Melhor admitir logo no começo do texto: não conheço praticamente nada da obra do Rush. Reconheço a importância - e conseqüente dinossauriedade - dos canadenses e sei que eles cantam a música do McGyver e mais uma outra aí que não me recordo o nome.
Portanto, esta não é uma resenha tecnicamente aceitável sobre o espetáculo. Minha missão da última sexta-feira era lamber o ibope latente na pele das ditas celebridades que habitavam o camarote da Kaiser.
Missão ligeiramente intragável se não fosse a cerveja de graça e o rock que os fãs me garantiam. Isso sem contar o fato de que ia poder assistir ao show - bom ou não - longe da multidão que acotovelou-se pelo estádio do Morumbi.
Estádio, aliás, que fica no fim do mundo. Fiquei um tempao preso no rush de São Paulo (Rush, hein? Trocadilho infame.) até chegar lá. Do lado de fora, já na hora marcada para o início do show, os pagantes ainda se matavam na fila e na revista para entrar. Outros tentavam, em vão, comprar ingresso com desconto para estudante na bilheteria.
Ao lado de hot-dogs e pernis jogados nas chapas, um carro estacionado ostentava uma grande placa de um sebo da cidade. Como cheguei atrasado, não pude conferir se era só propaganda ou uma filial móvel da loja. Porém, serviu para comprovar minha teoria que o show do Rush teria a maior concentração de donos de sebos do que qualquer outro (marca talvez superável apenas em uma apresentação do Yes).
Surpreendentemente, o show começou com um atraso mínimo de quinze minutos. Cheguei ao camarote no meio de Tom Sawyer, a primeira música. Péssimo sinal, já que a única que conhecia foi reduzida aos minutos finais.
Restou-me, então, rezar para aparecer algum vip interessante. Desisti disso também quando a lista já compreendia Patrícia Coelho, Kiko Zambianchi, Mario Velloso e os caras do J. Quest, além de alguns Big Brothers.
Suspirei e desencanei. De qualquer forma o show - assim como a cerveja - não ia acabar tão cedo.
Foi com esse pensamento que encarei as mais de três horas de show. Prestei atenção nas seis primeiras músicas, até desistir. Não conhecia nenhuma mesmo, e a distorção do som não colaborava.
Sabe a vantagem de um camarote depois que você já fez o seu trabalho? Poder sentar confortavelmente e assistir ao show no circuito interno de TV, com a mesma edição dos telões externos, comendo patês coloridos e sendo servido por garçons simpáticos. Sempre na esperança de que apareça alguém que suporte uma pergunta mais desenvolvida do que e aí, sua passagem pela Casa dos Artistas valeu a pena mesmo?.
Interlúdio
Na entrada do camarote, Penélope Nova e André Matos - o mais novo casal, er, rock do Brasil - são entrevistados por Otávio Mesquita.
Um minuto depois, enqüanto os fotógrafos e repórteres se esgoelam sobre sua namorada, André é abordado pelo senhor Mesquita com a singela pergunta como é seu nome mesmo, rapaz?.
Fina ironia.
Fim do interlúdio
Como era de se imaginar, não faltaram virtuoses na linha olha que bonito, ele sabe tocar guitarra. A única punhetagem realmente impressionante foi a apresentação solo do Neil Peart e sua bateria giratória. Fenomenal. Demorou tanto que a cerveja ficou quente.
- Constatação 1: as pessoas aindam acendem isqueiros em shows. Mesmo.
- Constatação 2: pessoas famosas também fazem air guitar. E o pior, acreditando no conceito. Testemunhei um empresário famoso subir em uma das cadeiras e detonar na virtuose aérea junto ao grupo. Deve ser porque está na moda.
- Constatação 3: o pessoal que está na arquibancada gosta de jogar copos de cerveja sobre as pessoas que estão na área externa do camarote.
No final, não sei ainda se gostei do show. Virtuose demais, jams demais, gritos demais, música demenos. Talvez eu esteja sendo apenas um chato preconceituoso, mas ninguém merece horas e horas e horas de mais do mesmo.
Os fãs parecem mesmo ter curtido cada minuto de barulho incessante. Eu, no segundo bis, já estava gritando em direção do palco para que eles acabassem aquela coisa interminável de uma vez.
As cervejas? Bem, não sei. Perdi a conta na sexta latinha mas, no dia seguinte, estimava o dobro.
P.S. - tenho que agradecer ao grande fotógrafo Charles Naseh que, além de ceder as fotos que ilustram este texto, fez o grande favor de me tirar daquele buraco onde fica o estádio às duas da manhã. ;)
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