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Crítica

Bloc Party - Four | Crítica

Grupo inglês transita entre passado e presente no quarto disco

29.08.2012, às 00H00.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 18H08

A história é clichê: uma banda de rock estoura logo no primeiro álbum e não consegue reproduzir o sucesso da estreia, seja repetindo a dose ou buscando uma nova cara para o seu som. No caso do Bloc Party, some à equação um hiato de dois anos e incertezas sobre o futuro. O resultado é o álbum Four, que registra a encruzilhada espiritual na qual o quarteto inglês se encontra: em alguns momentos, flerta com o passado, e em outros, parece continuar a busca por uma sonoridade diferente.

A crise de identidade é acentuada pelo grande êxito do trabalho de estréia, Silent Alarm (2005), cujas harmonias milimétricas e batidas nervosas alçaram o grupo a um lugar de destaque na cena indie. Desde então, eles não conseguiram alcançar o mesmo nível nos discos seguintes: o segundo, A Weekend in the City (2007) foi uma boa tentativa, e o terceiro, o experimental Intimacy (2008), nem tanto.

Apesar do ritmo com o freio de mão puxado em "So He Begins to Lie" e "Kettling", o novo álbum ensaia um retorno à velha forma, principalmente por conta dos riffs de intervalos cravados do guitarrista solo Russell Lissack; com maior destaque no single "Octopus" e na um pouco mais pesada "Team A". Ainda há também a frenética "3x3", com melodias de refrão caprichadas e acompanhadas por um inspirado vocal de Kele Okereke.

Entretanto, a inspiração nostálgica para por aí. A boa seqüência do trio inicial de músicas é completamente quebrada pela repetitiva balada "Real Talk" e, daí em diante, volta a procura por uma sonoridade diferente. Mesmo tentando manter uma identidade nos timbres, o quarteto atira para todos os lados: as afinações alternativas de "Coliseum" e "We Are Not Good People" tem uma pitada de stoner, grunge e trash, enquanto os limpos arpejos e o reverb de "Day Four" parecem ter sido retirados de uma jam session do Coldplay.

O disco também tenta algumas canções bonitinhas à moda de "This Modern Love". O grupo quase chega lá na promissora "V.A.L.I.S.", fica no meio do caminho em "Truth" - salva pela performance vocal de Okereke - e falha miseravelmente na inocente "The Healing".

Ao menos, é um alívio constatar que o grupo deixou de lado as vertentes eletrônicas do álbum anterior e apostou em um som mais direto, bruto com o clássico trio guitarra-baixo-bateria. A pegada rústica veio de Bleach (1989), do Nirvana. Em entrevista à Spinner, o vocalista Kele Okereke afirmou ter ouvido muito o disco durante as gravações, apesar de dizer que a inspiração ficou só na parte de engenharia de som, sem chegar às composições.

Por conta das esquizofrenias entre as faixas, Four transita entre a vontade da mudança e o conformismo de quem já sabe que não vai conseguir superar um trabalho anterior. Mesmo não sendo o esperado retorno triunfal do quarteto e, mais uma vez, não alcançar a excelência de hits como "Helicopter", "Banquet" e "She’s Hearing Voices", do primeiro disco, o som mais simples e alguns lampejos de excelência mostram que eles podem estar no caminho certo.

Nota do Crítico
Bom