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Dragonforce: a nova força do heavy metal inglês

25.10.2004, às 00H00.
Atualizada em 20.07.2017, ÀS 22H05


O Dragonforce surgiu em 1999 na Inglaterra sob a alcunha de DragonHeart. Dois anos depois, uma série de problemas, incluindo o fato de já existir uma banda - brasileira por sinal - com esse mesmo nome obrigaram os integrantes a trocarem para o nome que usam até hoje.

Inicialmente, a banda era formada pelo vocalista Z.P. Theart, os guitarristas Herman Li e Sam Totman, o baterista Didier Almouzni e o tecladista Vadim Pruzhanov. Com essa formação gravaram o primeiro álbum, Valley of the damned. Já para o segundo trabalho, Didier saiu, deixando as baquetas para David Mackintosh. Além dele, foi recrutado também o baixista Adrian Lamber.

À primeira vista, Dragonforce poderia ser considerada (mais) uma banda de heavy metal melódico e colocada ao lado de Helloween, Blind Guardian e Stratovarius, para citar apenas as mais influentes no meio. Tanto o nome quanto a capa do CD e principalmente as letras da banda, que versam sobre temas comuns do gênero como elementos medievais, guerreiros, etc., contribuem para este equívoco. No entanto, uma única audição de seu trabalho já é suficiente para dissipar essa impressão.

Algumas características tornam o Dragonforce uma banda difícil de se encaixar em qualquer rótulo, a começar por seus integrantes, que vêm das mais diversas partes do mundo. Apesar de terem fixado residência em Londres, os membros da banda são provenientes de Hong Kong, Inglaterra, Nova Zelândia, África do Sul e Ucrânia. Além disso, três deles são egressos de bandas de black metal: os guitarristas Li e Totman fizeram parte do Demoniac, uma das maiores bandas do gênero na Nova Zelândia (o que prova que a terra de Peter Jackson não vive apenas de hobbits), enquanto o baterista David Mackintosh gravou dois álbuns com os ingleses do Bal-Sagoth. Essas influências mais extremas acabam trazendo novas fontes de inspiração, que se mesclam aos elementos melódicos citados acima e criam algo único. Segundo a banda, seu som poderia apenas ser classificado como "extreme power metal". A título de curiosidade "power metal" é o gênero consagrado por bandas como Manowar e Iron Maiden.

O cartão de visitas de Sonic Firestorm, segundo álbum do grupo, é "My spirit will go on" , que cumpre seu papel ao apresentar a proposta sonora do Dragonforce: guitarras rápidas, bateria bem marcante e o vocal bastante competente de Theart. Aliás, é o duo formado por guitarra-bateria que mais se destaca no álbum. A banda inclusive disponibilizou a faixa para download em seu website. Clique aqui para baixá-la.

"Fury of the storm" é a segunda faixa e sua introdução mostra toda a influência que o black metal exerce em Li, Totman e Mackintosh. Se no início do disco as guitarras e a bateria já estavam bem rápidas, no começo desta música, elas alcançam um novo patamar de velocidade. É quase um minuto de pancadaria extrema, que estaria muito bem colocado em qualquer álbum de black metal. Mas quando os vocais começam o ritmo diminui um pouco e só volta a acelerar novamente em algumas das diversas partes instrumentais. Destaque para a bateria, com algumas viradas insanas de Mackintosh, os solos de guitarra inacreditáveis da dupla Li/Totman e o ótimo refrão. Com certeza, um dos destaques do álbum.

A pancadaria continua na bela introdução de "Fields of despair" e segue ao longo da música. Destaque para os excelentes riffs e solos da dupla Li/Totman e para os teclados, que marcam uma maior presença nessa faixa. Além, é claro, da bateria de Mackintosh, sempre rápida e precisa.

Dizem que depois da tempestade sempre vem a bonança. No caso de Sonic Firestorm ela vem na forma da "Dawn over a new world" - uma linda balada, cujos destaques estão todos voltados para Pruzhanov e seus belos teclados, que criam uma atmosfera excelente para a música e para os vocais de Theart, que aqui lembram um pouco Jon Bon Jovi em seus melhores momentos. As guitarras de Li e Totman estão bem encaixadas e a bateria, apesar de mais discreta, também cumpre seu papel ajudando a criar todo o clima intimista necessário para a música.

Também é dito que a calmaria sempre é seguida pela tempestade. No caso de "Above the winter moonlight", a teoria novamente está certa. A faixa tem a presença mais destacada dos teclados e é a que possui mais alternância, com passagens bem rápidas seguidas por outras mais ritmadas.

"Soldiers of the wasteland" vem logo após e segue mais ou menos a mesma cartilha de sua antecessora. A ela segue-se "Prepare for war" e há aqui uma presença de guitarras e bateria mais cadenciadas, que assumem sua velocidade habitual apenas em alguns poucos momentos. Assim como em "Above the winter moolight", essa música também traz algumas passagens mais melódicas.

"Once in a lifetime" fecha o álbum com chave de ouro, trazendo uma introdução bem legal, cortesia de Li/Totman e Mackintosh cuja velocidade é aliada aos teclados bem colocados de Pruzhanov. Daí em diante a música se comporta mais ou menos como suas antecessoras, com destaque, novamente, para os riffs e solos da dupla de guitarristas.

Com este seu segundo trabalho, o Dragonforce mostra que tem tudo para alçar grandes vôos e figurar entre os nomes das melhores bandas de heavy metal da atualidade. Afinal, em um estilo saturado como o metal melódico, a banda consegue se destacar graças ao talento de seus músicos, que conseguiram combinar suas diversas influências para criar algo que, se não é único, pelo menos é bastante original. Com certeza, Sonic Firestorm já é um forte candidato a melhor álbum do ano.

Trilha sonora: "Nymphetamine" , do Cradle Of Filth.

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