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Música

Entrevista

Remix de Björk e música de sensações, conheça o produtor brasileiro Marcioz

Artista faz mais sucesso fora do Brasil e tem na originalidade sonora sua assinatura de qualidade

29.11.2018, às 15H46.

Marcio Zygmunt é um jovem artista curitibano que chama a atenção pela forma como vê e entrega suas produções musicais. Com uma entrada precoce no mundo sonoro, graças ao pai músico profissional (violinista) e a mãe bailarina, Marcio - aka Marcioz - conta que começou a compor muito cedo. "Comecei a fazer música com 9, 10 anos de idade".

Atualmente no terceiro ano do curso universitário de composição musical, o artista lançou a faixa "INTERSTELLAR!", seu primeiro projeto por um dos braços da Ultra Music, e que - mais uma vez - coloca em evidência todo o alcance musical e a capacidade de desconstruir sons, apostando em quebras rítmicas peculiares e dançantes.

Depois do início precoce, suas produções e o treino para discotecar rolaram aos 12 anos e a partir daí ele começou a construção de seu próprio caminho, quase sempre repercutindo mais no mercado externo do que no Brasil. Isso fica claro quando olhamos sua discografia com faixas lançadas pela gravadora/selo de San Holo, bitbird, pela Record Record e - como a já citada - Ultra Music. Não dá pra negar que o artista hipnotiza com sua competência nas produções e pela entrega de uma sonoridade pouco ouvida como parte do repertório brazuca.

Marcioz conversou com o Omelete para contar um pouco sobre a carreira, sua história na música e o que ele tem feito para que seu som ganhe mais fãs pelo mundo.

Pra abrir o papo, caso você esteja se perguntando como ainda não conhece nada do que Marcioz tem produzido, um de seus EPs ganhou bastante relevância ao ser noticiado no site da Dancing Astronaut e a surpresa foi grande quando entre uma das informações comentando sobre sua música surgiu o detalhe de que o som havia sido criado por um brasileiro que morava em Curitiba. Com isso dito, vale a pena saber como o produtor deu seus passos no universo da música eletrônica.

"Quando eu tinha 13 anos eu vi um DVD do Armin van Buuren, ele ainda é um ídolo  pra mim. Eu vi o Armin Only (Armin Only Imagine). Desde aquele momento este é um dos meus álbuns favoritos, Trance clássico que me impactou de uma forma que mudou minha vida completamente. Eu era de escola de samba, né? Tocava repique, ouvia música clássica e quando ouvi Trance pela primeira vez, pensei: ‘Nossa, é isso que eu quero pra minha vida’. Aí comecei a produzir e discotecar e nunca mais parei. Foi uma bênção, agradeço ao Armin pra sempre".

Todos esses temperos inseridos em sua formação musical fazem dele um criador realmente eclético. Faixas lançadas entre 2013 e 2014 conversam muito com o Dubstep e o Progressive House. Já o que ele faz atualmente se apresenta em um espectro musical totalmente diferente, mas como essa mudança aconteceu?

Ele comenta que essa trajetória foi construída com seu irmão: "Nós éramos muito fãs de música eletrônica e ouvíamos de tudo: Drum n’ Bass, Aphex Twin, Avici".

Porém o início da juventude veio acompanhada de uma revolta sonora que funcionou como o ponto de partida para um trabalho com músicas sem gênero. "Quando eu completei 16, 17 anos eu me revoltei com essa história de gênero e aí eu decidi que iria entrar nesse rolê de fazer música sem gênero, comecei a ouvir Point Point, uns artistas franceses e aí foi um caminho sem volta".

A partir do momento da “grande mudança” ele lançou algumas faixas pela Record Record, gravadora do Point Point, e a carreira começou a acontecer de forma mais concreta.

Fazer música eletrônica em Curitiba ou São Paulo não faz diferença

Marcioz nunca tocou em Curitiba e conta que produzir música eletrônica na capital paranaense é algo que não ajuda nem atrapalha suas aspirações artísticas. “Eu não sou uma pessoa muito social, sabe? Então eu fico no meu quarto fazendo música e lançando”.

Com isso, apesar do longo tempo lançando música, a primeira apresentação oficial como DJ aconteceu no primeiro semestre de 2018, durante um evento da bitbird na Holanda. Essa primeira apresentação acontecendo fora do Brasil abre espaço para saber o porquê de grande parte do material falando sobre o que ele cria ser divulgado em inglês? Tema no qual ele é categórico:

“Aqui em Curitiba, [as pessoas da música eletrônica com quem ele conversa] ou são muito alternativas ou muito dentro de gêneros mais tradicionais”. E segue, “Mas eu acho que grande parte disso vem por causa das gravadoras, né? Elas são do exterior e não daqui e aí acabam pegando um público de fora”.

Com isso em destaque, ele parece não ter pressa para se tornar conhecido no mercado interno. “Eu curto muito o método antigo [de divulgação], que você vai lançando música com gravadoras, os artistas vão te reconhecendo mais, e aí você faz tour pelos países que têm interesse em ouvir você tocar. Se acontecer um interesse de uma fanbase brasileira, eu acho ótimo, mas se ficar internacional, tá tudo bem, também”.

