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Eu sou Sam

Eu sou Sam

D
04.05.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.12.2016, ÀS 20H01
Sou?

Sei lá, na verdade. O que realmente importa é o que está em minhas mãos.

Já há um tempo ouvia falar do filme Uma lição de amor (I Am Sam), com a trilha sonora com covers decentes dos Beatles. E, desde então, ria deste aparente paradoxo que é falar em "covers decentes".

Sempre penso em covers como diversão por diversão, sem muito mais a oferecer. E a verdade é que poucas são as exceções em condição de me contrariar - o álbum acústico do Nirvana, com seus covers de Bowie, Vaselines e Meat Puppets, "I Can´t Take My Eyes Of You" pelos Manic Street Preachers, "Keep On Rocking On The Free World" pelo Peral Jam, "With A Little Help From My Friends" pelo Joe Cocker, "Eleanor Rigby" pelo Ray Charles e "Blackbird" pelo Jaco Pastorius.

É isso e não muito mais (e - que interessante! - a maioria já era dos Beatles). Normalmente os covers têm o "péssimo hábito" de se tornarem duplas paródias - da música original e da banda executante.

É claro que o hábito é por demais interessante e divertido e sempre surgem coisas como ("Hit Me") "Baby One More Time" pelo Travis, ou "Where The Streets Have No Name" pelos Pet Shop Boys. Mas daí a se propalar verdadeira qualidade na coisa já seria exagero deslavado.

Pois essa era a minha desconfiança em relação à trilha do filme.

Este sentimento começou a ceder no exato instante em que vi a bolacha em questão na vitrine de uma pequena loja de CDs. Iniciada a clássica small talk com o vendedor, logo já estava dando uma pequena primeira ouvida na obra.

O disco é dos mais bem humorados de uma época em que o rock and roll se leva a sério demais e que todo o entretenimento se leva a sério demais.

isso é, no mínimo, suicídio quando sua principal característica e ponto de atração é justamente a irreverência e uma atitude de sincero "foda-se".

Eis onde bandas como Strokes e White Stripes entram em cena, pouco ligando se estão tocando "limpo" ou se estão querendo dizer algo com as letras. Simplesmente fazem som e se divertem- e ganham algum também, ora bolas!

O disco?

Bem, vai tentando visualizar a coisa enquanto o ouço (pela décima-milésima vez), certo?

  1. Aimee Mann e Michael Penn - "Two of Us" - Alguém aí lembra da Jane e do Herondy cantando "Não Se Vá"? Pois é a mesma coisa; um casalzinho cantando uma música romântica. Só que vem junto um componente de qualidade musical e diversão que o duo nacional nunca chegou a sequer imaginar.

  2. Sarah McLachlan - "Blackbird" - A mais bela das canções dos Beatles (na minha humilde opinião) transformada em uma deliciosa balada country, onde a cantora - de muitos recursos vocais - segura um pouco as rédeas para dar dignidade à versão. Conseguiu.

  3. Rufus Wainwright - "Accross the Universe" - Confesso não conhecer o sujeito, mas sua versão acústica para o hindi-britpop de George Harrison ficou muito bela - apesar de pouco inovadora, diferindo quase nada da original além do timbre da voz do sujeito.

  4. The Wallflowers - "I’m Looking Through You" - Uma bela balada rápida de textura country belamente interpretada pelo filho do Homem, dando tintas modernosas ao original.

  5. Eddie Vedder - "You’ve Got To Hide Your Love Away" - Do grande caralho! Das mais intensas canções de Lennon e McCartney interpretada - em cima de violão e harmônica - visceralmente pelo frontman do Pearl Jam, perfazendo uma combinação destruidora.

  6. Ben Harper - "Strawberry Fields Forever" - Grata surpresa, é uma das poucas em que o intérprete realmente tratou a música como sua, esta versão caberia tranqüilamente em algum dos discos do grande nome do folk norte-americano.

  7. Sheryl Crow - "Mother Nature’s Son" - Sempre achei a cantora e multi-instrumentista norte-americana bastante sem graça. Definitivamente, ela conseguiu dar este seu "ar" à música. Ainda assim é interessante notar a mistura violão-orquestra que pareceu casar bem com a meia-voz da cantora.

  8. Ben Folds - "Golden Slumbers" - Outro que não conheço muito. Seu Ben Folds Five nunca me chamou a atenção. Sua voz é o que eu esperaria ouvir se Paul fosse americano e sua interpretação minimalista acabou funcionando bem.

  9. The Vines - "I’m Only Sleeping" - Uma das canções que criaram o britpop moderno recebeu um fundo evidente de violinos em sua versão moderna. Somando-se ao fato de que o vocal perdeu muito de seu poder original (e era a grande atração da música em sua versão original) acabou tornando a música um pouco "esforçada" demais, sem realmente chegar lá.

  10. Stereophonics - "Don’t Let Me Down" - A esta altura do campeonato o leitor já deve ter visto o videoclipe desta aqui. E com certeza já pôde conferir a maravilha que uma boa equalização - jogando os instrumentos lá para trás do jogo vocal - fez com a versão dos competentes britânicos.

  11. The Black Crowes - "Lucy In The Sky With Diamonds" - Sacada óbvia pegar os últimos "românticos" do movimento hippie para brincar com a homenagem à lisérgica amiga de escola de Julian Lennon. Infelizmente parece que os caras se sentiram um pouco intimidados, deixando a versão bem próxima (e por isso mesmo lejos inferior) à original.

  12. Chocolate Genius - "Julia" - Quem? Dá pra dizer que a voz rouca do vocalista-chocolate combinou perfeitamente com o clima da canção e acabou tornando esta uma das melhores versões do disco.

  13. Heather Nova - "We Can Work It Out" - Nunca havia imaginado ouvir esta em uma voz feminina. E a garota realmente fez bonito, com uma versão pouco mais fluida que a dos Beatles e ainda dando belos toques vocais. O truque de se arrastar algumas sílabas até o limite do tempo musical é velho e muito bem usado aqui.

  14. Howie Day - "Help!" - Uma burocrática versão de boteco pro hit dos britânicos. De repente pode ser o meu preconceito contra a música em si, mas não achei particularmente brilhante.

  15. Paul Westerberg - "Nowhere Man" - De onde é este cantor? Fez uma bela versão voz/violão para esta peça depressiva e belísima.

  16. Gradaddy - "Revolution" - A grande surpresa do disco, a mais original das versões, acabou se tornando uma verdadeira música dos caras em uma interpretação que subverte tons, tempos e clima da original. Como a versão de Joe Cocker para "With A Little Help", acabei me apaixonando por esta em detrimento à original.

  17. Nick Cave - "Let It Be" - E o pior é que parece que o cara canta do fundo de uma caverna mesmo. Com uma personalidade ímpar, matou a bola no peito, saiu driblando e chutou no canto. Indefensável, definitivamente.

  18. Aimee Mann - "Lucy In The Sky With Diamonds" - A garota aparece de novo com uma música que também reincide no disco, e dá para dizer que não redundou, muito pelo contrário. Acabou, com muita emoção pra compensar a limitada originalidade, se tornando a versão que LSD merecia já lá com os Corvos Negros.

  19. Nick Cave - "Here Comes The Sun" - Ainda prefiro a versão do Lulu Santos. Peraí! Não entendeu o cinismo? Aqui a bela balada de George acabou se tornando uma soul music das mais poderosas, apesar da voz um pouco "presa" do Cavernoso.

Um grande encerramento para um grande disco, que acaba provando que as obras de tributo e covers nem sempre devem ser tomados como algo depreciativo.

Eu acho...

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