Nota dos Editores: Enquanto preparava a sua coluna, num recanto espiritual londrino, Juliano Zappia foi atacado e seu espaço no Omelete seqüestrado. Com medo das ameaças de Pedro Schuman, a Cozinha foi obrigada a publicar o manifesto no espaço da London Arena. O problema é que ficou legal e já estamos cogitando contratar o delinqüente. Confira o texto enviado pelo meliante, em que ele aconselha os aspirantes a colunistas a buscar uma outra profissão.
Coluna pop é o novo preto
Por Pedro Schuman
Em 1992, a moda era ter uma banda. Em 94, um fanzine. Em 99, uma página na Internet. Hoje, todo mundo quer uma coluna. Para salvar o mundo de uma catástrofe, Pedro Schuman (EU!) dá dicas para quem quer começar a ter opiniões próprias
Então, você acorda com uma coceira danada que parece só querer passar depois que você contar ao mundo sobre uma nova banda sueca. O que você faz?
Blog? Até pode ser, mas você já tá de saco cheio de postar um monte de coisa e a visitação da sua página só aumentar quando você faz uso de palavras como peladaça, putaria geral ou Xuxa e Angélica - nuas e juntas!.
Aí, chega aquele e-mail de um amigo que acabou de montar um site e precisa, rapidinho, rapidinho, de alguém para escrever uma coluna. Você pensa: Pô, tem gente que fala que eu mando bem no meu Blog, que eu escrevo super bem... Por que não?
Por que não?!?!, grito eu.
Mas já que parece não ter jeito, apresento aqui um guia no estilo Como Escrever Uma Coluna... Para idiotas. Pelo menos, se você seguir as dicas abaixo, quem sabe, o negócio não sai assim tão ruim...
Mas depois não diga que eu não avisei.
1- Escrever uma coluna pode parecer tarefa fácil, mas isso não significa que elas são gostosas de ler. Você precisa criar um estilo, uma voz distinta de tudo que está aí. Se o leitor não identificar o seu estilo na primeira linha, isso não é uma coluna, mas uma matéria assinada - o que, pra você, já tá bom demais.
2- Ter alguma coisa sobre o que escrever não é a mesma coisa do que ter alguma coisa para falar. Se você não tem opiniões próprias e só está disposto a dizer que os Yeah Yeah Yeahs! são ducaralho, você escolheu a profissão errada.
3- Nada de chutar cachorro morto. Do que adianta falar que a programação das rádios brasileiras é um lixo se, além de já terem falado isso trocentas vezes, TODO MUNDO JÁ SABE.
4- O mesmo vale para alguns medalhões da MPB. Se você não enxerga valor no trabalho de Caetano Veloso, Chico Buarque, João Gilberto ou Gilberto Gil, mas adora pagar pau pra alguma banda de San Francisco que, até hoje, só lançou um EP, o problema pode ser você.
5- A não ser que seja essa a função da sua coluna, não compre brigas à toa com o seu leitor. Além de espantar quem está interessado em informação de verdade, isso só serve pra evidenciar o quão egocêntrico você é ou como você está fora de sintonia com o seu público álvaro... oops... alvo.
6- Não mande e-mail avisando que a sua coluna nova está no ar. Se alguém está interessado no que você tem a dizer, eles vão até você. E não tente forçar a visitação com truques baratos, como o sorteio de uma cópia pirata do álbum inédito de algum grupo de Detroit.
7- Se você tem medo de falar o que pensa, não fale. Nunca caia no truque sujo do pseudônimo só por que você tem medo de nunca trabalhar na MTV ou na Folha de São Paulo.
8- A NME não é a bíblia da música pop. Se antes o semanário inglês chegava à poucas mãos brasileiras, hoje, além de todo o conteúdo, vídeos, músicas e atualizações diárias são acessíveis com apenas um computador e uma linha telefônica. Seu papel é o de um colunista, não o de um tradutor.
9- Repita comigo, eu sou um colunista, não um profeta. Deixe as previsões para os astrólogos. Se você ficou sabendo que uma revista nova vai aterrizar no Brasil, um festival vai acontecer em Pindamonhangaba, ou que meninos começaram a costurar em pontos de ônibus em NY, cuidado. Certifique-se dos fatos antes de escrever sobre ele. O prazer de descobrir algo antes é bom, mas o gosto amargo de iludir o seu leitor pode ser duas vezes pior. Ou seja, solte suas bombas apenas quando elas estiverem para explodir. Do contrário, elas podem se detonar na sua mão.
10- Criticar ou comprar briga com outros colunistas só serve para alegrar a vida de outros colunistas. Os leitores, ou como um amigo recentemente se referiu a eles, a minoria de pessoas que não escreve colunas, não vai achar interessante.
A London Arena e seu autor, Juliano Zappia, voltam ao normal a partir da próxima edição.