabalho e passou a tratar o lançamento como prioritário, merecendo a mesma pompa que o Metallica recebe.

O Deep Purple é uma banda fascinante, disse Bradford em entrevista por e-mail ao Omelete. Eles são muito versáteis, e são fãs de música desde o jazz até o blues, a ópera e o hard rock. Foi provavelmente por isso que confiaram em mim. Sabem que não se deve julgar um livro pela capa. Nem um disco, por mais que a capa e o título de Bananas sejam incomuns e tenham causado piadas nos fóruns de fãs.

Na produção, Bradford joga com as diferentes camadas da música, dando um senso de espaço ao som. Ele acrescentou harmonias vocais, guitarras e teclados. Em Never a word, Gillan faz dueto consigo próprio, lembrando o MPB 4. O rap aparece num trecho da música Doing it tonight, uma espécie de heavy salsa. Essas duas são as músicas mais diferentes do disco, ao lado da instrumental Contact lost, composta em homenagem aos astronautas do ônibus espacial Columbia, que explodiu em fevereiro.

Uma das astronautas, Kalpana Chawla, era fã do Purple e amiga de Gillan e Morse. Na tarde após a explosão, Steve criou uma peça bastante calma e triste em homenagem aos mortos. Difícil não se arrepiar ao ouvir conhecendo a história. Quando a faixa estava produzida, o primeiro a escutá-la foi JP Harrison, viúvo de Kalpana, em um MP3 preparado especialmente por Steve. Fica bastante óbvio que vem do coração, comentou Harrison em entrevista por email.

Com toda a sutileza da produção, algumas sacadas sonoras ficaram impossíveis de reproduzir ao vivo. Bradford tem a resposta na ponta da língua: Não acho que seja ruim um disco ter mais coisas do que você pode tocar ao vivo. Ao vivo é o momento, o estúdio é uma tela que você pinta e com que você vive pra sempre. Quanto mais textura você trabalhar, mais terá pra descobrir ao longo do tempo.

O Deep Purple é uma das bandas que mais mudanças teve em sua formação desde seus primórdios. Ao todo, quatorze músicos já passaram pelo grupo, e os históricos das bandas formadas e integradas por eles forma uma das mais frondosas árvores genealógicas do rock. Da fase mais conhecida, que gravou In rock e Machine head, apenas três ainda estão na banda: o vocalista Ian Gillan, o baixista Roger Glover e o baterista Ian Paice. Mas não interessa se são coroas: no caso deles, panela velha é que faz música boa.

Para quem já conhecia e curtia o Purple, o novo disco não fica devendo nada a nenhum dos lançamentos anteriores. Para quem tem preconceito com bandas de senhores grisalhos, é a prova de que nem todos os coroas vivem apenas das glórias passadas. Para quem não conhece, é a melhor chance de se iniciar. Depois de Bananas, pode procurar também os relançamentos de Fireball (1971), Made in Japan (1972) e do Concerto para grupo e orquestra (1969), todos com edição nacional pela EMI.

Clique aqui para a análise faixa a faixa do lançamento