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Crítica

Grizzly Bear - Painted Ruins | Crítica

Banda faz disco acessível sem abrir mão das canções elaboradas

18.08.2017, às 11H42.
Atualizada em 18.09.2017, ÀS 11H10

Cinco anos depois do ambicioso e denso Shields (2012), agora o Grizzly Bear voltou para provar que as ambições aumentaram ainda mais. Painted Ruins aprofunda os devaneios de Daniel Rossen e suas preocupações sobre a posição que sua banda ocupa no mundo do indie rock e - principalmente - sobre o mundo ao seu redor.

Num cenário musical de estilos cada vez mais mesclados, o rótulo “indie” não parece mais descrever com justiça o som do Grizzly Bear. E nem servia mais há 5 anos, quando Shields trouxe uma complexidade sonora que já tinha pouco a ver com o imediatismo do “indie”. O álbum era desafiador: camadas e mais camadas sonoras conduzindo o ouvinte por caminhos nada óbvios de estrutura e melodia.

Agora o desafio continua em Painted Ruins. Mais abstrato que Shields, - que ainda tinha momentos diretos e sublimes como "Yet Again" - o novo disco explora mais caminhos na mesma direção, chegando mais longe do que o anterior em complexidade e textura. Não quer dizer que o disco seja difícil de escutar - pelo contrário, é um espetáculo para os ouvidos - mas o novo trabalho não se revela de cara, é preciso amaciar os tímpanos para perceber aos poucos cada nuance que ele traz. E não são poucas.

Painted Ruins é, como sugere o título, um quadro do que significa estar vivo em 2017, com todas reviravoltas sociais e políticas que o mundo vive, ainda que não seja um disco propriamente político e sim reflexivo. É o ponto de vista individual sobre um cenário global e como a sonoridade complexa traduz essa visão. E isso é justamente o que deixa faixas como "Wasted Acres" e "Mourning Sound" tão interessantes: a banda consegue ambientar seus temas com elementos que criam cenários além dos próprios instrumentos, como sons de armas e caminhões fazendo um contraponto no mínimo inusitado com a base meio folk, meio new wave da música. O refrão surpreende com outra virada inesperada e o resultado é um dos singles mais interessantes do ano.

"Losing All Sense" e a caótica "Aquarian" (que começa conturbada e depois fica irresistivelmente grandiosa com seus ataques de guitarra à la Pink Floyd e Radiohead) são dois bons exemplos de como a banda continua e explorar novas sonoridades sem se preocupar - tanto - com o mercado e seu formato. São músicas mais soltas, quase progressivas, que respeitam o tempo necessário para a mensagem se concretizar e nada mais. Longas e lindas seções instrumentais pavimentam o caminho para que o vocal faça seu desfile, brindando o ouvinte com uma das mais belas surpresas de todo o disco.

"Neighbors" mantém acesa a chama da angústia que todos nós sentimos de vez em quando de que a vida passa rápido demais e, quando chegarmos lá na frente, o que teremos pra contar? “Quem sou eu abaixo da superfície?”, Rossen indaga. O lado bom disso tudo é que ele, apesar de não poupar questões filosóficas, não nos deixa refletir em silêncio. 

Painted Ruins é uma pequena obra de arte pronta para ser contemplada.

Nota do Crítico
Ótimo