Música

Entrevista

Gop Tun | Amizade musical do Facebook para as pistas de dança

Amigos contam os planos para o futuro e falam sobre a segunda edição do Dekmantel no Brasil

01.12.2017, às 11H11.
Atualizada em 01.12.2017, ÀS 11H59

Pode até parecer brincadeira, mas o Gop Tun - um dos núcleos mais bacanas da e-music paulistana - teve sua chama inicial a partir de um grupo no Facebook criado para trocar curiosidades sobre músicas e DJs diversos. Possivelmente, quem fazia parte dessas discussões não imaginava que naquele epicentro on-line sairiam alguns dos representantes mais expressivos da cena eletrônica paulistana e - entre eles - a ponte mais sólida entre o que acontece na música eletrônica brasileira e holandesa.

Para saber um pouco mais sobre o projeto: Passado, presente e futuro da Gop, Fernando Nascii (32), Gui Scott (31), Caio T (32) e Bruno Protti (29), o TYV, conversaram com o Omelete e abriram o jogo sobre como esse núcleo, com apenas cinco anos de estrada, tem realizado algumas de suas proezas mais interessantes.

De entrada, vale a pena saber que os eventos realizados pelo time de amigos são conhecidos por trazer alguns nomes de peso do cenário da e-music mundial para tocar por aqui, sempre prezando por um clima intimista em conjunto com uma produção impecável. Porém, para que esse conceito chegasse ao ponto em que está hoje, foi necessário apostar - lá em 2015 - na dedicação exclusiva ao ideal de realizar festas interessantes e que ainda não tinham um público fiel e interessado como agora.

Como consequência disso, os amigos encontraram um escritório e passaram a se reunir diariamente no endereço onde, atualmente, gerenciam todo o espectro do Gop Tun. E com isso surge a pergunta: Transformar o amor em algo com horários e agendas, não faz a rotina matar a diversão?

Caio T faz questão de ressaltar que isso ainda não aconteceu com a trupe. “É tanta coisa que a gente fez desde que tomamos essa decisão, é tanta novidade que surgiu em tão pouco tempo, que eu acho que rotina não existe pra gente”. TYV complementa dizendo que se algo parecido com uma rotina surge, eles inventam algo para que ela não se estabeleça. “Inventamos uma sexta artística, que é um dia no qual a gente só fica pesquisando música ou vamos trabalhar na praia pra arejar a cabeça”.

A estratégia parece estar funcionando bem, já que cinco anos depois do início das pesquisas musicais, dois anos depois da mudança para o escritório, a equipe tem realizado festas maiores e até trouxeram o Dekmantel para o Brasil. Assim, com todas essas atividades acontecendo, existe alguma coisa lá do início que ainda se mantém no dia a dia dos Goppers?

Para essa pergunta a resposta vem de forma unânime: “A vibe”. “É óbvio que muita coisa mudou, a gente tem muito mais tarefas, temos mais coisas acontecendo, mas eu acho que as brincadeiras são as mesmas”, destaca TYV.

Caio T aproveita a deixa e complementa: “Agora rola uma inversão no dia a dia da equipe. O que era hobby virou trabalho pra gente, mas com uma vibe e uma leveza que gera o mesmo lance que a gente tinha anteriormente”.

Compartilhando influências

E com essa vida conjunta, passando o dia no escritório e algumas noites nas pistas, como as dicas de cada um deles influenciam os outros? Scott conta que é comum a dica de um entrar no set do outro: “Nosso gosto musical é muito parecido”, pondera.  Algo que TYV complementa ao afirmar que a troca musical que antigamente acontecia on-line, continua acontecendo hoje, porém pessoalmente.

“Sempre tem um dia que alguém mostra a música de um artista que ninguém conhece e todo mundo começa a pesquisar. De repente aquele artista se transforma no artista da nossa preferência”.

O começo da Gop Tun e o passeio por uma estrada que não existia

É inegável que um dos detalhes mais interessantes nesta curta e intensa história vivida pelos amigos é a criação e a consolidação de uma cena que não existia em São Paulo. Isso fica claro quando se entende a forma como o grupo criava e entregava suas festas e também contratava os DJs para tocar por aqui. “Quando a gente começou a fazer a Gop, não existiam outras festas trazendo esse tipo de som que a gente gostava e tocava, era uma coisa totalmente nova. Fazíamos festa para 300 pessoas, com artista que ninguém tinha ouvido falar e a galera aparecia”.

