Quando conheci o Faith No More, eles já estavam em seus últimos anos de existência. Isso sempre foi um lamento, pois tinha montado minha primeira banda recentemente e ficava com aquele sentimento de nunca poder ver ao vivo uma das maiores influências da minha vida ao vivo. A enorme variação de ritmos incorporados ao rock, criando músicas com climas tão distintos, me chamava muita atenção. Não parecia que um sujeito era capaz de ir de "The Gentle Art of Making Enemies" a "Stripsearch" sem perder a qualidade.
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Mike Patton, vocalista da banda, costumava dizer que "a cada quatro ou cinco anos alguém que acha que pode mudar o mundo aparece com uma maleta cheia de dinheiro e faz uma oferta maluca. E não é muito fácil recusar. Seria muito fácil para alguns de nós ensaiar alguns dias, sorrir e encher os bolsos. Mas eu não cheguei neste ponto. Tenho o suficiente. Talvez se alguém aparecer com DUAS maletas de dinheiro". E pelo jeito elas apareceram.
Depois de uma apresentação memorável no Download Festival e 14 anos após o último show no Brasil, eles pisaram aqui pra tocar no Festival Maquinária, em novembro de 2009, na Chácara do Jockey. O evento trouxe ainda outras três ótimas bandas: Nação Zumbi, Deftones e Sepultura. Mas a noite era mesmo do Faith No More.
Com um pequeno atraso causado pela chuva, Patton entrou com uma bengala e um guarda-chuva cantando "Reunited", começando ali um show que nunca seria esquecido pelas 24 mil pessoas presentes. Na sequência, tocaram "From Out of Nowhere' e o público foi ao delírio. Depois disso, foi um clássico atrás do outro. Apesar de ficarem mais de 10 anos sem tocar juntos, a banda tinha a mesma pegada e energia que os fizeram ser tão elogiados no passado recente. Não só falando o óbvio "boa noite" e "obrigado", Patton arriscou português (quase um portunhol) durante todo o show e arrancou várias risadas com seus comentários irônicos. Além disso, tivemos "Evidence" cantada em nossa língua - e dedicada a Zé do Caixão, "Easy" e "This Guys in Love With You". Não posso deixar de citar "Caffeine", "Epic", "Midlife Crisis" e "Digging the Grave", os pontos altos da apresentação.
Foi uma aula de rock em diversos aspectos: execução das músicas, presença de palco de todos os integrantes, vocal impecável de Patton e um show que não só eterniza a banda na memória dos fãs, mas influencia tantos outros grupos que apareceriam no decorrer dos anos 2000. Aquelas horas assistindo atentamente os passos e habilidade de cada um no palco me fez ter a certeza de uma famosa afirmação: "quando a banda e as músicas são boas de verdade, o tempo só os deixa cada vez melhor".
*Rafael Moromizato é o vocalista do Huaska, um grupo que mistura as guitarras do rock'n'roll com a malemolência do samba. Seu último disco, Samba de Preto, conta com a participação de Elza Soares e Eumir Deodato. Além disso, a banda levou o primeiro lugar na escolha do público na eleição dos Melhores do Ano no Omelete. Conheça mais sobre a banda no site oficial e na página no Facebook.