É uma situação difícil escrever sobre um artista que retorna ao Brasil pouco tempo após sua última visita, sem lançar material inédito recentemente. Se o setlist se mantém basicamente o mesmo daquele utilizado na última passagem, fica ainda mais complicado. E quando essa situação se repete pela quarta vez em seis anos, é quase impossível não levantar algumas questões fundamentais quanto à relevância e às intenções do artista.
deep purple
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Esse é o caso do Deep Purple, que veio ao país pela quinta vez desde o lançamento de Rapture of the Deep (2005), seu último álbum de estúdio. Depois de passar por Belém, Fortaleza, Campinas, São Paulo e Belo Horizonte, encerraram a turnê brasileira em Curitiba, no Teatro Positivo, nesta quarta-feira, 12 de outubro. Surpreendentemente, após alguns minutos no palco, as questões levantadas no primeiro parágrafo pareciam não importar mais.
Na abertura, com o clássico "Highway Star" (como sido há anos), a platéia toda logo ficou em pé, e foi estabelecida uma atmosfera animada que se manteve durante todo o show. Em seguida, vieram as ótimas, porém menos conhecidas "Hard Lovin' Man" e "Maybe I'm a Leo", ambas inéditas em shows brasileiros, sendo que a primeira, apesar de lançada em 1970, teve sua primeira aparição ao vivo em 2010. Como os setlists do Deep Purple só sofrem pequenas alterações entre turnês, essas duas canções foram as únicas novidades.
Não demorou para o repertório entrar numa previsibilidade quase total, mas mesmo que os fãs ali pudessem adivinhar cada música que seria tocada em seguida, a relevância e o ineditismo pareciam não ser essenciais. A energia da banda era sempre contagiante, sem deixar aparente qualquer sinal de cansaço (ou idade), apesar de estarem no terceiro show consecutivo em três noites. Nem o vocalista Ian Gillan mostrava desgaste em sua voz (como se espera de qualquer cantor acima dos 60 anos), fazendo uma performance melhor do que suas anteriores em Curitiba, conforme evidenciado nas notas altas de "When a Blind Man Cries". Talvez para equilibrar o esforço de Gillan, o grupo alternava entre as faixas com longas seções instrumentais e aquelas que exigiam mais do vocal.
Os outros quatro integrantes exibiram nada menos do que total profissionalismo e compromisso com o som. Os solos do guitarrista Steve Morse e do tecladista Don Airey são essencialmente os mesmos apresentados há anos, mas não menos impressionantes e bem executados. Já o carismático baixista Roger Glover sempre faz pequenas alterações em seu solo antes de "Black Night", de acordo com a reação da platéia, rendendo o momento de maior interação com o público.
Ainda assim, a banda não mostrou-se fria com a plateia, mesmo em imprevistos como o que aconteceu durante o bis, em que grande parte da platéia saiu de seus assentos e se amontoou na frente do palco, que não tinha qualquer grade de separação. Evidentemente, os seguranças tentaram conter o público, mas foram rapidamente expulsos dele por Ian Gillan - arrancando urros e aplausos dos fãs. Ao fim da performance, Steve Morse distribuía palhetas à platéia, quando uma multidão novamente subiu ao palco para tentar tirar fotos com ele, até que ele conseguisse se desvencilhar. O Teatro Positivo se mostrou um local excelente para o show, com boa visibilidade e acústica de qualquer ponto da casa e, mesmo sem grade de separação, a invasão do palco não teve nenhuma consequência grave.
O Deep Purple apresentou os mesmos clássicos do rock que vêm sendo tocados há anos, mas a maioria das pessoas estava lá para isso. Certos fãs sempre exigirão material novo e que a banda altere seu repertório com mais frequência, mas não importa quantas vezes "Smoke on the Water" ou "Space Truckin'" são apresentadas, continua valendo a pena vê-las ao vivo, ao menos uma vez. Enquanto houver um público disposto a ver esse show, ele será mantido pela banda - e não há nenhum problema nisso.