Esqueçamos temas orquestrados, empolgantes e o Jazz no melhor estilo Saturday Morning Cartoons. Como qualquer outro CD de Trilha Sonora comercial e descartável, montado oportunamente com astros do momento, a compilação de Scooby-Doo tem vários altos e baixos, muito Pop e Hip Hop/R&B da geração MTV. Não chega a ser a mistura de John Williams com Fatboy Slim, de sinfonia com música eletrônica, como Perdidos no espaço (Lost in space, de Stephen Hopkins, 1998), mas a inconstância incomoda. Vamos às faixas:
Shaggy - "Shaggy, Where Are You?"
A escolha do astro jamaicano não acontece só pela coincidência com o nome original do Salsicha. A identificação com o público adolescente dos EUA é imediata, graças à sua mistura de Pop grudento e batidas dançantes, mais timbre e sotaque peculiares. Algumas falas incidentais dos personagens causam alguma graça, mas o refrão insistente cansa logo. Daquelas música para se ouvir sem muita atenção.
Outkast (Feat. Killer Mike & Sleepy Brown) - "Land of Million Drums"
Não dá pra entender nada do que Andre Benjamin (Dre, mas não aquele...) e Antwan Patton (Big Boi) dizem. Mas a dupla de Hip Hop, o Outkast, combina muito bem o visual exótico e os samplers originais. Fazem a melhor faixa do disco. Os "barulhinhos" que acompanham a batida são irresistíveis. As vozes transmitem bem o espírito "assustador-divertido" do filme - e parecem menos forçadas do que as da canção anterior. Daquelas músicas que se escuta mexendo os pés e a cabeça, de um lado pro outro, sem muito compasso.
Lil Romeo (Feat. Master P) - "Lil Romeos B House"
Com pouco mais de dez anos de idade, Lil Romeo é uma das várias invenções da indústria norte-americana, mistura de rapper com criança de voz prematura. Não dá pra aguentar essa espécie de Jordy do gueto, por mais que a mixagem e a produção bebam na fonte do Soul da Atlantis e no Funk da Motown. Daquelas músicas que se escuta e se reflete: "puxa vida, James Brown é insuperável mesmo..."
Solange with Murphy Lee - "Thinking of You"
Tudo aquilo que até agora dava certo (mesmo com alguns tropeços), aqui descamba. Samplers desencontrados, vozes agudas e irritantes. Nem todo mundo pode ser TLC, então Solange (quem?) e Murphy (como?) não merecem misericórdia. Daquelas faixas que se pula, sem dó.
Sugar "Arroz-de-festa" Ray - "Words to Me"
"Words to Me" se parece com TODAS as músicas do Sugar Ray. O grupo não inova, fica sempre naquela tentativa de parecer cool, com o violão no fundo, batidas melosas e pose de malandro. Mas é preciso dar o braço a torcer: o grupo capitaneado por Mark McGrath sempre ganham pontinhas em filmes e, consequentemente, nas trilhas sonoras. Para quem não se cansa do estilo do grupo, vale a audição, sem muita comoção. Daquelas músicas tipo "Endless Summer Love", que um dia enchem o saco de vez.
Uncle Kracker (Feat. Busta Rhymes) - "Freaks Come Out At Night"
Tenta passar o mesmo clima bizarro de "Land of Million Drums", mas soa mais artificial, com alguns sons de fantasma bem manjados. Não deixa de ser agradável, e Rhymes merece o mínimo respeito. Destaque para o beat-box no finalzinho. Daquelas músicas iguais a todas as outras.
Allstars - "Bump in The Night"
Grupelho de três garotas e dois rapazes, que cantam fino para aparentar menos idade. Não se deixe enganar. O teclado do começo tenta reviver os tempos de "Thriller", de Michael Jackson, mas a canção se revela tão fajuta quanto os Backstreet Boys vestidos de monstrinhos. Daquelas que necessitam de certa benevolência, paciência, curiosidade...
Kylie Minogue - "Whenever You Feel Like It"
Sem chance. Kilye Minogue é o tipo de coisa que se deixa enterrada nos anos 80, intocada, por maior que seja o revival do momento. Dance Music atrasada, refrão exaustivo, a pior do disco. Curiosidade: é a única faixa que não aprece no filme. Daquelas músicas que, com sorte, alguma danceteria "da moda" adota para o set-list.
Little T and One Track Mike - "Its a Mistery"
Linha de baixo interessante, apesar da letra melosa e "falada", estilo rapper apaixonado, cansativo a esta altura do disco. Não fosse o refrão pobre, teria sido aprovada numa boa, pela levada calma, inofensiva. Daquelas músicas que agradam, já que o resto fica nivelado por baixo.
Baha Men - "Scooby D"
Chavões do Rap adequados ao tema. Uma sequência de "Scooby Yo", "Scooby-DooYa", "Scooby in the House", "Shaggy Yo, Shaggy Ya". Fica engraçado, de tão inusitado. Daquelas que se escuta e se reflete: "Quando o Beastie Boys vai voltar e salvar o Hip Hop inteligente?"
The Atomic Fireballs - "Man With the Hex"
O grande enigma do disco. Em meio aos rappers e adolescentes, surge uma big-band norte-americana de Neo Swing. A escolha se justifica pela relação do vudu e da magia negra (uma temática recorrente no estilo) com o enredo do filme. O som é animado, vocal rouco, acompanhado de palmas e coro, mais contrabaixo e naipe de metais. Mas quem conhece o Swing original de Count Basie, ou mesmo o Neo Swing da Brian Setzer Orchestra, logo percebe que o som dos Fireballs é engessado, mecânico - pra não dizer vagabundo. Daquelas músicas que se canta sozinho, ou se dança acompanhado num baile roqueiro.
Simple Plan - "Grow Up"
Logicamente, dentre os artistas fabricados, faltavam os jovens impostores do Punk Rock. A molecada tenta passar atitude, mas acaba desmascarada pelo fraco vocal. Daquelas músicas que se pula, sem dó. E ainda se amaldiçoa o Blink 182 pelo mal que fazem ao Rock...
MXPX - "Scooby-Doo, Where Are You?"
Fica a cargo do veterano MXPX, também conhecido como Magnified Plaid, trio surgido em Washington, 1993, a canção-tema. Depois do Simple Plan, a melhora é significativa. Mas fica aquele incômodo: o que estariam fazendo os Punks no meio desse caldo? Daquelas músicas animadinhas que funcionam melhor nos Estados Unidos, já que o pessoal aqui prefere o bom e velho "Scooby-Doo, meu filho, cadê você?"
David Newman - "Mystery Inc".
Um final melancólico, depois do sobe-e-desce. Arranjo orquestrado, simpático e suave, mas extremamente deslocado, depois da ênfase no Pop. Newman já criou temas célebres como o de Duck Tales, ou a trilha sonora de The Flintstones (de Brian Levant, 1994), mas aqui é pouco aproveitado.
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