Música

Entrevista

Elis | " Não é TV, é cinema", defende diretor sobre a linguagem televisiva da cinebiografia musical

Produção apresenta principal fase de uma das vozes mais marcantes da música brasileira

23.11.2016, às 16H23.
Atualizada em 23.11.2016, ÀS 17H01

Nos últimos anos a história da música brasileira tem ganhado um bom espaço nas bilheterias nacionais. Com filmes como Tim Maia, Luiz Gonzaga: De pai para filhoCazuza, entre outros, o público tem tido a chance de redescobrir ou conhecer momentos importantes da história musical do país.

Seguindo essa tendência, estreia essa semana o longa Elis, dirigido por Hugo Prata, com Adréia Horta, como Elis Regina, mais a participação de Caco Ciocler (César Camargo Mariano), Lúcio Mauro Filho (Miéle) e um excelente trabalho de Ícaro Silva, como Jair Rodrigues. O longa, que vem a reboque do musical, Elis: A Musical, sucesso de público durante o período em que esteve em cartaz, apresenta um amplo panorama da vida da cantora, que começa em sua chegada ao Rio e termina com sua morte, aos 36 anos. O Omelete conversou com Hugo Prata e Andréia Horta sobre o processo de gravação e desenvolvimento do longa.

De entrada, tanto Prata quanto Horta declaram que são fãs de Elis antes mesmo de entrar no projeto. Andréia Horta confessa que com 14 anos cortou o cabelo "à la garçonne" e que sempre ouvia os discos da cantora. Prata, comenta que cresceu ouvindo Elis. "Minha  mãe e meu pai eram fãs e viveram toda aquela época dos festivais, frequentaram...", enfatiza.

Essa proximidade com o tema, leva à saga de como o diretor realizou a escolha das músicas que fariam parte do longa: "O critério era usar somente as músicas que levassem a história pra frente. Assim, alguns grandes sucessos ficaram de fora, mas o critério era sempre usar músicas que impulsionassem a história".

Ainda sobre as canções, utilizadas no longa em versões originais, Andréia Horta conta que foram uma ferramenta importante para sua preparação. "A preparação foi dividida em três categorias: Musical - que era só a parte de performance e de canto - corporal - que era levantar [ajustar] o corpo nas diversas fases - e a preparação vocal - que era a voz falada -. Então, quando a gente ia trabalhar as performances das músicas, nós nos apropriavámos do que aquela música era pra ela [Elis]. Quando a gente via ela cantando, isso clareava o caminho [...]", destaca.

Prata enfatiza que não só a música de Elis faz com que a história seja forte: "Forte, tudo é na vida da Elis. A gente tentou colocar as dificuldades que ela teve na vida. O peso que o sucesso dela trouxe à sua vida em uma fase tão complicada". E elucida um pouco do caminho escolhido para apresentar a vida da cantora, cobrindo um período tão longo com um foco tão amplo, "A gente foi selecionando eventos para construir essa narrativa, tentamos ir ao drama da protagonista. Falar apenas do sucesso dela seria chover no molhado". E crava que a ideia principal por trás do longa "é mostrar o drama da vida dela. Mostrar às pessoas como isso aconteceu. Como uma mulher forte, padeceu".

Em conjunto com essa necessidade da história, Prata descarta a ideia de que o longa apresenta uma linguagem televisiva, "Nosso filme é altamente cinematográfico. Não houve nenhuma preocupação em ser televisivo, não é televisão, é cinema". No entanto, a obra dialoga muito mais com a TV e parece emular a linguagem do cinema, o que pode ser uma forma menos turbulenta de chegar à televisão, como uma série, assim como aconteceu com outros projetos da mesma temática. Porém, o diretor é categórico quando diz que o filme nunca teve como objetivo ser produzido para se transformar em série. "Não vai virar série. Se a rede Globo fizer essa proposta, nós iremos analisar e ver se a gente consegue entregar isso, mas não foi feito pensando nisso".

Por fim, Prata fecha o tema afirmando que trabalhar em um projeto no qual a música é um fator importante "é uma ferramenta sensacional". E complementa, "Poder colocar as músicas da Elis, tão poderosas, tão profundas, ajuda. Talvez, no meu próximo filme, eu sinta falta dessa ferramenta".

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