Música

Crítica

Billie Eilish - When We All Fall Asleep, Where Do We Go?

Estreia de Billie Eilish introduz sonoridade e marca nova era do pop

01.04.2019, às 14H19.

Não há escassez real no cenário pop atual, principalmente quando se fala de jovens cantoras americanas. Mas mesmo quando não há carência, o surgimento de um novo nome pode abalar as estruturas do gênero com um elemento bem-vindo que ainda não fazia falta. Este é o caso de Billie Eilish, a jovem americana de 17 anos que lançou agora o seu primeiro álbum completo, When We All Fall Asleep, Where Do We Go?. A cantora já chamava atenção desde seu primeiro single, em 2015, mas o novo trabalho, mais do que o EP de 2017, Don’t Smile At Me, estabeleceu o estilo único de Billie com sua própria marca, e deve balançar os padrões do pop atual.

O álbum foi composto e produzido com auxílio do irmão de Billie, Finneas O’Connell, que gravou com a irmã em um pequeno estúdio caseiro. A sensação de uma realização simplista torna seus aspectos ainda mais admiráveis, desde a produção, que brinca com sons pouco vistos em um álbum de pop, até as letras surpreendentes de Eilish. When We All Fall Asleep, Where Do We Go? é sonoramente difícil de ouvir, já que Billie canta quase sussurrando, e se utiliza da maciez vocal para assustar o ouvinte com refrões que crescem subitamente. Mas durante toda a duração do disco, mesmo sobre piano ou batidas eletrônicas, é a voz e a poesia de Billie que criam o real peso.

When We All Fall Asleep, Where Do We Go? é uma representação perfeita do estilo criado por Eilish, algo como uma Marilyn Manson do pop. “Bury A Friend”, o terceiro single do álbum, traz ruídos perturbadores que casam perfeitamente com o clima sombrio de Billie, como aparelhos de dentista, vidros quebrando e outros sons bizarros que complementam a faixa perfeitamente. Em “My Strange Addiction”, Billie escolheu preencher momentos com diálogos retirados da série The Office. As escolhas servem tanto para complementar a ambientação do mundo de Billie como para relembrar a juventude da cantora, que apesar do peso melancólico do disco, ainda não pode beber ou votar nos EUA. Mas quando parte para faixas mais intimistas, ela dá profundidade à raiva adolescente de um jeito que poucas letristas fizeram até hoje. Ainda há uma sensação de amadurecimento e transição, mas os sentimentos em “I Love You” ou “Xanny” mostram uma mulher já perfeitamente consciente de seu próprio universo, e mais que capaz de torná-lo poesia. E quando a intenção é fazer pop tradicional sem impedimentos, Billie entrega melodias cativantes com a habilidade de poucos, como nas ótimas “Bad Guy” e “All The Good Girls Go To Hell”.

When We All Fall Asleep, Where Do We Go? é original, mas isso não significa desprovido de influências, já que sonoridades remetem a Kanye West, Lorde, Lana Del Rey e Arctic Monkeys. Mas a mistura é temperada pelo denso ambiente criado por Billie, e o resultado final é um álbum de uma nova era, que deve servir como exemplo para novos trabalhos do pop daqui para frente. Hoje, a cantora traz um elemento sombrio que faltava. Enquanto Lana Del Rey transita para um otimismo aéreo e Lorde caminha para um pop mais grandioso, é refrescante ver discípulas de estrelas surgindo para tomar um novo lugar, e estabelecer uma nova linha de pop.

Ao NYT, Billie falou sobre sua vontade de criar um novo som: “Eu não quero fazer parte do mundo pop, do alternativo, do hip hop, R&B ou o que quer que seja. Eu gostaria que fosse algo como... ‘que tipo de música você ouve?’ ‘Billie Eilish’”. A declaração pode ser pretensiosa, mas Eilish tem todo o direito de dizer isso. Depois de comprovar sua inovação em When We All Fall Asleep, Where Do We Go?, seu objetivo está mais que trilhado.

Nota do Crítico
Ótimo