Theodor Adorno, filósofo e sociólogo alemão
Essa frase polêmica dita por Adorno jogava as luzes sobre a arte e sua verdadeira função. Para ele, a arte pela arte não bastava, mas sim a arte como eco da sociedade que a rodeia, ocupando um papel social. Sendo assim, em sua mente evoluída, nenhuma expressão de arte jamais seria verdadeira o suficiente para traduzir o hediondo de uma guerra. Dessa maneira, distanciava-se de sua função primordial. Para Adorno, a conclusão era que a poesia se tornava impossível.
Após muita querela, o próprio filósofo reconheceu que havia exagerado. Por que então eu chamo a atenção para isso?
Eu explico. Se por um lado muito se produziu após as duas grandes guerras, hoje se pode observar o oportunismo andando de mãos dadas com a função da arte tão fervorosamente defendida por Adorno e outros intelectuais. A música, utilizando-se da fácil penetração que consegue junto ao público, começa a servir como trampolim para que as mensagens contra a guerra do Iraque sejam divulgadas a torto e a direito. Todo mundo quer marcar presença, banalizando a arte como um todo.
Uma visão otimista do que vem acontecendo é que a grande maioria dos artistas resolveu enxergar algo que sempre esteve evidente: o EUA é opressor de outras culturas. Perfeito. Todos querem dar seu recado e se por ventura aparecerem nas manchetes tanto faz.
Uma visão pessimista é que muita gente se segura no rabo do cometa para aproveitar e dar uma lembradinha de que ainda estão vivos. Se por ventura aparecerem nas manchetes, tanto melhor, esse é o objetivo.
O atentado de 11 de setembro já inspirou muita gente. Agora, o tema preferido é a guerra no Iraque. Fico me perguntando sobre as outras dezenas de guerras que estão acontecendo neste exato momento. Por que ninguém nunca fala sobre elas? Por que os artistas, tão deprimidos que estão agora, não aproveitaram seu espaço e ao invés de falar de mulheres, bebidas, bobagens em geral, não se inspiraram nessas guerras? Podem também falar da fome, de pedofilia, da AIDS. Assunto não falta. Por que essa guerra tornou-se abruptamente tão interessante?
Pessoalmente, gosto da música como ela é, repleta de suas bobagens e por vezes mais profunda do que a leitura de um filósofo renomado. Tudo isso permeado pelo equilíbrio e a sinceridade. Por isso, quando a vejo num papel que não lhe cabe me sinto desconfortável.
Os excessos do mundo de hoje (leia-se principalmente mídia) tornam a música chata, quando não suspeita de oportunismo. Lembra daquele seu amigo ecochato vegetariano? É mais ou menos por aí. Fala-se tanto em paz e em artistas se reunindo pedindo que a guerra acabe, que você começa a ficar enjoado, mareado, não agüenta mais ouvir falar a respeito. E se é o Bono Vox ou o *NSync dá tudo no mesmo.
Sinceramente, sempre que vejo algo se massificando como está acontecendo, fico com a pulga atrás da orelha.
Lembra da Jewel? Não? Pois ela lembra de você e diz que seu próximo álbum, temperado com alta dose de eletrônico, é para que você relaxe e não se esqueça de ser jovem mesmo durante a guerra. Ah, tá!
O Lenny Kravitz, que andava sumido, deu uma canja a um cantor iraquiano. Que bonito! Quanta solidariedade! Quem sabe até o cantor iraquiano consegue um visto de permanência definitiva nos Estados Unidos? Isso eu não sei, mas pode crer que logo, logo We want peace, a parceria do irmão rico com o irmão pobre vai invadir as rádios de todo o mundo.
Tem para todo mundo: Green Day, R.E.M., Beastie Boys, Zach de la Rocha e Dj Shadow, Madonna, System of a Down, Audioslave, Avril Lavigne regravando Dylan, Mick Jones (ex-The Clash e ex-sumido), etc, etc, etc.
E tem também a manipulação. Vídeos sendo censurados por conterem palavras ou imagens que mesmo remotamente lembrem a guerra, artistas querendo dar suas declarações e não podendo, Oscar totalmente mutilado. Prato cheio para ser alçado à categoria de cool. Quantos clipes seus foram censurados? Três? Nossa! Isso é bem mais do que o Pink Floyd conseguiu... como você é polêmico, hein?
Quem se saiu melhor até agora, na minha singela opinião foram Justin Timberlake(!!!) e Noel Gallagher. O primeiro atestou que nunca foi ligado em política e que não ia ser agora que faria disso um assunto presente em sua música. O segundo, em seu típico mau humor, disse que os protestos antiguerra são uma perda de tempo imensa. Infelizmente, querendo ou não, Gallagher tem razão. E volto a dizer: um protesto é pouco, dois é bom, três é demais.