As músicas tocando fora do Brasil

Sobre os contatos e os lançamentos por gravadoras e selos gringos, Marcioz conta que a conversa sempre chegou até ele. “Atualmente eu trabalho em três gravadoras: A Record Record, bitbird e recentemente eu entrei em um dos braços da Ultra Music. Todas vieram até mim”. A forma como os contatos e contratos rolam “é sempre orgânica”, comenta. No caso do selo dos franceses do Point Point, eles encontraram as faixas de Marcioz no SoundCloud, “E e eles falaram: ‘Tira tudo de lá que a gente vai lançar’”.

O contato com a bitbird também aconteceu de forma inusitada. o DJ/produtor San Holo, criador do selo, ouviu uma faixa de Marcioz em um set do Point Point e quis saber quem tinha produzido. Pouco tempo depois o holandês adicionou Marcioz, que enviou um EP para o artista gringo, “só por mandar”, e isso rendeu um convite para assinar com a gravadora.

As inspirações para criar sons diferentes

Quando nos deparamos com um artista que cria fora da caixa, é bem possível que a pergunta ‘O que te inspira?’ seja quase uma armadilha. Mas Marcioz consegue elaborar bem alguns dos elementos que movem sua criatividade.

“Eu gosto muito de pensar por conceitos. Eu vi uma entrevista uma vez em que a pessoa contava como ela via o mundo por meio de conceitos e eu acho isso extremamente importante para a composição musical, porque com conceito você consegue montar. É difícil dizer, mas eu sou muito inspirado pela Bjork, atualmente. Pelo [álbum] Vespertine. Eu gosto muito do período mais tardio do Wagner e do Beethoven. Sou muito fã do Radiohead. É bastante coisa. São micro-coisinhas que eu vou pegando”.

Dentro desse arcabouço de possibilidades, Marcioz também se destaca pelo bom número de remixes que produz. Alguns como o de Björk“Sun in My Mouth”, e “One Thing”, de San Holo, com elementos incrivelmente originais. Mas como ele escolhe o que vai remixar?

Sobre esse ponto, ele conta que após decidir qual faixa vai trabalhar, deixa de ouvir a música imediatamente. “Eu não sei por que, mas quando eu escuto algo que eu quero remixar, eu percebo na hora, sabe? E aí eu tento não ouvir a música inteira. Eu só ouço tudo, depois que termino”. E segue, “Eu tenho uma coisa, um problema que eu preciso tirar a ideia da minha cabeça o mais rápido possível e tentar manter o mais orgânico possível”.

Toda essa “pressa” sistemática para tirar a música da cabeça é explicada por ele como uma forma de manter a composição mais próxima da forma como ela surge em sua mente. “A composição está 100% de uma forma na cabeça e à medida que ela vai para os instrumentos, para a partitura, você perde a porcentagem do que aquela ideia era”, enfatiza.

Já que entramos no espaço das composições, porque não buscar um tópico um pouco menos prático e falar sobre qual é o objetivo dele com a música que produz?

“O que mais me toca, assim, é quando eu consigo impactar alguma pessoa que tem um estilo de vida similar ao meu. Gente que fica bastante no computador, que não sai muito de casa, que não tem muitos amigos…”.

Antes do final da conversa, Marcioz, com seu estilo recluso, se mostra surpreso quando digo que as pessoas expressam o quanto gostam das músicas que ele cria, por meio dos comentários no Youtube ou no SoundCloud.

“É engraçado você falar isso. Eu tenho um pouco de medo de olhar. Se eu ouvir um comentário dizendo algo ruim, eu fico fritando nisso por muito tempo, sabe? Então, eu tento não olhar”.

E chegando ao final do percurso surge a hora de saber quais faixas ele indicaria para um amigo que quisesse conhecer um pouco mais do que ele faz? "Tem um remix que eu fiz de uma música do Tenniscoats, 'Baibaba Bimba'.

A história dessa música é interessante, já que ela o tornou conhecido entre os colegas de faculdade. “Quando entrei na faculdade eu tentei esconder minhas músicas de todo mundo, porque entrar um aluno de música eletrônica, assim, é tipo um crime. Eu não queria que descobrissem que eu era um artista de música eletrônica. E aí descobriram as minhas músicas e essa foi a música que no meu campus funcionou. E por isso eu acho que essa seria uma boa”.

Em seguida ele coloca na lista “The Very, Very Shy Pearl”, que faz parte de um de seus trabalhos mais recentes, o EP How To Make Love Stay, “God Ain't Gonna Pay You Back” e “Love Me Tender”, “que eu acho que é a minha mais famosinha”.

Marcioz deve lançar mais uma inédita, “black god is in town!”, em dezembro e você pode conhecer um pouco mais da sonoridade do artista e seus próximos lançamentos direto em sua página no Spotify.