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Rush in Rio

Rush in Rio

G
03.12.2002, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 03H05

Foi uma longa viagem, desde Belo Horizonte até o Rio de Janeiro, com um pit-stop em Juiz de Fora, numa seqüência de noites mal dormidas, ou por conta de poltrona de ônibus, ou por ansiedade mesmo. Um sonho, até pouco tempo distante, está prestes a se realizar.

Nos portões do Maracanã, várias tribos já se acumulam. Há trintões, quarentões, pais e filhos, um punhado de metaleiros e um outro tanto de gringos que possivelmente já viram Rush antes e aproveitam para repetir a dose.

Abrem-se os portões, às 18 hs e pouco. Lá vamos nós pelas longas rampas até a arquibancada. O Maracanã, internamente, é maravilhoso (minha primeira vez no estádio). Durante a espera, podemos acompanhar a montagem de tudo, palco, pista, inclusive do set de bateria de Neil Peart. Só ela leva uma hora para ficar pronta.

Quando chego à arquibancada, ela ainda está vazia, mas se enche logo depois. Uma hora antes do inicio, a pista já está entupida. Nós, lá de cima, nos divertimos vendo a galerinha jogar bola com uma pelota improvisada, contando apenas com as traves do campo, sem o travessão. Os jogadores vibram a cada gol. Não é todo dia que se marca um tento no maior estádio do mundo.

A certa altura, um roaddie parecido com Alex Lifeson começa a passar o som e a testar as guitarras. O publico até se assusta com a semelhança e vai à loucura.

Inicia-se dez, minutos depois, um solo de baixo, porém com um baixista invisível. O roaddie prefere não aparecer, ou será o Geddy Lee? Quem sabe...

21h30, hora marcada para o começo do show. A partir daí, o que vem é mais atraso... uma das produtoras da cerveja patrocinadora anuncia que o DVD da banda será gravado ali mesmo. As luzes se apagam às 22:10. A ansiedade aumenta.

PRIMEIRO TEMPO

A festa começa. A trilha dos Três Patetas anuncia o inicio do show, com Tom Sawyer. O carro-chefe da turnê brasileira. O Maracanã vem abaixo e os pêlos do meu braço se eriçam.

Seguem-se outros clássicos:Distant early warning, New world man, Roll the bones. Uma caveira no telão canta os vocais funk da música, enquanto Neil executa as batidas samplers, levando o publico carioca ao delírio. Geddy agradece em português, até que razoável. Em seguida, apresenta uma musica do álbum novo, Vapor trails, chamada Earthshine. Para os padrões da banda, é bem pesada. O telão vale-se de recursos interessantes, uma espécie de câmera lenta em tempo real nas passagens antes do refrão.

Yyz começa e o Maracanã vem abaixo novamente. O público de pista pula como um só e os olhos deste fã ficam úmidos. Geddy anuncia a próxima música como a preferida da banda, The pass. Depois vêm Bravado e The big money . Ao fim desta, a bateria de Neil gira, ele se reposiciona e Alex pega um violão doze cordas. Era The trees. Logo depois, veio Freewill, e para minha grata surpresa o estádio pulou novamente. Por essa, eu não esperava :-)

Durante Closer to the heart (tocada especialmente para os brasileiros e mexicanos, pois também foi executada na Cidade do México), ouço alguém perto de mim chorar. Muitos isqueiros se erguem. A primeira parte, então, finaliza-se com a maravilhosa Natural science.

UMA MERECIDA PAUSA

Intervalo... Agora dá para descansar. Fiquei o tempo todo de pé.

Com uns dez minutos de intervalo, começa o barulho de grilos. Por vários minutos, o som dos bichinhos. Enquanto isso, no telão, a imagem de um lento amanhecer. Com o dia começado, surgem dragões que encaram o público. Um deles acende um charuto com seu bafo infernal, dá uma tragada, tosse e lança fogo em direção da platéia, como se quisesse queimar a todos. Nesse instante, fora da tela, seis labaredas (de verdade) iluminam o palco e ouvem-se os primeiros acordes de One little victory.

SEGUNDO TEMPO

One little victory começa com o palco em chamas, Neil correndo sobre os dois pedais, atacando o bumbo. Pauleira total. Mais uma vez, o Maracanã trepida. Depois, temos Driven e o público delira com solo de baixo de Geddy. A seguir, ele próprio anuncia Ghost rider, canção nova e bela, baseada no livro homônimo de Neil Peart. Ato contínuo, emenda com outra novata, Secret touch. A partir daí, fogos de artifício explodem em volta do estádio. O espetáculo é total. Na seqüência, Dreamline e Red sector A. Fico doido enquanto o exército de Red men desfila no telão.

Leave that thing alone/The rhythm method foi um dos pontos altos do show. Acompanho parte do solo de bateria no telão e parte com um pequeno, mas excelente binóculo. De longe, só se vê uma cabecinha com braços estabanados e baquetas pro alto. Quando olho no telão, percebo que o semblante não muda, sempre sério e concentrado. Com uns três ou quatro minutos de solo, o percussionista toca um gongo eletrônico, a bateria gira, ele muda de posição e continua a solar em outro set. Mais três minutos de solo, e o processo se repete. Neil troca de posição e continua a solar em um terceiro set. Toca mais uns três minutos, daí entra uma jornada de jazz, mesclando imagens no telão de musicais de desenho animado em preto e branco e instrumentistas dos anos 50.

Todo o setor de cadeiras e arquibancada aplaudem de pé, enquanto a galera na pista faz reverência a The Professor.

Enquanto Neil descansa, Geddy e Alex entram no palco com dois violões, era something different, como disse Geddy: Resist em versão acústica. 2112: Overture / Temples of Syrinx vem na seqüência. A estrela vermelha no telão anuncia a composição, junto com o sintetizador. Mais de quarenta mil pessoas em êxtase, pulando muito e cantando com Geddy o coro de Hey!!!. Ele sorri sem parar. É nítido que não acredita no que vê. Deve pensar: Por que não viemos aqui antes!?!

Limelight, uma das minhas favoritas, vem a seguir e meu beiço tremula. La villa strangiato/Garota de Ipanema me vencem e choro. La villa é a minha música predileta de todos os tempos, mesclando uma guitarra chorosa com composições que lembram até desenhos animados. Alex tomou o microfone e começou seus grunhidos e pseudo-cantos, apresentando Neil como Milton Banana, e Geddy como The man from Ipanema.

Spirit of radio (o primeiro hit da banda) começa e o Maracanã inteiro bate palmas no ritmo da musica. Geddy, sorrindo, novamente parece não acreditar.

PRORROGAÇÃO

By-tor e a primeira parte de The snow dog abrem o bis. Uma animação divertida com os integrantes da banda no telão ilustra a musica do duelo entre os cães. A seguir, tocam os três minutos iniciais de Cygnus X-1. Pura viagem. Por fim, a pesada Working Man, encerrando um espetáculo apoteótico.

Sinto-me hoje como uma criança que viu Papai Noel, e lembrou de todos os detalhes pra contar.

GritantE agradece à galera do Omelete pela oportunidade de compartilhar
sua emoção com todos que foram e/ou não puderam ir ao show.

Imagens © Charles Naseh