A vinheta diz: "Música levada a sério." E o bloco de músicas que segue é mais ou menos assim: Jennifer Lopez, CPM22, Dr. Dre, Rihanna (hein?), Planta e Raiz e Nelly Furtado. Corri para o banheiro. Mas de lá pude ouvir o outro bloco começando com Mamonas Assassinas. Golpe derradeiro e fatal. Desligo o rádio pra se Deus quiser nunca mais ligá-lo. Pelo menos, não na 89 FM.
Quem foi o cientista que teve a sagacidade de fazer isso com uma das marcas mais estabelecidas do mercado paulista? Simplesmente suprimir o slogan "a rádio rock " - que de tão forte por vezes se confundia com o próprio nome da emissora - e mandar ver numa programação ridiculamente torpe, recheada de black (o novo, essa cáca de Beyoncé e afins), pop asqueroso (tem muito pop bom, sim, mas não é o caso) e o pior da música nacional?
Música levada a sério?! Nada e ninguém foi levado a sério quando essa mente brilhante fez isso com a (ex-)89 FM de São Paulo. Uma rádio que vinha há 20 anos, algo por aí acho eu, trabalhando o rock, servindo como referência, com equipes de locução, promoção e coordenação exemplares, que mesmo atuando com um produto difícil (sim, rock é pra poucos) conseguiu botar a rádio nos primeiros lugares do Ibope. Uma rádio que a minha geração cresceu ouvindo, que promoveu grandes festivais, que levou artistas geniais para ser entrevistados em seus programas, um lugar para o qual podíamos correr quando todo o resto do dial estivesse terrível.
A 89 já foi exemplo de garra e profissionalismo, quando todos ali sabiam que tinham um pepino nas mãos, mas davam o sangue para torná-lo degustável ao máximo de pessoas possível. Deixar a rádio mais pop é um bom indicativo de gente sabendo o que faz, mesmo porque, o rock se tornou mais pop, e ignorar isso seria ir pelo mesmo caminho que a Brasil 2000: fundo do poço. Uma alternativa interessante, ok, mas pra quem não precisa ganhar dinheiro, caso da emissora, que, em teoria, é uma rádio mantida por uma fundação e não tem fins lucrativos. Ahan.
Voltando à 89, que algum dia foi algo sério, uma empresa que tinha que se manter, lucrar, e oferecer um bom produto. Largar mão de uma proposta de anos não pode dar certo e os números comprovam isso. Mais uma rádio idêntica a outras quatro que já fazem o que ela está fazendo - plasticamente mais agradáveis de se ouvir, diga-se de passagem - só vai pulverizar o público. Tirar uma naca de um público já diluído é arrastar todo mundo pra baixo. Não seria mais inteligente botar no ar uma rádio que oferecesse o que (ainda) há de bom no rock? Manter a rádio segmentada, mas com ouvintes fiéis? Caprichar na informação, criar programas interessantes, fazer uma programação para leitores da Poison? Não somos tão poucos assim e poderíamos, sim, virar bons números em termos de faturamento. Pode até ser mais inteligente, mas dá uma preguiça, né? Uma preguiça doida de seguir uma proposta. Exigiria muita fibra, força, vontade, e isso anda tão em falta no mercado...
Melhor fazer o que fizeram. É como se a Coca-Cola resolvesse ficar verde e vir misturada com álcool. Muito esperto. E precisa uma reles colunista perceber isso...
A respeito da última Poison, meus ternos agradecimentos aos que sentiram compaixão e identificaram-se. Continuem rezando, porque duas semanas depois tentaram invadir minha casa. De três, uma: fãs dos Engenheiros, fãs do Iron, ou o ladrão vindo buscar o carregador do iPod. Very funny, né? Que nada, é só mais uma comprovação da "sociedade" que criamos. Parabéns pra nós.
*-*-*-*-*-*-*
DOSE EXTRA!
Atendendo a pedidos, aqui está a Dose Extra de Veneno , espaço reservado aos internautas do (o), que enviam missivas nem sempre educadas à colunista. Por que será, hein? ;-P
Sobre a Poison
Por Alessandro Maciel
Olá, Luciana
Sou da Freguesia do (o), leio o Omelete diariamente. E é muito bacana quando vejo a Poison de volta ao Menu. No meio da fartura omelética, a Poison é o happy-hour pra mim, quando se juntam os amigos pra bater um papo, trocar idéias. Ela acaba sendo também um degustativo depois dos banquetes do Omelete, já que são no máximo duas doses por mês.Sendo assim, agradeço a você - minha barwoman favorita - e aproveito pra bater o copo na mesa e gritar "DESCE MAIS UMA, POR MINHA CONTA... ON THE ROCKS!!"
Beij(o)s,
Alessandro
(embriagado, não! Um pouco alto, talvez...)
Resposta
Que ótima sua mensagem! Já pensou em ser redator publicitário? Obrigada pela força, espero alcançar as expectativas sempre :).
