Depois da síndrome do pânico gerada pelo tumulto Prodigy no ano passado, o Skol Beats parece ter encarado uma sinuca de bico: ou crescia e se tornava um evento descaradamente pop, ou se retraía, voltando às bases do mundinho eletrônico.
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Acabou ficando pelo meio do caminho. A edição 2007 do festival montou um espaço gigante demais para um público menor, elitizado pelo preço mais alto, pelo lineup sem mega-nomes populares e pela divisão do evento em dois dias, sexta e sábado. Também pegou o fim de semana errado, batendo de frente com a Virada Cultural promovida pela Prefeitura da cidade - que armou palcos gratuitos de música eletrônica, um dedicado só ao trance, gênero de audiência leal que foi ignorado neste ano pelo SB.
Para quem estava mais interessado mais em sacar a evolução da música moderna do que ver os baluartes da eletrônica, três nomes importantes brilhavam no lineup: MSTRKRFT e Afrika Bambaataa, na sexta-feira, e Simian Mobile Disco, no sábado.
Tudo começou mal logo no primeiro dia com o cancelamento do MSTRKRFT - a dupla encerraria a manhã da sexta, mas ficou presa em Buenos Aires. Afrika, por outro lado, sofreu nas mãos do sistema de som da tenda black, que apresentou defeitos por toda a noite. Foram intermináveis 40 minutos com técnicos correndo entre os fios e seu time de MCs (incluindo seu filho, TC Izlam) pentelhando a audiência aos microfones, tentando quebrar o silêncio. Era visível a irritação do homem, enquanto mexia nas picapes mudas. Quem teve paciência para ficar, diz que o set foi antológico.
A bola ficou toda para o SMD, no sábado. Os ingleses, com álbum a ser lançado no meio do ano, entraram com uma hora de atraso, depois do interminável momento "alô, Ibiza" de Guy Gerber, já com o sol aparecendo. Mais conhecida pelos seus remixes, a dupla preparou um set no estilo "indie cabeçudo", se exibindo mais do que fazendo a platéia dançar, com viradas bruscas de andamento e cortes secos na seqüência das músicas. Klaxons e Cansei de Ser Sexy apareceram no meio da apresentação, que não foi de todo ruim, mas poderia ser mais animada.
O primeiro dia teve bons destaques no palco principal, como as porradas graves do inglês Nathan Fake, tocando para quase ninguém, o grupo 20 20 Soundsystem, que teve o azar de tocar ao mesmo tempo de Bambaataa, e a dupla Addictive TV, que se redimiu das suas apresentações frustradas no ano passado, no Motomix.
Os VJs, que remixam som e imagem ao mesmo tempo, misturaram Cidade de Deus, Sex Pistols, Willie Nelson, Elvis Presley com The Streets, Queen com Quentin Tarantino. Antológicos, bem ao contrário do dispensável e velho SugarDaddy - os filhotes do Groove Armada lembraram os Stereo MCs no Skol Beats de 2003, mas sem a dose de nostalgia destes. Se nem o vocalista conseguia se empolgar com suas músicas, não dá pra esperar muito do público.
O live do Crystal Method, com um som pesado, quase punk, foi um dos grandes momentos do palco no sábado, mas o destaque mesmo ficou para a dobradinha dos Cuban Brothers com os brasileiros do Bonde do Rolê.
Os primeiros fizeram uma apresentação que parecia um show do Máskara pré-adolescente. O vocalista Miguel pegava nos bagos e falava baixarias em espanglês. E, entre uma bobagem e outra, cantava rumbas eletrônicas, com as percussões todas em loop, e seus backing vocals dançando break.
Como se fazer uma cover de "Just", do Radiohead, já não fosse esbórnia o bastante, o final da passagem do grupo pelo palco gerou cenas históricas. Vestido com um tapa sexo, chapéus e óculos escuros, o gordinho Miguel gastava todo seu potencial sexy em uma versão de "All night long (All night)", de Lionel Richie.
Foi a transição perfeita para o Bonde, que apresentou um show mais redondo que o do Tim Festival, em 2006. O grupo de funk-metal-bagacento, cujo CD de estréia vazou para a Internet neste fim de semana, vinha de mais uma de suas turnês pelo hemisfério norte e conseguiu conquistar a platéia trincada do Skol Beats. Se enganou quem achou que os curitibanos levariam tomatadas da paulistada: o trio conseguiu atenção maciça, divertiu todo mundo (apesar dos momentos mais confusos, principalmente nas músicas mais novas), botou os funcionários da limpeza para dançar e ainda saiu do palco sob o coro de "gostosa", para a vocalista Marina. Quem diria...
Apesar dos momentos de brilho no grande palco, o Skol Beats tem muito que refletir, principalmente se considerarmos que a tenda mais bem sucedida foi a mais distante do bolo (com uma programação de DJs "fáceis", na sexta, e dedicada ao drumnbass do DJ Marky, no sábado).
A segunda tenda (black, na sexta, e com DJs top de linha no sábado) passou os dois dias enfrentando problemas no som, além da costumeira (e sempre desagradável) chuva de suor. E o palco principal, este ano, teve sua validade questionada: por mais divertido que seja dançar ao ar livre, nenhuma das atrações escaladas precisava de um espaço tão grande, ainda mais com o frio que fez no descampado.
O que não pode é ficar nesse meio termo, não sendo nem um festival pequeno, nem um gigantesco. Ou abraça as massas, como vinha fazendo, ou diminui tudo e prepara um lineup mais moderno e conciso, só para os iniciados.
E um apelo a mais: desistam dessa idéia de forçar o público a caminhar madrugada adentro naquele chão repleto de pedregulhos. Não há pé que agüente. E dá uma saudade do chão de concreto do Sambódromo...