Em meados dos anos 90 um estilo musical, diferente de tudo o que estava sendo tocado popularmente nas rádios mundo afora naquela época, começava a dar as caras e causar, de início, uma certa estranheza.
Errou quem disse que era a invasão das bandas de Seattle e seu "grunge", já que nesta época elas começavam a dar sinais de estafa e lentamente sumiam do mapa.
É sabido que na Europa, a cultura rave e a música dance e eletrônica estavam bem disseminadas há anos, porém, só ao chegar aos EUA é que ganharam força e ditaram moda pelo mundo todo.
Eis que em 1995 e 1996, nomes como Prodigy e The Chemical Brothers, ambos vindos da Inglaterra, começavam a se destacar na terra do Tio Sam.
O primeiro, um grupo que misturava música eletrônica com rock n´roll e punk, chegava às paradas com o single "Breathe" e, de cara, chamava a atenção de todo mundo. Eles não ficaram restritos somente ao público de música eletrônica. Com sua atitude, alcançaram fãs do pop ao rock.
Já o segundo... não vou nem entrar em detalhes para não me demorar demais, mas vale lembrar que o Chemical Brothers faz parte da lista de melhores artistas da música eletrônica atual e fez um show memorável no Brasil em outubro.
Voltemos ao Prodigy. Eles surgiram na cidade de Essex, na Inglaterra, em 1990, com o DJ e produtor Liam Howlett (o verdadeiro prodígio por trás do nome do grupo) e os dançarinos Keith Flint e Leeroy Thornhill. Howlett conseguiu fechar um contrato com a gravadora XL Recordings e lançou em fevereiro de 1991 o primeiro trabalho, chamado What Evil Lurks. Basicamente, era uma mistura de acid house e hardcore breakbeats.
Em 1992, lançaram Experience. Mixando breakbeat com samples dos vocais da lenda dub Lee "Scratch" Perry, eles alcançaram as paradas inglesas. No ano seguinte, Howlett adicionou elementos ragga e hip-hop ao Prodigy ao convidar o MC Maxim Reality para fazer parte do grupo.
No mesmo ano, eles lançam o disco Music for the Jilted Generation, que é considerado o álbum de transição do grupo, passando do hard breakbeat e house para guitarras e batidas de drum n´bass, como a faixa "Voodoo People", que chegou a fazer parte da trilha sonora do filme Hackers (de Iain Softley, 1995), que tinha Angelina Jolie no elenco.
Foi em 1997 que o Prodigy lançou seu derradeiro álbum The Fat of the Land, o terceiro da carreira do grupo. O primeiro single, "Firestarter", lançado na verdade em 96, alcançou o primeiro lugar nas paradas inglesas, mas não teve o mesmo sucesso nos Estados Unidos.
Apesar de ter muitos elementos do rock (as guitarras, o vocal e as batidas), assim como "Serial Thrilla" e "Fuel My Fire" (um cover da canção do L7), "Firestarter" não chamou tanto a atenção quanto "Breathe", a música que os levou ao topo das paradas e reconhecimento global. Desde a introdução, "Breathe" era diferente de qualquer coisa produzida naquela época. Não fica claro se era música eletrônica, ou as batidas e os scratchs que vinham do hip-hop. Talvez fossem as guitarras e os vocais. A única certeza é que aquilo era muito dançante!
Foi só depois deste estouro que "Firestarter" começou a ser tocado e pedido nas rádios e até na MTV. Outros destaques do disco são "Diesel Power", a que mais possui toques de hip-hop - da batida ao vocal - cortesia de Howlett, que é o principal responsável pela ótima mistura de elementos.
As faixas "Funky Shit" (sampleada da música "Root Down", dos Beastie Boys), "Mindfields" e "Smack My Bitch up" ficam na parte hard tecno do disco.
Fat of the Land se tornou uma fonte de músicas para trilhas sonoras. "Mindfields" foi parar na trilha de Matrix e "Smack My Bitch Up" já deve ter aparecido em ao menos 5 filmes diferentes, além de ter um videoclipe deveras polêmico. Ah, se você ainda não sabe qual é a polêmica, eu é que não vou contar pra não perder a graça. Assista e depois me mande um e-mail.
Apesar de já terem passado pela fase acid house, eles não negaram que ainda tinham um pézinho na cena rave e incluem no disco as faixas "Narayan" e "Climbatize".
Entendam que a grande inovação trazida pelo Prodigy não veio somente com Fat of The Land, que está longe de ser uma obra-prima, embora seu conteúdo seja muito bom. É nas apresentações ao vivo que está toda a inovação provocada pelo grupo.
Não se trata apenas de um DJ discotecando para um grande público numa rave. Estamos falando de um show, com um vocalista com atitude e visual punk, um MC de kilt que interage com o público e um DJ que cuida de toda a mistura de elementos e que agita tanto quanto os outros caras.
Pela primeira vez, música eletrônica era tocada da mesma forma que um show de rock e isso está sendo feito até hoje por outros grupos.
Ouça:
- Experience
- Music for the Jilted Generation
- The Dirtchamber Sessions Vol. 1
Assista:
- Punks
- Electronic Punks
- Evolution: Unauthorized
- Baby´s Got a Temper (DVD)
Trilha Sonora:
- Hackers
- Matrix
- Spawn
- Event Horizon
- A Life Less Ordinary
- The Dancer
- 15 Minutes
- As Panteras: Detonando
Influências:
- Hip Hop old school
- Dub (Lee Scratch Perry)
- Punk (Sex Pistols)
- Ragga
Influenciados:
Pode-se dizer que eles influenciaram muito a maneira que os DJs se apresentam, ao mostrarem que é possível fazer boa música eletrônica com uma banda.