A história segue com Bruno comentando que “A maioria dos artistas que a gente trouxe, principalmente no começo, foi por pura nerdice nossa. Da gente curtir muito e querer ver o cara aqui, sabe. Ter essa experiência, pra gente ver ele tocar”. E Caio T prossegue comentando que nesse primeiro momento, era necessário pagar integralmente o cachê dos DJs convidados. “Eles só vinham para tocar com a gente e nenhuma outra festa conhecia o que esses caras faziam. Hoje você tem, por exemplo, o Warung querendo que a gente toque lá e querendo compartilhar um artista que a gente traz para a Gop Tun. Coisa que há cinco anos não existia”.

Todos esses passos e investimento em algo desconhecido acabaram gerando uma cena cada vez mais forte e que hoje comporta sonoridade distintas, quase sempre fora do eixo sonoro de maior visibilidade em clubes e festas no Brasil, aposta que Caio T coloca como a grande conquista do Gop nesses cinco anos. “Se fosse para escolher uma coisa seria o fato de consolidar uma cena que não existia na época que a gente começou. Hoje você vê que já existe um mercado por trás disso. Tem o Dekmantel que é um festival consolidado e que apresenta um line-up que, há cinco anos, seria um fiasco. Mas hoje você tem uma série de festas e clubes que consomem esse tipo de som”.

Dekmantel, a consolidação da Gop e da cena

E claro, como parte do processo de crescimento e expansão do núcleo paulistano, a primeira edição do Dekmantel fora da Europa (realizado em São Paulo) consolidou a marca e também o mercado que busca por esse som. “Depois que o Dekmantel veio, alguns clubes e empreendimentos começaram a buscar um perfil Gop. Às vezes a gente recebe e-mails da galera dizendo: ‘Preciso de um DJ estilo Gop Tun’, por exemplo. E eu acho que isso é o mais foda: Começamos a fazer algo porque não existia nada semelhante e agora você vê que já existem outros desdobramentos”.

O time também ressalta que a estreia do Dekmantel no Brasil acabou dando uma abrangência mais nacional para o Gop Tun o que os conduziu para “turnês em outras cidades, com promoters que têm os mesmo valores que a gente, as mesmas ideias, os mesmos gostos musicais e que também estão começando”.

Caio T comenta ainda que a realização do Dekmantel trouxe credibilidade. “Eu acho que a gente assumiu uma bucha quando decidimos fazer o Dekmantel aqui, porque foi um convite que apareceu dos holandeses e a partir desse momento a gente não tinha a menor noção de como se fazia um festival, por onde começava, e nem a grana pra isso. No final das contas, a gente não imaginava o risco que estávamos tomando para fazer o festival acontecer”. E segue, “Se a gente tivesse parado pra pensar, talvez não tivéssemos feito. Foi uma coisa que foi no emocional, na paixão”.

Esse impulso por fazer valeu a pena, já que um dos resultados mais imediatos da realização do festival por aqui foi a união de muitos coletivos paulistanos para se apresentar no evento e convites posteriores para gigs em locais importantes da Europa. A DJ Cashu foi convidada para tocar no Panorama Bar do Berghain, em Berlim (um dos clubes mais emblemáticos do planeta), Tessuto tocou na Holanda e o Selvagem fez parte do line-up do Boiler Room no Dekmantel em Amsterdam.  “Fazer o festival aqui foi algo que, de fato, fortaleceu a cena e mostrou o que está acontecendo no Brasil para o mundo”, destaca Caio T.

Mas será que quando eles começaram esse trajeto, algo parecido com o que está acontecendo passava pela cabeça de algum deles? A resposta é um sonoro “100% não”.

Nascii usa como exemplo para todas essas surpresas a empolgação do grupo ao saber que iria tocar fora de São Paulo pela primeira vez. “Nós ficávamos o tempo todo dizendo ‘Caramba, a gente vai tocar no Rio. Eles estão interessados em ouvir nosso som’”.

Como o Dekmantel veio parar em São Paulo

Bruno Protti comenta que um dos fatores principais para que o Dekmantel viesse para o Brasil, ao invés de qualquer outro lugar, foi justamente a percepção do que a cena paulistana tem feito nos últimos anos. "Os caras da Holanda vieram pra cá e nós levamos eles para todas as festas, pros caras conhecerem o que está acontecendo. E esse encantamento por São Paulo só aconteceu por causa da experiência completa”. “Eles chegaram a comentar que o que está acontecendo aqui é uma coisa única”. Diante disso, não dá pra negar que o surgimento de um Dekmantel por essas bandas era algo quase inevitável.

