O novo disco do duo de Detroit é tudo o que se esperava da banda das listras brancas, com a já tradicional explosão blues-punk, adicionado de elementos de sofisticação incomum - talvez influência da Londres em que foi gravado o disco.
Dois elementos foram incluídos na sonoridade do grupo - a voz da baterista Meg e um belo piano em "I want to be the boy to warm your mothers heart" - que acabam tornando-se indispensáveis, oásis na eventual aridez aguda do trígono Jack/overdrive/bateria.
Na melodia a evolução vem pelo aproveitamento cada vez melhor dos espaços vazios (como na bela e minimalista "In The Cold Cold Night") e toques aqui e acolá de jazz e bluegrass.
Em um ano que o Blur parece ter jogado fora a qualidade e que o Radiohead abriu mão da insana coerência do passado recente, os White Stripes são nada menos que um porto seguro raro e indispensável para os momentos de necessidade radiofônica do vivente.
Confira agora um comentário faixa-a-faixa"
1. "Seven Nation Army"
Riff fabuloso com um jogo de contraste calmaria/distorção.2. "Black Math"
Típico garage-blues agudão e adrenalínico.3. "There´s no home for you here"
Vocal Beatles em base cadenciada, sucessora legítima de "Dead Leaves and the Dirty Ground".4. "I Just Don´t Know What to do With Myself"
Bela versão cover da música de Burt Bacharach.5. "In The Cold Cold Night"
Balada jazzy cantada com tesão por Meg, belíssima, que prova o quanto nada dessas Norah Jones da vida é jazz. Propaganda de uísque.6. "I Want to be The Boy To Warm Your Mothers Heart"
Piano tipo Elton John sobre vocal quase afinado de Jack somado na canção ao mesmo tempo selvagem e baladeira.7. "You´ve got her in your pocket"
Violãozinho dedilhado e voz calma fazem o clima fogueirinha da canção.8. "Ball and Biscuit"
Bluesão reminiscente de John Lee Rocker, porém, distorcidíssimo.8. "The Hardest Button to Button"
Linha marcada de baixa stoner emoldurando guitarra preguiçosa e vocal raivoso.
Rockão pras massas.9. "Little Acorns"
A história de Jane e como ela deu a volta por cima sobre as merdas da vida introduz a mais pesada faixa do disco e, se levarmos em conta o sissy metal atual, do ano. Versos tensos, bumbo e one-note guitar com refrão distorcido. Linda.10. "Hypnotise"
Guitarra de variação rápida e intensa, de acordes escavando o caminho para o vocal em uma faixa que, por vezes, mostra a nítida influência melódica do blues whitestripeano.11. "The air near my fingers"
Mais uma faixa em que Jack explora bem sua capacidade de brincar com silêncios e barulhos.12. "Girl you have no faith in medicine"
Bluesão que consegue fugir do estereótipo citando simpática canção que, apesar do peso, chega a ser fofinha.13. "It´s true that we love one another"
Bluegrass que não passa de um ménage à troi piadístico entre Jack, Meg e Holly Golightly. Linda canção, altamente cantável - não só pela hilária letra como pela pegajosa melodia.