E no Brasil? Vale lembrar que nós vivemos uma guerra silenciosa aqui dentro. Uma guerra brutal tanto mais por ser disfarçada. Como diria o Rappa, a gente mata um leão por dia e dependendo da sua circunstância pessoal, agradece a cada dia que acorda por ter sobrevivido a mais um. Milhares vão à Paulista contra a guerra no Iraque, acho muito bonito, digno mesmo, mas por que é que milhares simplesmente não estancam e gritam aos governantes que nosso dia-a-dia brasileiro já não dá mais para tolerar?
Um amigo meu que mora na Inglaterra colocou o ponto final nas minhas aflições em relação à sua segurança:
Ei, amigos preocupados, não fiquem assim! Mesmo com a Inglaterra na guerra, ainda assim é mais seguro viver aqui do que no Rio ou em São Paulo".
E ele tem razão. Fazer o quê?
Pois é, Adorno, parece que o levaram a sério demais e vez ou outra transformam a arte num verdadeiro palanque. Ou, muito pior, estão usando a função social da arte para rechear os bolsos de verdinhas. Eu não duvido.
Enquanto isso é acalentador saber que as tropas no Kuwait parecem estar melhor acompanhadas do que a gente. A BFBS (British Forces Broadcasting Service), rádio instalada nos acampamentos toca The Clash, Thin Lizzy, Coldplay, Stereophonics, Travis, The Animals
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DOSE EXTRA!
Atendendo a pedidos, inauguramos aqui a Dose Extra de Veneno, espaço reservado aos internautas do (o), que enviam missivas nem sempre educadas à colunista. Por que será, hein? ;-P
Sobre o Titãs - coluna de 05/09/02
Mensagem de Tony Belloto, no site titãs.net, dia 10/03/03. Vale dizer que fui convidada a visitar o site por uma fã do grupo
A Toffolo é mais um caso de fã excêntrico. Pelo texto, dá pra notar que ela AMA os Titãs e atingia níveis de transcendência orgástica ao ouvir Mister Mello cantando Cabeça Dinossauro. Deve ser a crise dos trinta anos que a deixou assim tão amarga.
Você é bem-vinda, queridinha, nosso site é como igreja: a porta está aberta e entra quem quiser".
Resposta enviada igualmente ao fórum do site:
Tony, oh Tony... obrigada pela singela mensagem não tão subliminar quanto nós dois gostaríamos que fosse.
Cuidado pra não me deixar tão famosa quanto você, doçura! Talvez com a evidência da maior exposição que eu tenha alcançado em detrimento dos seus fãs, os mais brilhantes possam entender finalmente do que eu falava em minha coluna. Uma coluna simples, talvez sincera demais, talvez sensível demais... uma coluna escrita por uma ex-fã que se sentiu prestes a cair na armadilha, mas não o fez, graças ao meu bom deus Jim Morrison e às boas vibrações as quais estou aberta a receber. Nem sempre se pode ser Deus, mas a gente tenta chegar o mais próximo, não é mesmo?
Talvez seja coisa da idade, você pode dizer melhor do que eu... talvez a cáca na qual vocês se transformaram (com perdão do Miklos, que merece todo o meu respeito) também seja coisa da idade... dizem que a gente fica meio bocó por volta dos 40 anos... acho curioso que a antiga rebeldia tenha se transmutado na insensibilidade decorrente da idade... sinceramente, ainda hoje me surpreendo: esperava mais de você(s). Creditar uma desilusão à crise da idade é, no mínimo, indigno de um artista.
Por isso que eu vivo dizendo: cuidado moleque com o que tu engole! Você bem sabe, Tony, hoje em dia, não é todo mundo que come prego, que sabe o cu que tem... Veja o meu caso, depois de tantos anos é isso o que eu mereço... talvez deva esquecer os mais de 30 shows que fui...)
Bem, livre-arbítrio, democracia, boca no trombone... chame do que quiser, mas hoje sou mais notada do que quando era sua fã. Mundo injusto esse, né?
Talvez você não entenda ainda, dizem que a sabedoria vem prá lá dos 60... se tudo der certo pra ti, você chega lá! Boa sorte! E que os neurônios se iluminem...
...não adianta, pode-se deixar de ser fã, mas perder a esperança já é outro papo...