Sobre o segundo Dekmantel: O que podemos esperar?

Agora com a segunda edição do festival confirmada e com um lugar novo já acertado, Caio T conta que neste momento não dá pra saber se o evento será maior que o primeiro e pondera que muita gente que acabou não indo, por não saber, não conhecer, ou não acreditar na edição de estreia, deve ir dessa vez. “Por esse ponto de vista, ele deve ser um pouco maior, mas eu acho que uma das principais características do Dekmantel é manter uma vibe intimista e do Gop também. Isso é algo que a gente coloca em primeiro lugar. Não podemos deixar o negócio desandar, ficar muito grande e perder o charme que eu acho que é o que faz todo mundo ter a experiência que tem”.

Vale destacar que a mudança de local, de acordo com o time deve gerar uma experiência completamente diferente da criada no Jockey. “O Jockey é um lance mais de arquitetura, um espaço emblemático da cidade. E o Playcenter é uma outra pegada, mais parecido com o festival de Amsterdã, por ser um ambiente mais arborizado. Vai ser diferente, com certeza, mas o intimismo vai continuar. Isso é, com certeza, algo que vem em primeiro lugar”.

Além da mudança de local e das novas possibilidades que serão exploradas para a segunda edição, os Goppers comentam que devem chegar mais maduros e vacinados para a realização dessa nova fase e aproveitam para lembrar o quanto estavam tensos antes da realização da primeira edição do Dekmantel por aqui: “Todos nós estávamos muito inseguros e apreensivos, na semana que antecedeu a primeira edição do festival, porque o evento poderia fazer diferença na nossa história pro bem ou pro mal”, e confessam que nesse período não pensaram muito no futuro, pois “se a primeira edição desse errado, provavelmente a gente não estaria conversando aqui, agora”.

Porém, esse drama faz parte do passado e a equipe está ciente dos aprendizados que rolaram na primeira experiência, “Já vamos chegar vacinados”.

O que esperar dos próximos cinco anos

Voltando a falar especificamente do Gop Tun, os amigos ressaltam que algo que ficou comprometido neste ano, mas que deve ser melhorado em 2018 é o calendário de festas. Eles comentam que em 2017 a maior parte das Gop aconteceram no segundo semestre - por causa do foco extremo no Dekmantel - mas isso não deve se repetir.

Os amigos também comentam que em  2017 o foco do trabalho artístico da equipe ficou por conta do Gop Tun DJs, com os integrantes tocando pelo Brasil - como no caso da tour comemorativa de 5 anos que já passou por Belo Horizonte, Florianópolis, São Paulo e tem datas agendadas em Campinas, Porto Alegre e outros pontos do país -  e também em outros países como Colômbia, Estados Unidos e alguns pontos da Europa.

Agora a intenção “é sustentar o crescimento do Gop em nível nacional com um planejamento que já está sendo detalhado desde já”.

E com tudo isso acontecendo, pensar nos próximos cinco anos não parece algo tão distante, mas ainda assim Caio T mantém os pés no chão e junto com os amigos é categórico ao afirmar que pensar em algo para mais cinco anos é complexo, pois a cena é muito volátil. “Muita coisa surge e muita coisa termina. E a partir do momento que você cresce, você tem que entender a demanda do público e fazer isso sem deixar o conceito para trás”. Como exemplo ele cita o fato recente de ter uma pista dedicada ao techno em uma Gop Tun. “Eu nunca imaginei que iriamos fazer uma pista que tivesse só techno, mas fizemos isso na Black Madonna, com o Anthony Parasole, e aconteceu de forma natural”.

Tudo isso se une ao objetivo de fomentar cada vez mais o crescimento de novos núcleos em outras cidades, “levando a experiência que é o Gop e a curadoria do grupo para novos lugares”.

Bem, agora nos resta aguardar para saber em qual direção esses amigos irão caminhar com a música e a inventividade. Mas até lá, eles já tem um encontro marcado com seu público neste sábado 2 de dezembro, com uma festa na qual Young Marco, Orpheu The Wizard, Jamie Tiller, Tako e os Goppers vão colocar todo mundo pra dançar. Mais informações estão disponíveis aqui.

Dekmantel divulgou recentemente parte de seu line-up - saiba mais.