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Crítica

...Like Clockwork - Queens of the Stone Age | Crítica

Instropecção e complexidade dão o tom no aguardado e estrelado álbum dos reis do stoner rock

24.05.2013, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H44

As canções de Josh Homme têm uma característica peculiar. Ao escutá-las pela primeira vez, elas soam confusas, estranhas, até mesmo poluídas por acordes distorcidos e barulho. Mas, depois de ouví-las por tempo suficiente para que seu cérebro se acostume aos riffs e ritmos pouco convencionais, é revelada uma quantidade e qualidade incrível de detalhes e nuances. Apesar de todo o amor de Homme por músicas repletas de camadas, tudo sempre foi mais simples em seu projeto principal, o Queens of the Stone Age. Não dessa vez. Em ...Like Clockwork, novo álbum da banda, o músico californiano abre as portas à complexidade.

O disco, que chega às lojas em 4 de junho, é o primeiro de inéditas desde 2007. Para Homme, o intervalo de quase seis anos foi marcado por pontos altos, como o Them Crooked Vultures (o supergrupo formado por ele, Dave Grohl e o ex-Led Zeppelin John Paul Jones). Entretanto, para o Queens, o período foi conturbado, culminando com a saída do baterista Joey Castillo. O sentimento de conflito é bem retratado no trabalho, que mistura a introspecção de Lullabies to Paralyze com a pegada suja de Era Vulgaris, os dois últimos discos do QOTSA.

As músicas da banda sempre tiveram quê de sombrio e caótico, mas poucas vezes esses lados estiveram tão presentes. O disco parece uma viagem pela mente de uma pessoa que está a beira de perder sua sanidade. Na solidão dos pianos de "The Vampyre of Time and Memory" e da faixa-título "...Like Clockwork", na euforia dos sintetizadores da belíssima "Kalopsia" e no grito de desespero de "I Appear Missing". “Me dê um choque acordado/me rasgue em pedaços/fixado como uma nota dentro de uma roupa de hospital”, diz a letra desta última.

Com quase metade do álbum voltado a músicas lentas, ...Like Clockwork é econômico nos riffs e baterias nervosas que fizeram a fama do QOTSA. "My God is the Sun" (que estreou no show do Lollapalooza deste ano) e "Smooth Sailing" são as músicas mais pesadas do álbum. A primeira lembra a pegada stoner dos clássicos do grupo e a segunda, com linhas robóticas de guitarra, relembra o lado freak de faixas como "I’m Designer", de Era Vulgaris.

Nos riffs de "Keep Your Eyes Peeled" e "If I Had a Tail", a banda também volta a formas mais conhecidas, com guitarras distorcidas e boas melodias vocais. Já a balada "I Sat by the Ocean" é claramente pensada como a música a ser tocada em rádios e setlists mundo afora, cumprindo esse papel com maestria.

Como de costume, o QOTSA é acompanhado por músicos famosos toda vez que entra no estúdio. A lista de colaboradores é a mais estrelada da discografia: Alex Turner (Arctic Monkeys), Jake Shears (Scissor Sisters), Trent Reznor (Nine Inch Nails), Nick Oliveri (ex-baixista do Queens), Dave Grohl (reeditando a parceria do cultuado Songs for the Deaf) e até mesmo Elton John participaram do álbum -- isso, claro, sem contar figuras carimbadas como o guitarrista/baixista Alain Johannes e o vocalista Mark Lanegan. E, como de costume, eles se integram tão bem as faixas que chega a ser difícil reconhecê-los por debaixo das inúmeras camadas sonoras. Nas pirações vocais de "Fairweather Friends" se encontram o maior número de participantes: lá estão John, Reznor, Oliveri, Lanegan e até a própria esposa de Homme, Brody Dalle (The Distillers e Spinerette).

Por debaixo de todos os detalhes, das faixas carregadas de sentimento e da consagrada lista de colaboradores, o toque final continua sendo de Homme, em sua capacidade única de unir artistas e ideias tão diferentes em um punhado de músicas riquíssimas em nuances. Como os trabalhos mais recentes de Homme, ...Like Clockwork não é um álbum fácil de se gostar, mas o tempo e a paciência fazem suas canções se desabrocharem na qualidade e competência que se espera de um dos maiores nomes do rock na atualidade.

Nota do Crítico
Bom