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Curitiba Rock Festival - o show do Weezer

Curitiba Rock Festival - o show do Weezer

MP
03.10.2005, às 00H00.
Atualizada em 30.11.2016, ÀS 05H10

Weezer no CRF - Um tiro de 38
Matheus Pacheco e Fabiana Damasio

Sempre temos um amigo que fala que "bom mesmo foi o show tal, o melhor de minha vida". Invariavelmente é um show que não vimos e ficamos com a pulga atrás da orelha com este conceito de "show de uma vida".

Pois bem, três mil e quinhentos felizardos que estavam em Curitiba neste sábado, 24/09, podem afirmar, orgulhosamente, que viram o show de suas vidas.

Decerto que alguns ali devem ter preferido um ou outro espetáculo de alguma outra banda, mas ninguém pode discordar que o show do Weezer no Curitiba Rock Festival tem o potencial de ser o show da vida de qualquer pessoa.

Quais os requisitos básicos de um bom espetáculo de rock and roll? Vejamos:

  1. Empolgação por parte do público? Teve.

  2. Empolgação por parte da banda? Teve.

  3. Covers divertidos? Teve.

  4. Boa banda de abertura? Teve.

  5. Surpresas agradáveis? Várias.

  6. "Boua notche Couritchiba" e "Muto obrrrigadu"? Um monte.

  7. Qualidade técnica? Excelente.

  8. Qualidade musical? Demais.

  9. Momentos de suspense? Nem quem viu imagina.

De tudo um pouco aconteceu naquele paradoxal Curitiba Master Hall (uma casa de shows de primeiro mundo cuja única identificação é um cartaz feito à mão na porta?) no sábado. Do momento em que Gabriel Thomaz deixou o palco após a apresentação de sua espetacular Acabou La Tequila à volta para casa (ou para o hotel) através das surreais vizinhanças do bairro do Portão, tudo aconteceu de maneira paradoxalmente rápida e ao mesmo tempo cadenciada - como uma bala de revólver 38 em Matrix.

Logo o palco foi sendo desmontado e preparado enquanto a platéia começou a tardia - brasileiros que somos - e selvagem briga por um espaço decente para ver o show. Mal sabia a platéia que a briga no palco (em um momento entre a produção e os organizadores pelo excesso de imprensa no gargarejo, em outro para consertar - isso mesmo - os instrumentos em pleno palco, minutos antes do espetáculo) era talvez ainda mais intensa e selvagem.

Mas tudo se arranjou, as luzes se apagaram e entrou no palco o quarteto mais heterogêneo que se poderia planejar. Um nerd perdedor, um caminhoneiro, um roqueiro cabeludo e um motoqueiro caquético formam o que se pode categorizar de "a banda mais legal do mundo" (sinto muito, Dave Grohl).

De fato, Rivers Cuomo (vocais/guitarra), Patrick Wilson (bateria), Brian Bell (guitarra/teclados) e Scott Shriner (baixo) deixam suas diferenças comportamentais de lado e - como toda boa banda de colégio - se reúnem em nome da (boa) música, para criar arte, se divertir e ganhar dinheiro (e para alguns até mesmo mulheres e fama).

E quando sobem ao palco, amiguinhos...

Antes de mais nada, o invejável repertório que a banda tem, resultado de 13 anos de muito nerd-hard-rock-oitentista parido pelo cara mais brilhante a jamais usar um óculos de aro grosso na história. Qualquer banda com um menu daqueles para escolher não pode sair com um show ruim na praça. Pérolas como "Say It Aint So", "In The Garage", "Buddy Holly", "Island In The Sun e Undone (The Sweater Song)" foram os pilares ligados por "My Name Is Jonas", "Tired of Sex", "Dont Let Go", "This Is Such A Pity", "Perfect Situation", "Why Bother", "El Scorcho", "We Are All On Drugs", "The Good Life", "Beverly Hills", "Photograph", "Hash Pipe" e "Surfwax America", além do inusitado e excelentemente executado cover de Foo Fighters (banda com quem excursionarão ainda neste ano), "Big Me".

Até aí, apenas uma boa banda com um bom repertório. A coisa começa a mudar quando os músicos ficam mais sorridentes que o esperado com a reação da platéia, que cantou de ponta a ponta cada frase de cada música tocada - mesmo as mais novas, do recente disco Make Believe. Isto levou a mais energia da banda, que foi recompensada por ainda mais energia na reação do público, que anfetaminou a banda que... bem, vocês sabem aonde isto vai parar.

No bis (um dia alguém ainda me explica direito este conceito) foi onde a coisa saiu de controle, com um Rivers Cuomo seguro de si empunhando um violão no meio da platéia (ok, era a platéia vip, mas era platéia ainda assim) e executando uma bela e simples versão de "Island In The Sun" com backing vocals de 3500 pessoas.

E se isto já parecia totalmente excelente o que se sucedeu foi ainda mais absurdo.

Apaga-se o canhão de luz, acendem-se as luzes do palco onde a banda já está pronta, sem Rivers, e Brian, o guitarrista, pergunta - em inglês, aliás, como se estivessem tocando em Portland ou algo assim (e a platéia se comunicava talvez ainda melhor que a de Portland) - se alguém ali poderia ajudá-los tocando as partes de violão de Undone. Sobe ao palco um sujeito chamado (suponho) Leandro, a quem a banda se referia como "Riendrow" e, como num passe de mágica, a banda simplesmente escalou um fã zé-ninguém (com todo o respeito ao sujeito que não fez feio, em absoluto) para uma palhinha em cima do palco. Não preciso nem dizer que metade das bandas indie do país (ou pelo menos do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul) deve estar até agora batendo a cabeça na parede até sangrar.

Rolou até mesmo uma Cassetada do Faustão no palco num dado momento em que Rivers - empolgadíssimo em um espasmo poser - grudou-se de costas com o baixista na tradicional pose rock and roll farofão e, por uma sacanagem (só pode ser) de Scott, acabou embaçando (não existe termo mais adequado) de pernas para cima no palco, como só uma perereca epilética poderia.

Foi o auge.

Depois daquilo, "Hash Pipe" veio como uma catarse coletiva, em que a platéia podia agradecer à banda através do refrão, gritado até a exaustão (iminente naquele momento) por cada um presente. "Surfwax America" veio como o gol de sete a zero aos 46 do segundo tempo, aquele gol só para não deixar em dúvida o conceito de massacre - que já estava garantido.

O que ficou da noite foi uma excelente banda se divertindo com uma excelente platéia e a nítida impressão de que Rivers Cuomo é um gênio do marketing - vai me dizer que toda aquela cara de indefeso, aquela "fofura" nerd e aquela majestade ao palco não conquistam cada uma das mulheres presentes?

Bah...