No entanto, a relação do Rock and Roll com Tolkien, que explodiu nas décadas de 80/90, juntamente com a maior popularização do Metal na Europa, não é de hoje. Já nas décadas de 60 e 70 bandas de rock admitiam a influência exercida por Tolkien em suas composições. É de conhecimento público que mesmo os Beatles eram fãs do escritor e tinham planos futuros de fazer um filme em que cada um interpretaria um personagem criado pelo escritor. Infelizmente a banda se dissolveu antes de levar o projeto a cabo.
Falando de influências mais concretas, em que algo realmente foi produzido influenciado pelo escritor, temos muitos exemplos, dentro do rock progressivo, do heavy metal e mesmo dentre bandas de estilo mais agressivo, de trash/death/black metal. Dentro do Rock Progressivo, é fato conhecido de que o Marillion retirou seu nome justamente do Silmarillion; Em Fly By Night (1974), os músicos do Rush gravaram a emocionante Rivendell, nome inglês para Valfenda, como mostra o trecho: Elven songs and endless nights. /weet wine and soft relaxing lights/Time will never touch you/Here in this enchanted place.
Ainda no terreno do rock progressivo, em 1996 os suecos Pär Lindh e Bjôrn Johansson gravaram um álbum conceitual chamado Bilbo em que, em poucas palavras, tentaram contar a história de O Hobbit. O cd, mesmo sendo baseado na história que precede O Senhor dos Anéis, não foge às características do Rock Progressivo e, por isso, é mais instrumental do que cantado.
Pouco antes disso, em 1985, os suecos do Running Wild cederam à influência de Tolkien e gravaram "Mordor"¸música inspirada na cidade de Sauron. O interessante nesse fato é que o Running Wild ficou mais conhecido no mundo do metal justamente por suas músicas, em sua maioria baseadas em histórias de pirataria - como se pode ver pelas capas de seus cds - um tema não muito ligado às histórias de Tolkien.
Outras bandas, como o LeFay, Edguy, Hammerfall e Rhapsody, dentre muitas, aproveitam-se, direta ou indiretamente, das obras de Tolkien. Os alemães Edguy costumam rechear seus álbuns com músicas de temática medieval; os suecos do Hammerfall, que estiveram recentemente no Brasil, sofrem uma influência muito grande das conquistas dos Templários quando escrevem suas músicas. No entanto, músicas em que guerreiros enfrentam dragões podem ser facilmente encontradas. O Rhapsody, que também esteve recentemente em São Paulo, utiliza-se dessa influência de uma forma diferente. O principal compositor e escritor da banda, o guitarrista Lucca Turilly, optou por criar um mundo fictício, uma terra medieval chamada Algalord, onde seus guerreiros travam uma eterna luta contra o mal. Todos os quatro álbuns da banda - Legendary Tales, Simphony Of The Enchanted Lands, Dawn Of Victory e o recente mini-cd Rain Of A Thousand Flames - mostram magos, bruxas, guerreiros e dragões em uma eterna batalha da luz contra as trevas. Segundo Turilly a saga de Algalord se encerra no quinto álbum da banda, a ser lançado no primeiro semestre de 2002. É claro que nós do Omelete traremos uma matéria sobre essa saga que mistura heavy metal com influências de música clássica assim que o cd sair :-)
Mesmo no projeto paralelo que leva seu nome, Lucca Turilly não se afastou da temática medieval e lançou, no ano passado, Kings Of The Nordic Twilight, um álbum conceitual, a primeira parte de uma trilogia, em que guerreiros, dragões e elfos são os personagens principais.
Tales From The Twilight World traz Lord Of The Rings, música que chega a usar de alguns trechos baseados no prólogo do livro: There are signs on the ring/Which make me feel so down Theres one to enslave all rings/To find them all in time/And drive them into darkness/Forever theyll be bound Three for the Kings/Of the elves high in light/Nine to the mortal/which cry. Ao que tudo indica, Frodo seria a personagem incorporada por Hansi Kursch para a música.
Depois disso, o Blind Guardian deixou Tolkien de lado nos dois álbuns seguintes, Imaginations From The Other Side e The Forgotten Tales. Esse último, uma coletânea de lados-b, contém uma versão alternativa para Lord Of The Rings. Esse aparente descaso tem um motivo: o próximo álbum da banda, Nightfall In Middle-Earth, seria uma obra conceitual totalmente baseada no Silmarillion. São 22 músicas, das quais metade é constituída de pequenas vinhetas, geralmente com menos de 1 minuto de duração, em que se escuta o barulho de batalhas ou diálogos entre os personagens do livro. As músicas restantes procuram retratar algumas das passagens mais importantes do livro. Into The Storm, por exemplo, mostra uma nova interpretação para a disputa de Morgoth e Ungoliant pela posse das Silmarils; já Time Stands Still (At The Iron Hill) descreve a luta de Fingolfin, o rei supremo dos Noldor contra Morgoth, o Senhor Negro, nas portas da fortaleza de Angband.
A ilustração na capa de NIME mostra o momento em que Berem (disfarçado de lobo) e Lúthien roubam uma das Silmarils de Morgoth.
Quando o filme de O Senhor dos Anéis ainda estava na pré-produção, o Blind Guardian enviou ao diretor Peter Jackson uma fita com algumas amostras de um projeto acústico/orquestral que a banda pretendia desenvolver especialmente para a produção. Para a frustração de Hansi e dos fãs do Blind, porém, Jackson preferiu outras opções (clique aqui para saber mais sobre a trilha do filme). No entanto, esperamos que ele reconsidere sua decisão para o restante da trilogia.
Há ainda uma infinidade de artistas e bandas que se utilizam - direta ou indiretamente - do universo de Tolkien para compor suas canções. No artigo acima, preferi me ater às bandas de rock e metal que o fazem. No entanto, para se ter uma lista mais ou menos completa e atualizada de tudo o que foi composto em homenagem à Tolkien, acessem The Tolkien Music List, site onde encontrarão um compendium bem completo sobre o assunto.
Esse artigo não seria possível sem a colaboração involuntária de Pedro Fraga Bonfim. Seu artigo Rock e RPG: J. R. R. Tolkien, publicado meses atrás no Whiplash (www.whiplash.net) foi fundamental para direcionar minha pesquisa sobre o tema.