Os fãs do rock progressivo não podem reclamar. O ano mal começou e ícones do gênero já passaram pelo país. Depois dos shows do ex-Pink Floyd Roger Waters e do Asia (cujos integrantes foram de várias superbandas progressivas), sábado foi a vez do Jethro Tull, um dos precursores de um rock que já foi chamado de acabado, passar pelo Rio de Janeiro.
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O show faz parte de uma turnê que os britânicos vêm fazendo acompanhados por uma orquestra, iniciada ano passado e que já rendeu um DVD. Como não dá para trazer um exército de músicos para reproduzir o espetáculo, o jeito foi suar a camisa para tentar reproduzir ao máximo o som sinfônico. Uma idéia interessante, já que o som da banda é uma combinação da música clássica e o folk sustentadas pelo rock. A única convidada da turnê mundial a vir para os shows na América Latina foi a violinista Ann Marie Calhoun. E logo ficou óbvio por que ela veio. Ann encantou os presentes com duelos eletrizantes com Ian Anderson, líder e flautista do Jethro Tull há 39 anos. Em certos momentos Ian incorporava o seu lado de elfo da floresta e dançava em volta de Ann como se estivessem em algum bosque saído de uma fábula.
Foram 105 minutos de espetáculo, que começou com "Someday the sun", em que Ian tocou gaita e cantou acompanhado apenas pelo guitarrista Martin Barre. Com esse início ficou claro que a noite seria calcada por uma maneira nova de apresentar as músicas. Até as clássicas do grupo ganharam novas camadas sonoras e arranjos joviais. A segunda canção foi "Living in the past", que levantou o público. Vale dizer que 90% dos presentes eram quarentões e cinqüentões. Os poucos jovens presentes eram os filhos à tira-colo. Ao final da canção, Ian começou seus ótimos e curtos monólogos explicando as motivações, dizendo o ano e outras curiosidades engraçadas antes de cada música tocada. Coisas como quando brincou que o Rei Henry compunha ótimas canções quando não estava ocupado decapitando cabeças, antes de iniciar "Runty".
Os primeiros acordes de "Thick as a brick" enlouqueceram os presentes. Ian alternou violão, pandeiro e flauta em uma improvisação magistral. Por sinal, toda a banda se apresentou da mesma forma. O guitarrista Martin Barre, o baterista Doane Perry , o tecladista Andrew Giddings e o baixista Jonathan Noyce também abusaram do improviso. Ian saía de cena algumas vezes para prestigiar os solos de seus companheiros. Na música "Steal" deixou o palco para que Barre pudesse viajar em um solo harmônico e feroz com sua guitarra.
Logo depois Ian anunciou que ia tocar a música mais famosa da banda: "Stairway to heaven". Todos entenderam a piada quando os primeiros acordes de "Aqualung" explodiram nas caixas de som. Interessante que ela começou só no teclado de Giddings, para depois ser acompanhada pelo baixo de Noyce. E assim prosseguiu com o violino de Ann, a flauta de Ian, a guitarra de Barre e finalmente a bateria de Perry. Antes de começar a cantar, a música ganhou uma versão inusitada e bela só com os instrumentos por quase 5 minutos.
Depois Ian anunciou "America", famosa música do filme Amor Sublime Amor, composta por Leonard Bernstein. Antes de tocá-la explicou que os norte-americanos não podem ser vistos como únicos bandidos do planeta por causa de uma minoria e um presidente equivocado. Durante a execução da canção, a banda destilou acordes de outros clássicos da música americana. Coisas como "Maria", do filme já citado acima, e "Over the rainbow" do Mágico de Oz, entre outras.
O show prosseguiu com "My God" e "Budapest". Depois disso saíram do palco para retornar minutos depois para fechar a noite com "Locomotive breath". Nesse momento o público se levantou de suas cadeiras e grudou no palco. Era possível ver pais colocando seus filhos pequenos sentados na borda do tablado. Uma maneira inteligente de apresentar aos mais jovens um estilo de música que tem a excelência como marca registrada.
Set list:
- "Someday the sun"
- "Living in the past"
- "Bluegrass in the backwoods"
- "Runty"
- "Jack in the green"
- "The donkey and the drum"
- "Thick as a brick"
- "Parade"
- "Sweet dream"
- "Bouree"
- "Pastime in good company"
- "Beside myself"
- "Steal"
- "Aqualung"
- "America"
- "My God"
- "Budapest"
Bis: - "Locomotive breath"