Man’s Best Friend já nasceu polêmico: sua capa foi problematizada pela posição de “inferioridade” em que Sabrina Carpenter se coloca frente a um homem sem rosto. O novo álbum da cantora, entretanto, consolida tanto a temática sarcástica que é cara à artista, e que já marcava Short n’ Sweet, quanto a sonoridade retrô.
Mesmo em seu trabalho anterior, Sabrina não deixava a menor dúvida de que tem o controle de sua vida amorosa. Para quem se esqueceu disso, nada melhor do que começar a nova era com “Manchild”, reforçando a mensagem tanto no título quanto nas letras: “Por que você tão sexy, se é tão idiota?”.
As alfinetadas para relacionamentos, passados ou hipotéticos, ditam o ritmo de Man’s Best Friend, que é costurado pela sensualidade de Sabrina — presente em quase todas as letras. Não que isso seja grande novidade para ela, afinal, falar de sexo é a base em que seu último álbum foi construído.
As novas faixas, assim, acabam soando como uma continuação do que a cantora já estabeleceu. Mas o álbum não chega a soar repetido ou repetitivo em relação ao antecessor – ao invés disso, ele amadurece uma assinatura. O exemplo mais claro é na musicalidade que alterna entre o country e a balada retrô, com grande foco no sintetizador em notas altas: essa identidade já estava lá em “Busy Woman” ou “Please Please Please”, mas é melhor desenhada na excelente “My Man on Willpower”, ou em “Goodbye”.
Por outro lado, “When Did You Get Hot?” imediatamente nos lembra de outras canções contemporâneas, descendo o tom dos instrumentais e crescendo nas batidas eletrônicas. Mesmo assim, a faixa não parece deslocada no disco, por ainda respeitar a acidez já característica — ou simplesmente porque Sabrina já nos colocou na coleira.
Talvez seu grande plano maligno tenha sido abrir as portas para esse mar de possibilidades. “Espresso” levou a cantora para o topo das prateleiras entre divas pops atuais, mas o próprio Short n’ Sweet já nos dizia que ela queria mesmo era brincar com as inspirações em ABBA e Dolly Parton.
Ao menos comercialmente, o projeto funciona: a última turnê viralizou com as poses de “Juno” e as vozes de prisão dadas a membros do público particularmente atraentes em cada show. A nova era começa gigante com “Manchild” estreando no topo da Billboard em junho, tornando o sucesso de Sabrina em uma indústria que parece autossustentável.
Man’s Best Friend assume riscos calculados e entrega bastante coerência em suas 12 faixas. Por trás de uma suposta fragilidade, Sabrina Carpenter mostra que, tanto em seus flertes quanto nas canções, há uma figura robusta e prontíssima para bater de frente com qualquer um.