Beij(o),
Luciana
*-*-*-*-*-*-*
Sobre Red Hot Chili Peppers - coluna de 06/06/06
Por André Carlos de Mendonça
Oi Luciana!
Assino embaixo da coluna de hoje.
Os Red Hot Chili Peppers já foram muito bons, e hoje não passam de uma banda legalzinha (embora mesmo assim sejam bem melhores - na minha opinião - do que as bandas mais recentes como The Strokes, The White Stripes, e essas bandas ruinzinhas que começam com "The").
O clipe, não vi nada de polêmico... tem que ser fanaticamente burro pra achar ofensa a alguma banda naquele vídeo de "Dani California" (aliás, mais uma música "legalzinha", que não chega nem perto de "crássicos" como "Fight Like A Brave", entre outros.)
abraço!
André
Resposta
Exatamente, André. Tem que ser muito fanático mesmo...
Obrigada pela mensagem!
Beij(o),
Lu
*-*-*-*-*-*-*
Sobre a "sociedade" - coluna de 25/07/06
Por Alexandre Carlos Aguiar
Cara Luciana
Tenho acompanhado freqüentemente suas colunas no site Omelete. Já intervim em alguns casos discutindo os seus comentários sobre música, ora concordando, em alguns momentos com senões, mas no geral a parabenizo pelas colocações inteligentes.Escrevo agora para me solidarizar com sua indignação, ainda que isso não traga sua tranqüilidade de volta. Compreendo também que sua revolta não deve ser apenas pela perda de um aparelho, mesmo que tenha custado alguns sacrifícios, mas é a revolta por ter sido invadida, agredida, e esteja sentindo que as coisas parecem que perderam a graça, não é verdade?
Os bandidos fizeram o que fizeram, porque têm a certeza de que receberão, no máximo, uma admoestaçãozinha, um puxão de orelhas da sociedade. Fizeram motivados pela impunidade que corre por aí, a mesma no Congresso Nacional, que nos rouba acintosamente e nada a eles, os deputados e senadores, acontece. A impunidade, que nada de braçadas no judiciário, onde crimes hediondos são julgados como se estivéssemos tratando de ladrõezinhos de galinha, ou de simples briguinhas conjugais, como nos casos da baronesa vermelha picareta e do jornalista-dono-de-cavalos, e motiva-nos, ao mínimo, à indignação. A impunidade dos celulares de cadeia, cuja presença nos presídios é alvo de gargalhadas por parte do cidadão comum, que não entende tamanho absurdo, uma vez que para conseguirmos acessar um celular em via pública é, às vezes, complicado.
A impunidade da qual se valem alguns jornalistas a levantar falsas matérias quebrando a moral e a honra de gente inocente e que, por se valerem da tal "liberdade de expressão", deitam e rolam denúncias como bem entendem, motivados por interesses estranhos.
E nós? Os cidadãos comuns? Podemos também nos tornar impunes se deixarmos de pagar nossos impostos, podemos pegar comida em mercados sem pagar e sair ilesos, podemos colocar gasolina no carro de graça? Podemos o quê, afinal?
A sua indignação é a mesma de todos nós, mortais comuns, que vivemos como verdadeiros presidiários em nossas casas para que os meliantes não as invadam, enquanto eles andam livremente por aí a "levar" o que quiserem, de quem bem entendem. Até quando?
Resposta
Não me sobrou muito a dizer, Carlos. Sua mensagem é excelente e muito clara.
Obrigada por se solidarizar. Vamos tentando fazer a nossa parte... acho que é o que nos resta.
Beij(o),
Lu
*-*-*-*-*-*-*
Sobre Red Hot Chili Peppers - coluna de 06/06/06
Por Guilherme Dias
Oi, Luciana
Eu leio a tua coluna no Omelete já faz um tempinho, um ano e "lá vai pedrada", mais ou menos. Eu gosto bastante das tuas opiniões, tu é uma pessoa que é bastante crítica e ainda sim bem-humorada, e que não incensa bandas que são consideradas intocáveis (Iron Maiden, EngHaw, etc...), e sim, dá a tua opinião. Claro que eu não concordo com tudo (Por exemplo, eu acho Ramones bem mais ou menos, The Clash é melhor de longe), mas eu aceito as opiniões, coisa que tem gente que não faz e tu tem vários e-mails pra provar isso, nops?
Bom, sobre essa coluna mais recente. Eu sou fã dos RHCP, até mesmo porque foi uma das bandas que me tirou do mau caminho (Digamos que o fato de eu escutar Mars Volta, Faith no More e outras "cositas más" foi influência de ter escutado muito RHCP). Não, não te preocupa, eu não tenho nenhuma crítica/ofensa pra fazer. Só sobre o novo CD. Eu achei que o Stadium Arcadium, embora ainda guarde muita influência do BTW, baladinhas, trouxe bastante coisa do funk antigo de volta. Não sei se tu só escutou a "Dani California" (Não se parece com "Scar Tissue", não!), ou o CD inteiro (O que eu recomendo, já que foi um dos melhores CDs que saiu esse ano até agora), mas eu achei uma boa fazer essa colocação.
