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Snow Patrol – Wildness | Crítica

Irlandeses se afastam da grandiosidade e investem muito bem na melancolia

25.05.2018, às 16H07.

O novo álbum do Snow Patrol, Wildness, lançado hoje, dia 25, é quase que um comeback. Já se passaram sete anos desde o último trabalho de inéditas, Fallen Empires, e o grupo andou sumido desde 2011. Nos últimos tempos, o vocalista e principal compositor Gary Lightbody passou por bloqueios criativos, problemas com alcoolismo e lidou com a doença de seu pai, e apesar de ter sido programado para ser lançado em 2016, foi apenas dois anos depois do previsto que Wildness nasceu.

Instagram/reprodução

Os irlandeses do Snow Patrol construíram sua carreira nos holofotes como uma banda que saiu do indie rock e brit pop no começo dos anos 2000 e ascendeu claramente na busca de um som melancólico porém grandioso, algo que sempre gerou comparações com o Coldplay. O tempo se passou e a banda de Lightbody chegou a ser até motivo de piadas e críticas, quase como que um Nickelback do pop-rock. Independentemente disso, o grupo continuou sua trajetória criando hinos pop adorados por uma legião de fãs e recebidos com cautela pela crítica.

Quando divulgou o primeiro single em sete anos em março deste ano, depois de tanto tempo sumido, a banda deu a entender que seguiria no mesmo caminho que trilhava desde sua explosão no mainstream com Eyes Open, de 2006. “Don’t Give In”, a segunda faixa de Wildness, no entanto, é um exemplo peculiar do trabalho, trazendo possivelmente seu refrão mais pegajoso. De modo geral, o sétimo álbum dos irlandeses é mais sereno e profundo, e se distancia bastante de suas músicas mais poderosas e pop, como "Chasing Cars" e "Open Your Eyes".

“O novo álbum vem de muita busca interior, e da depressão que sofro desde que sou criança. Eu nunca falei sobre isso, sobre meu pai – que sofre de demência há alguns anos - ou sobre meu alcoolismo, e eu estou sóbrio há dois anos já”, disse o vocalista em entrevista à BBC Radio 2. A declaração explica a sonoridade de Wildness; um disco que transmite honestidade do começo ao fim.

Desta vez, a banda tirou o pé da batida de arena e entregou suas músicas mais pessoais, transparecendo confissões de seu compositor e soando como um dos trabalhos menos pretensiosos do grupo. A desaceleração, no entanto, não significa falta de possíveis hits; o primeiro single é forte e cativante, e o álbum ainda tem outros destaques na mesma direção, como “A Dark Switch” e “Wild Horses”. Mas sua excelência se encontra nas canções mais melancólicas, desde “Life On Earth”, “What If This Is All The Love You’ll Ever Get?” e “Soon”, a faixa que trata da doença do pai de Lightbody.

As músicas do novo álbum não apenas retratam questões pessoais de Lightbody. "Life On Earth", possivelmente a melhor música do disco, é um ótimo exemplo do que o Snow Patrol fez; criou canções que saem da individualidade mas atingem um nível universal. Wildness é uma reflexão pessoal de questões muito maiores, e conquista isso sem parecer forçado. 

No fim das contas a honestidade de Lightbody deu certo e o Snow Patrol criou uma ruptura arriscada louvável, até porque um dos fatores mais chamativos da banda é sua inofensividade. Explorando experiências reais e íntimas, Lightbody construiu um álbum com o som da sobriedade envolto em uma melancolia esclarecida.

Nota do Crítico
Ótimo