Sobre o Engenheiros do Hawaii - coluna de 13/08/02
Por Marina Costa
Ignorância! É essa a exata palavra para descrever o que você escreveu sobre os EngHaw. Ah! Caso você não saiba, isso significa Engenheiros do Hawaii. Humberto é e sempre será, para nós fãs, um ídolo. Mesmo não querendo ser, ele é! E com o maior orgulho levanto a bandeira e visto a camisa de fã. Ridícula foi a sua reportagem sobre eles. Falta de sensibilidade para se aprofundar nas letras e procurar dar um significado a elas. Humberto não escreve que 2+2=4. Humberto escreve que 1+1=0 e você que introduza esse 1+1=0 na sua mente e de acordo com sua vida dê um significado e uma razão para ele. Humberto tem inteligência e capacidade o suficiente para camuflar seus sentimentos e ideologias com incríveis metáforas, que, para nós é mais que música, é poesia."
Querida Marina,
primeiramente, não acho que chamar alguém de ignorante por ter um ponto de vista diferente do seu seja a melhor forma de iniciar uma discussão saudável. Atente para isso... tudo bem, eu sei o que fazemos em momentos de fúria. Já fui fã, sou ainda e defenderia com unhas e dentes meus parcos ídolos que ainda valem a pena ser defendidos.
Sabe aquela máxima que diz que quando uma piada precisa ser explicada é sinal de que não é engraçada? Pois é, acho muito tênue a linha que separa o nonsense gratuito com a finalidade de impressionar de um bom texto metafórico. Infelizmente para mim e felizmente para você, ou vice-versa, não consigo deixar de achar que Engenheiros faz parte da primeira opção.
O importante mesmo é que as pessoas desenvolvam exatamente isso o que você praticou escrevendo para mim: senso crítico, discernimento e atitude. A finalidade do que escrevo é justamente essa, já que apesar de ter um estilo bastante expressionista, digamos assim, não sou capaz de quebrar os discos do Engenheiros ou cuspir na cara do Humberto. Simplesmente não gosto, mas respeito por demais quem goste. E o mesmo vai se repetir com os outros artistas dos quais eu vou comentar. Apenas sonho em ter à minha volta pessoas que abracem seus ideais e saibam discutir e escolher melhor o que ouvem, comem, vestem... saibam escolher melhor em quem votar, o que aceitar e o que não é tolerável.
A única coisa que posso te pedir é para que volte a ler minha coluna futuramente. Tenho fé que vou ser capaz de arrancar uma gargalhada tua... e afinal de contas, não é isso o que vale a pena na vida? :)
Bom dia!
Sobre Michael Jackson - coluna de 21/02/03
Por José Carlos Pereira Junior
Eu até acho que Michael Jackson é muito excêntrico e tudo mais, mas o que a imprensa exagera com ele é brincadeira, queria saber o que você faz com os seus filhos ou algo parecido que você deve ter em casa.
Querer entrar até na vida pessoal dele é bem pior do que essa estupidez do oba-oba que a imprensa faz com ele, mas o complicado é que a imprensa faz de tudo para vender os seus peixes, né mesmo?
E aí, uma critica como essa vai colocar quantos peixes na sua mesa ?
Pelo que li na sua critica, tudo que você falou já foi colocado pela imprensa podre do mundo, agora você não disse por que, por exemplo, as TV americanas não querem colocar a versão do Michael Jackson por lá .É isso, vamos vender os peixes, alias , Michael Jackson agradece, já que a venda dos CDs dele duplicaram.
Abraço e continue criticando, estarei sempre lendo.
Se você é leitor da Poison, como disse no afinal estarei sempre lendo, deve ter percebido que nem de longe faço um acompanhamento do que a mídia anda falando. Eu costumo falar sobre uma personalidade, ou no caso de uma banda, de várias personalidades, que eu julgo serem consideradas verdadeiros mitos sem ter necessariamente um porquê que explique isso. O que procuro fazer através da coluna, é mostrar que todo mundo erra, inclusive os artistas.
Assim como você, acho realmente um horror vasculhar a vida particular dos artistas, algo que vem se tornando muito comum, infelizmente. Mas no caso do Michael Jackson, volto a dizer, como já disse na coluna, sua vida particular tomou conta de sua carreira artística. Se ele tivesse respondido à verdadeira lavagem que vem se fazendo em sua vida pessoal com um ótimo disco, eu não teria nenhum argumento a meu favor, mas o que acontece é que do Michael Jackson artista pouco se ouve, não é mesmo?
Eu acho que ele é um caso claro de artista com inúmeras ressalvas e por isso ele se tornou tema da Poison.
Enfim, opiniões existem para serem discutidas e agradeço mais uma vez por ter me enviado a sua.
Abraço,
Luciana
P.S.: Quanto aos peixes, acredite-me, apesar de adorá-los, prefiro vê-los nadando em alto mar.