A última noite do Tim Festival reuniu duas bandas que apostam em vertentes diferentes do indie rock, mas que mostraram ter muito em comum: além de serem baseadas no Brooklyn nova-iorquino e terem ganhado mais pontos na escala hype com os seus discos mais recentes, são chegadas em enganar as expectativas do público.
MGMT
The National
MGMT
The National
A primeira é The National, que subiu ao palco depois de um bom show da brasileira Cérebro Eletrônico. Apesar de ter quase dez anos nas costas, o quinteto chego por aqui na glória indie de Boxer, seu último registro.
O som destes americanos de Ohio é dramático e abafado, o que sempre gerou comparações a bandas como Joy Division. Mas ao vivo, pelo menos no show paulistano, quem esperava uma banda soturna se decepcionou.
Os nacionalistas são, sim, introspectivos. Mas de uma forma quase agressiva com seus instrumentos. É como se, a qualquer momento, eles possam querer degolar o público com o arco do violino que acompanha algumas das faixas.
Apesar de parecer boa (e poderia ser), toda essa fúria prejudicou a performance da banda, que tinha tudo para ser excelente. As faixas aparecem, então, afobadas e emboladas. É como se cada um tentasse se sobrepor a outro. A bateria briga com a guitarra, que briga com o violino, que briga com os metais, que brigam com o vocalista. E por aí vai a confusão (que não diminuiu com o som defeituoso do festival, naquela noite)
É na voz de Matt Berninger - grave, bela e profunda - que as músicas do National se sustentam. Tanto que os melhores momentos da apresentação aconteceram quando a banda baixou a bola e deixou o sisudo vocalista fazer seu trabalho. Daí saíram pérolas como "Abel" (de Alligator, lançado em 2005), "Mistaken for strangers" e o hit "Fake empire". Bons momentos, mas poucos para uma banda desse porte.
Em seguida, a outra "enganação" veio por parte da dupla MGMT. De influência setentista, a banda formada por Andrew Van Wyngarden e Ben Goldwasser tem a fama de ser hippie, psicodélica, leve e com viés um pouco dançante - culpa de Oracular spectacular, seu segundo álbum.
Em São Paulo, o que se viu foi uma banda que resolveu virar o pé da psicodelia e seguir no trajeto do progressivo pesado, aproveitando a oportunidade para ensurdecer a platéia no meio do caminho. Era de se esperar, já que os dois entraram no palco encenando um julgamento de ursinhos de pelúcia - devidamente enforcados e despedaçados ao longo da noite.
Era o fim da inocência. E da paciência, para quem tentava ouvir o que acontecia no palco. A vontade dos MGMT de fazer barulho, mais as dificuldades técnicas do som do festival, enterraram faixas como "4th dimensional transition", que abriu o show. A voz de Andrew ou os teclados, tudo morreu num bolo sonoro de doer os tímpanos.
A coisa toda só melhorou um pouco na terceira música, quando a banda emendou o hit "The youth" e animou um pouco os fãs de faixa colorida na cabeça. Mais pra frente viriam "Electric feel" e "Kids", mais a obrigatória "Time to pretend", que levantaram o público como deveria acontecer.
Com boa presença de palco e estúdio, dá pra ver que a MGMT é daquelas bandas que sabem fazer uma apresentação redonda. Mas só quando querem. O potencial de um dos shows mais marcantes do Tim 2008 foi por água abaixo com essa vontade deles de ir para os anos 70 e ficar por lá. E só serviu para encerrar de maneira morna um festival morno. Até que combinou.