Pra finalizar: Opinião sobre o Wolfmother, o Mars Volta e o QOTSA?
Beijos, continue assim, etc, etc, etc... Tudo mais que se escreve pra finalizar um e-mail.
Guilherme Dias
PS: Esqueci e tô com preguiça de reformular. Eu conheci RHCP na época do Cali/BTW, mais exatamente BTW, já que eu só tenho 14 anos. Mas eu acho a fase do BSSM melhor de longe. Mas comparado com as porcarias hypadas de hoje em dia, é melhor escutar Dosed do que algo do Franz Ferdinand.
Resposta
Oi, Guilherme. Show de bola tua mensagem.
Stadium Arcadium... confesso que escutei pouco, vou tentar de novo, ok? Espero sinceramente que as influências dos primórdios estejam de volta... simpatizo com o Chili Peppers, torço por eles, sabe?
Adoro QOTSA. No me gusta FF para nada también. Mas é uma pena que por essas e outras é que as pessoas acabam achando o Peppers o fino da fruta.
Enfim...
Beij(o)ca,
Lu
*-*-*-*-*-*-*
Sobre a "sociedade" - coluna de 25/07/06
Por Diego Matos
Luciana,
Sobre a sua coluna de hoje, só posso dizer que ela me fez chorar! Chorei por ficar indignado com cada palavra escrita. Chorei por também ter o mesmo sonho de viver com liberdade, seja aqui em Sampa ou em qualquer outro lugar. Chorei por temer que esse sonho seja apenas mais uma utopia em minha vida. Chorei por saber que a maioria das pessoas que vivem ao nosso redor passariam por cima de tudo só pelo tal "querer ter". Chorei por viver numa sociedade acuada, submissa e conformada. Chorei por saber o que ser humano, em nossa sociedade, é motivo de vergonha e descaso...Mas também fiquei feliz! Fiquei feliz por saber que ainda existem pessoas que lutam por algo melhor. Fiquei feliz por saber que existem pessoas que acreditam no simples sonho de viver da forma que acreditam que devem viver. Fiquei feliz por saber que existem pessoas que sabem que as pessoas são mais importantes que o seu desejo de "querer ter". Fiquei feliz por saber que existem pessoas que no fundo são mais felizes por que não se submetem a tudo que a sociedade nos impõe e podem ser mais verdadeiras com o seu próprio ser.
Eu completo 25 anos hoje e a cada dia vejo que cada vez mais as coisas estão piorando, e não fazemos nada para mudar. Ó Deus! Sinto inveja dos meus pais às vezes, sabia? Eles viveram a sua adolescência num país governado por um regime militar que fez barbaridades contra aos que apenas queriam o direito de ser livres e não desejo que isso volte nunca, mas sinto inveja por eles terem vivido numa época onde os jovens não aceitavam a situação, lutaram pelo seu direito de serem livres e hoje podemos viver "livres". Viver livres numa sociedade hipócrita controlada por políticos corruptos e pessoas sem escrúpulos e talvez até pelo crime organizado... E hoje colhemos o fruto dessa sociedade, logo nós que não temos culpa alguma! Será mesmo? Será que se tivéssemos sido como nossos pais e não aceitado desde o início estaríamos nessa situação hoje? Acho que não, mas acredito que ainda temos tempo, muito pouco é verdade...
Não sei se isso ajuda, mas digo que também não pretendo me acomodar e não vou deixar que tirem a minha liberdade. Vou continuar andando com o meu iPod, pelo menos enquanto ainda o tenho ;), não vou deixar de fazer as coisas que gosto e nem vou me dar por vencido e viver acuado nem muito menos infeliz...
Abraço e parabéns,
Diego Matos
Resposta
Oi, Diego. Eu é que fiquei feliz com sua mensagem. É muito legal saber que o meu texto ainda causa reações, e reações tão profundas e distintas entre si. Obrigada.
Não sei como seria se tivéssemos agido diferente, não sei se nossos pais nos criaram pra que não fizéssemos diferente, já que eles já tinham conquistado tanto... fazer suposições sobre o passado pode ser ardiloso, pode nos dar justificativas para que as coisas tenham chegado a este ponto e em cima das justificativas não fazermos nada, afinal não seria nossa culpa.
Eu não sei qual é o limite máximo que a nossa sociedade ainda vai ter que atingir pra que algo mude, mas eu realmente acredito que teremos que chegar em um limite máximo. Algo como o PCC tomar conta de São Paulo de fato, algo insuportável assim. E mesmo neste caso, a sociedade está alicerçada em pilares tão frágeis, que não sei que final teria... se eu tivesse alguma idéia do melhor a fazer, sem dúvida alguma eu já teria dito.
Por ora só consigo aconselhar a todos que façam o melhor que possam, que individualmente façam a sua parte, que não deixem de acreditar que ser bom não é ser otário.
Isso mesmo, continue sempre perseguindo a sua felicidade. Aliás, feliz aniversário atrasado :).
Beijo grande,
Luciana