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Nevermind - 25 anos | Nirvana e o disco da safra de Seattle que mudou o rock

Nevermind completa um quarto de século, se mantém atual e com todos os requisitos de um verdadeiro clássico

23.09.2016, às 16H29.

Ok, muitas pessoas podem dizer que o Nevermind, lançado em 24 de setembro de 1991, nasceu clássico, seja pelo número de vendas, seja pelas letras das músicas, seja por ter estabelecido o Nirvana como um dos maiores sucessos do início dos anos 90. Mas muitos clássicos não resistem ao tempo, não é verdade? Esse não é o caso do segundo álbum do grupo de Seattle que pavimentou o grunge e o indie rock como um escape ao hair-glam-metal que dominava as paradas norte-americanas e expandiu a guitarra "mal tocada" como uma forma de rebeldia para uma juventude que não estava tão afim de solos intermináveis ou das outras vertentes mais estruturadas do rock.

Butch Vig, produtor do disco - que hoje integra o Garbage e já participou de diversas bandas -, comenta - em entrevista - que essa mudança no cenário foi interessante. "Eu odeio hair metal. Quando o Nirvana chegou e botou o prego no caixão do hair metal, rolou uma satisfação", enfatiza.

Nevermind, o disco responsável por essa mudança, conseguiu unir um universo de elementos favoráveis, com uma sequência de abertura composta por "Smells Like Teen Spirit", "In Bloom", "Breed" e "Comes As You Are", o álbum apresenta, talvez, o melhor combo de abertura de um disco de rock. Isso sem contar faixas como "Lithium", "Polly", "Territorial Pissings" e "Something in the Way".

Ainda, em conjunto com essa potência sonora, o disco chegou às lojas em um momento de transição econômica e política norte-americana, alcançando grandes feitos apesar da gravadora não apostar no sucesso do material. Michael Azerrad, autor da biografia Come as You Are: The Story of Nirvana, de 1993, escreveu que "Nevermind foi lançado no momento certo. É música feita por, para e sobre um novo grupo de pessoas jovens, ignorado [...]".

A repercussão disso fica por conta do rápido crescimento das vendas nos Estados Unidos, culminando com o primeiro lugar da lista da Billboard sobre o álbum Dangerous, de Michael Jackson. Nevermind, só nos Estados Unidos, vendeu mais de dez milhões e alcançando a expressiva marca de 24 milhões de cópias em todo o planeta.

E claro, os números, a pegada de não se importar com o que acontecia no mercado musical e a forma descompromissada e transgressora de Kurt Cobain gerou a mudança mais aguda do rock nos últimos 20 anos. O som apresentado pelo grupo não era o punk, não tinha um código de conduta ou regras por trás do que era feito, apenas carregava uma mistura das referências sonoras de Seattle em conjunto com mais referências e possibilidades exploradas por Cobain fora desse território, resultando em vocais, às vezes, rasgados, e uma produção básica, simples e ideal para ser cantada a plenos pulmões ao redor do mundo. Nevermind, em conjunto com tudo isso, apresenta refrões marcantes, capazes de sintetizar a juventude da época e ainda marca o início dos trabalhos de Dave Grohl com o grupo, a quem Vig credita grande parte do que foi registrado em estúdio.

Obra, de certa forma, sombria e ainda sim capaz de embalar festas em qualquer parte, com uma sonoridade que, mesmo depois de 25 anos, permanece atual. Nevermind, mesmo vindo depois do primeiro álbum do Pearl Jam, (o material do Nirvana engoliu o disco de estreia da outra banda de Seattle) conseguiu - por causa de uma junção de letras, formato e até mesmo "descompromisso" estético - chegar a mais pessoas e conversar com elas de uma maneira mais direta e idealmente imperfeita.

Em conjunto com tudo isso o segundo disco do Nirvana também é comparado por alguns grandes nomes da indústria musical a um lançamento dos Beatles. As realidades são diferentes, mas o impacto de Nevermind no mercado musical e na audiência é, realmente, inquestionável, a ponto de gerar shows caóticos e superlotados por quase todos os lugares que banda passou em seu auge.

Embebido em todas essas circunstâncias, com letras diretas e marcantes, completando o combo de trabalho, o disco tem uma das capas mais icônicas de todos os tempos - que já recebeu homenagens das mais diversas -, e conta com o clipe de "Smells Like Teen Spirit", gravado com pouca produção e grana, que se tornou um sucesso instantâneo na MTV e elevou o hype do álbum às alturas, colaborando para que o status do Nirvana fosse muito além dos contemporâneos, Pearl Jam e Soundgarden.

Para confirmar tudo isso, textos como o publicado na Rolling Stone norte-americana o qual citava Nevermind como o 13º dos 500 Grandes Álbuns de Todos os Tempos, constatam que "Nenhum disco na história recente teve impacto tão avassalador em uma geração - uma nação de adolescentes que de repente se tornou punk - e efeito tão catastrófico em seu principal criador".

Assim, depois do resultado de um quarto de século maturando em nossas mentes e garantindo a cada ano a solidificação do status de peça clássica, é possível afirmar que, mesmo se Kurt Cobain tivesse permanecido vivo e se transformado em um fazendeiro, o legado de Nevermind permaneceria repercutindo com a mesma força e intensidade.

Ouça o álbum na íntegra.